[ANPPOM-Lista] UnB instala Comissão da Verdade com depoimento inédito

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Seg Ago 13 00:51:14 BRT 2012


MEMÓRIA E VERDADE - 10/08/2012

Professor baiano surpreendeu os presentes na cerimônia ao narrar
depoimentos que reforçam a suspeita de que Anísio Teixeira, fundador da
Universidade, foi assassinado pelo regime militar
Débora Cronemberger <debcronemberger em gmail.com> - Da Secretaria de
Comunicação da UnB

http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6934

Um pedaço sombrio da história do Brasil começou a ser esclarecido no final
da manhã desta sexta-feira, 10 de agosto. Quatro décadas após ser
encontrado sem vida no fosso de um elevador, no Rio de Janeiro, um
depoimento inédito pode mudar a versão oficial da morte de Anísio Teixeira,
fundador da Universidade de Brasília e um dos nomes mais importantes da
educação brasileira.

O relato, feito inesperadamente durante a instalação da Comissão da Verdade
da instituição dirigida por Anísio Teixeira de junho de 1963 a abril de
1964, reforçou a importância da criação desta instância de investigação
pelo reitor José Geraldo de Sousa Junior. Batizada com o nome do educador,
a Comissão da Verdade nasce cumprindo seu propósito principal: resgatar a
verdade de fatos ocorridos durante o regime militar, entre eles os
desaparecimentos dos alunos do campus Darcy Ribeiro Honestino Guimarães,
Ieda Santos Delgado e Paulo de Tarso Celestino.

Ao pedir a palavra, durante a cerimônia, João Augusto de Lima Rocha,
professor da Universidade Federal da Bahia, surpreendeu os cerca de 150
docentes, alunos e autoridades presentes. Na tribuna do auditório da
Reitoria, o professor revelou o conteúdo de três depoimentos colhidos por
ele nos anos seguintes ao sepultamento do pioneiro da Educação Nova.

As narrativas reforçam a suspeita de que Anísio Teixeira foi assassinado
pelo regime militar, ao contrário do que relatam os documentos da época. O
professor João Augusto afirma ter ouvido de Luiz Viana Filho, governador da
Bahia quando Anísio Teixeira foi encontrado morto, que o educador foi preso
no dia 11 de março de 1971 e levado para o quartel da Aeronáutica.

A data é a mesma em que o educador desapareceu, após sair em direção à casa
do filólogo Aurélio Buarque de Holanda, localizada no edifício Duque de
Caxias, na Praia do botafogo, número 48. O corpo foi encontrado no fosso do
elevador dois dias depois, em 13 de março. “Em dezembro de 1988, Luiz Viana
Filho me confessou que Anísio foi preso no dia que desapareceu e levado
para o quartel da Aeronáutica, em uma operação que teve como mentor o
brigadeiro João Paulo Burnier, figura conhecida do regime militar e que
tinha o plano de matar todos os intelectuais mais importantes do Brasil na
época”, disse João Augusto, no auditório da Reitoria.

De acordo com os relatos de policiais da 10ª Delegacia de Polícia,
responsáveis pela investigação do caso à época, Anísio Teixeira estava “de
cócoras, com a cabeça junto aos joelhos, sob um platô de cimento armado,
meio metro acima do fundo do poço”. Havia ferimentos na base da cabeça e no
rosto e respingos de sangue na parte interna da casa de força. Pasta de
documentos e óculos estavam intactos ao lado do corpo. Os depoimentos dos
agentes estão detalhados na edição de 15 de março do jornal Última Hora.
Leia aqui.
Paulo Castro/UnB Agência Instalação da Comissão marca final do mandato do
reitor José Geraldo

Além do testemunho de Luiz Viana Filho, João Augusto ouviu dois legistas
que viram o corpo de Anísio Teixeira durante a necrópsia. “Os médicos
Afrânio Coutinho e Clementino Fraga Filho tiveram acesso ao corpo de Anísio
devido a um engano do Exército. No dia que o corpo de Anísio foi encontrado
no fosso do elevador, um militar havia se suicidado no mesmo bairro. Quando
o rabecão passou para pegar o corpo do oficial, pessoas do prédio onde
Anísio foi localizado pediram que levassem o corpo”, contou. “Se soubessem
quem era, talvez a necropsia não tivesse ocorrido”.

De acordo com o professor, Afrânio e Clementino afirmaram que os graves
ferimentos de Anísio Teixeira jamais poderiam ter resultado de uma queda no
fosso do elevador. “Ele teve todos os ossos quebrados, o que seria
impossível acontecer com a queda no fosso”, contou o professor à plateia,
que, perplexa, ouvia atentamente e em silêncio. Leia aqui reportagem da
revista DARCY sobre a trajetória de Anísio
Teixeira.<http://www.revistadarcy.unb.br/?page_id=1156>

Nenhum dos depoimentos foi gravado. Luiz Viana Filho e Afrânio Coutinho
morreram, o primeiro em 1990 e o segundo dez anos depois. Clementino Fraga
Filho é o único ainda vivo. “Eles não aceitaram fazer o registro”, disse o
professor. “Era uma outra época. As pessoas tinham medo de falar. A própria
família de Anísio tinha receio, mas os filhos querem agora reaver essa
história”, comentou João Augusto. Segundo ele, Clementino está com 94 anos.
“Vou tentar convencê-lo a falar publicamente sobre o que me disse”,
completou.

João Augusto, que participou da cerimônia porque estava em Brasília para
uma reunião da Federação de Sindicatos de Professores de Instituições
Federais de Ensino Superior (Proifes) e viu o anúncio da instalação da
Comissão da Verdade, revelou ainda que Afrânio Coutinho confidenciou ter
escrito um texto contando a história da necropsia. O material, segundo o
professor, teria sido deixado na sede da Academia Brasileira de Letras com
a recomendação de que fosse tornado público apenas em 2021. “Passei 20 anos
em busca de provas destas histórias. Ao saber da criação da Comissão,
percebi que era hora de contar”, disse. Leia aqui entrevista com o
professor em que narra em detalhes o que
ouviu.<http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6935>
Paulo Castro/UnB Agência Depoimento do professor João Augusto sobre morte
de Anísio Teixeira surpreendeu coordenadora do Comitê da Verdade do
Distrito Federal

*NOVO SIGNIFICADO – *O relato do professor da Universidade Federal da Bahia
surpreendeu participantes da cerimônia e conferiu significado ainda mais
amplo à Comissão da Verdade da UnB. “Não conhecia esses depoimentos sobre a
morte de Anísio. É um caso para se investigar. Inclusive podemos trabalhar
em conjunto com a Comissão da Verdade da UnB”, disse Gilnei Viana, da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. “Esse pode ser
o nosso fio da meada. Além da importância inquestionável para a UnB, Anísio
Teixeira é um dos principais nomes da história da educação brasileira”,
comentou o coordenador de investigação da Comissão da Verdade Anísio
Teixeira, o professor do Instituto de Ciências Humanas José Otávio Nogueira
Guimarães.

Iara Xavier Pereira, da coordenação do Comitê da Verdade do Distrito
Federal, afirmou que sempre houve dúvidas quanto à morte de Anísio
Teixeira. “Sempre houve suspeita, mas nunca surgiu nada concreto. Esses
depoimentos, citados pelo professor, são novidade”, disse.

Criada para investigar os casos de repressão que envolvem a UnB, a Comissão
Anísio Teixeira conta com 11 integrantes, entre professores e ex-alunos
vítimas do período da repressão e tem como presidente o ex-reitor Roberto
Aguiar. É a primeira Comissão com esta finalidade criada por uma
universidade brasileira. Leia aqui depoimentos de vítimas da ditadura
militar narrados durante a instalação da
Comissão.<http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6935>

*TRABALHO CONJUNTO –* José Geraldo abriu a cerimônia com mensagem enviada
por Paulo Sérgio Pinheiro, membro da Comissão Nacional da Verdade,
instalada pela presidenta Dilma Rousseff em maio deste ano para elucidar os
crimes do período da repressão em âmbito nacional. “Afirmo meu desejo de
ajudar a estreitar todos os vínculos de cooperação com a Comissão Nacional
da Verdade, que tem o poder de convocar qualquer cidadão, assim como tem
acesso a todos os documentos existentes em nosso país em qualquer nível de
acesso que estejam. Creia que nossa competência está à plena disposição da
Comissão da Memória e Verdade Anísio Teixeira para a realização plena de
seus objetivos”, disse na carta. Para José Otávio Guimarães, essa
possibilidade de convocar pessoas para depor será fundamental para os
trabalhos.

O reitor José Geraldo ressaltou que a Comissão Anísio Teixeira surge com a
proposta de complementaridade com os trabalhos da Comissão Nacional da
Verdade. “Não há redemocratização plena se não resgatarmos a memória desta
experiência. Ocultamentos nos levam a incidir sobre novos desvios”, disse.
Outra característica apontada por ele é o aproveitamento de experiências e
trabalhos realizados sobre o tema. José Geraldo citou como exemplo a
reedição do livro Universidade Interrompida, de Roberto Salmeron, dentro
das comemorações do jubileu da UnB.
*
*
Paulo Castro/UnB Agência

Mateus Guimarães, sobrinho do líder estudantil Honestino Guimarães, que
estudou Geologia na UnB e desapareceu em 1973, acrescentou outro aspecto
que ele considera fundamental para orientar os trabalhos da Comissão da
Verdade. “O resultado final mais importante será resgatar o projeto
universitário idealizado pelos fundadores da UnB, tão necessário e
fundamental para um país como o nosso”, disse Mateus. “Um projeto baseado
no princípio da emancipação de pessoas”, acrescentou José Geraldo.

Cristiano Paixão, coordenador de relações institucionais da Comissão da
UnB, destacou o interesse que o resgate da memória e da verdade desperta
entre várias gerações. “É impressionante a atenção que estudantes nascidos
após a Constituição de 1988 dão a esse tema. A maior contribuição que
podemos dar se insere na dimensão do aprendizado”, afirmou. Paulo Abrão,
secretário nacional de Justiça, elogiou a iniciativa pioneira da UnB. “A
Comissão de Anistia do Ministério da Justiça deve muito à Universidade de
Brasília. Boa parte dos membros da Comissão se formaram aqui ou são
professores daqui”, destacou em seu pronunciamento.
Edu Lauton/UnB Agência Estudantes lotam auditório com máscaras com a imagem
do rosto de Honestino Guimarães, alunos desaparecido durante o regime
militar

*
E SE HONESTINO ESTIVESSE AQUI –* A cerimônia foi marcada também por
manifestação de estudantes. Usando máscaras com a imagem do rosto de
Honestino Guimarães, em uma manistação que chamaram “Movimento Honestinas”,
os alunos distribuíram panfletos para divulgar a idéia da chapa Honestino
Guimarães de “não candidato” à reitoria da UnB. Atualmente, está em curso
no campus consulta organizada pelos três segmentos da Universidade para
escolha do próximo reitor. A lista será levada ao Conselho Universitário, a
quem cabe elaborar lista tríplice de indicados destinada à Presidência da
República. Quatro dos candidatos estiveram presentes à cerimônia: João
Batista de Sousa, Márcia Abrahão, Paulo César Marques e Volnei Garrafa.

Na entrada do auditório, os estudantes afixaram cartazes com a pergunta: “O
que faria Honestino Guimarães se fosse reitor da UnB?” “Essa pergunta me
deixou abalado”, disse Paulo Abrão no final da cerimônia. “Eu acho que se
Honestino fosse reitor da UnB. Ele faria o mesmo que José Geraldo: criaria
a Comissão da Verdade da UnB”.

A primeira reunião da Comissão será marcada na próxima semana. A partir da
próxima segunda, a UnB promove festival de cinema para divulgar a Comissão
Anísio Teixeira. Saiba mais
aqui.<http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6933>
-- 
carlos palombini
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