[ANPPOM-Lista] Bolsa CNPq de Doutorado no Exterior (GDE)

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Seg Dez 10 18:39:54 BRST 2012


Olá, Damián

2012/12/10 Damián Keller <musicoyargentino em gmail.com>

Oi Carlos,
>
> Em termos gerais concordo com as tuas colocações. Acho que a diferença
> principal dos nossos argumentos está no nível de abrangência. Eu falo
> em <agências de fomento> e em problemas regionais porque estou
> questionando a distribuição do orçamento e do apoio para nossa área
> como um todo, com ênfase na situação da região Norte e de alguns
> estados do Nordeste (Maranhão, por exemplo).
>
> Os dois sintomas mais claros da política atual orçamentária são:
> 1. inexistência da pós em música na região Norte
> 2. exclusão de propostas da área de música dos editais regionais por
> <não atender as prioridades> das agências de fomento
>
> Por isso não posso concordar quando vc coloca que os grupos de
> universidades periféricas...
> > são favorecidos, no CNPq, pelas cotas para regiões em desenvolvimento.
>
> Na nossa área a realidade não é essa. É possível que as agências
> estejam colocando isso em prática em saúde, biotecnologia e engenharia
> (veja o INPA e o INPE), mas essas <cotas> claramente não incluem
> pesquisa nas indústrias criativas (que, por sinal, foram definidas
> como área de pesquisa prioritária pelo MEC).
>
> Cabe se perguntar, então, por que as agências não apoiam o
> desenvolvimento da pós e da pesquisa em música nas universidades
> periféricas?. Eu suspeito que por dois motivos:
> 1. a produção da nossa área não aparece nos indicadores que a Capes, o
> CNPq, a FINEP e as demais agências usam para calcular a alocação de
> orçamento
> 2. a prioridade é definida pelo impacto econômico direto da pesquisa e
> não pelo impacto social
>
> As propostas que foram colocadas aqui na lista (por ex. sugestões do
> Silvio Ferraz) atenderiam o primeiro item. A ideia seria adequar o
> formato de referência para que a nossa produção seja considerada na
> hora de argumentar o aumento do apoio para a área de música. É
> importante destacar que o que mudaria não seria nossa pesquisa mas a
> forma como ela referenciada. Essa já é uma prática que existe
> internacionalmente e que está sendo adotada pelas editoras. Por
> exemplo, o DOI: objeto identificador digital é usado para referenciar
> artigos. Nada impede adotar um formato similar para referenciar obras,
> partituras, documentação de performances, etc.
>

A meu ver há um impedimento sim. Tratar-se-ia, mais uma vez, da adoção,
pela área artística, de critérios científicos. A Musicologia, que não
consta na tabela do CNPq (uma aberração pela qual somos os exclusivos
responsáveis), se insere sem dificuldade aí, ou melhor, com as dificuldas
intrínsecas às Ciências Humanas. Avaliar compositores e intérpretes em
moldes equivalentes é a aberração correspondente. Decorre de ambas em
considerável medida o estado da arte. E decorre do estado da arte a falta
de argumentos em prol de verbas.


> O item 2 é identificável na insistência nos discursos e no peso que é
> dado para o registro de patentes. Essa é uma visão imediatista da
> pesquisa. Em música temos dezenas de exemplos de trabalhos que têm
> impacto na saúde, no desenvolvimento pessoal e nos vínculos
> comunitários. Essa visão imediatista das agências força a definição de
> prioridades orçamentárias em função da demanda (número de propostas)
> em lugar do impacto social das propostas. Por exemplo, como se
> justifica a seguinte alocação de recursos do CNPq?:
>  Sudeste 45,82%
>  Sul 20,76%
>  Nordeste 18,40%
> Centro Oeste    9,74%
>  Norte  5,28%
> Se na região Sudeste já existem agências com orçamento significativo
> como a Fapesp, a Faperj e a Fapemig, por que o CNPq aloca quase a
> metade dos recursos para o Sudeste e um ínfimo 5% para o Norte?
>

Como disse, argumentos em prol da alocação de verbas para a área (não tenho
elementos para discutir o problema das regiões) me parecem dependentes de
resultados (e não de patentes ou de seus equivalentes "artísticos").
Enquanto a área insistir em mensurar-se por padrões equivocados, ela será
insignificante.


> Concordo completamente com a tua descrição:
> > Não há nada mais frustrante que gastar o próprio tempo
> na justificativa da reprovação de um projeto que não atende ao edital, que
> foi apressadamente requentado (às vezes, sem que o nome da agência à qual
> foi anteriormente dirigido tenha sido sequer trocado), que não demonstre
> qualquer preocupação com o estado da arte das discussões em torno do
> problema, que não tenha sequer um problema de pesquisa, que não tenha mesmo
> bibliografia, cuja bibliografia consista exclusivamente de publicações do
> proponente, ou que tenha a recomendá-lo as hipérboles estereotipadas com as
> quais o autor descreve seu próprio trabalho.
>
> Olhando para o mesmo problema desde o outro lado, são justamente esses
> itens que precisam constar no parecer. Enquanto no nosso grupo
> recebemos pareceres pormenorizados e fazemos argumentações (evitando
> insultos ;-) para conseguir publicações, até hoje não recebemos 1
> parecer das agências de financiamento que nos ajudasse a melhorar as
> propostas. O que eu, como pesquisador iniciante, espero de uma
> resposta negativa é a identificação precisa dos erros teóricos e
> metodológicos do trabalho. O objetivo de uma submissão não é (somente)
> obter verba, é avançar nos esforços conjuntos da área.
>

De minha parte, me comprometo a me esforçar por atender sua solicitação.


> De novo tenho que concordar com tua sugestão:
> > É evidente que não temos produção para alimentar tantos periódicos, não
> importa como a Capes os classifique. É bom, em certas circunstâncias,
> submeter-se a desafios, e tentar veículos mais seletivos.
>
> Justamente porque não podemos desperdiçar esforços, as indicações da
> Capes não podem ser contraditórias. Classificar revistas de circulação
> limitada como nível A1 e ao mesmo tempo excluir algumas das principais
> referências da área de música não ajuda para aumentar a credibilidade
> da nossa produção. O que eu posso falar para meu colega da física
> quando ele me pergunta por que eu publico em revistas que não atingem
> 1 ponto no sistema JCR (como é o caso do JNMR, Leonardo Music Journal
> ou Organised Sound) e que a Capes não considera de nível A1?
>

Em seu lugar eu utilizaria a tabela da Capes com o discernimento
necessário. Não me sinto à vontade para criticá-la. A representante da área
me convidou para participar de sua elaboração em 2009. Eu estava saindo
para pós-doutorado, e tive que abandonar o grupo.

Abraço,
Carlos
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