[ANPPOM-Lista] Bolsa CNPq de Doutorado no Exterior (GDE)

Damián Keller musicoyargentino em gmail.com
Seg Dez 10 15:12:09 BRST 2012


Oi Carlos,

Em termos gerais concordo com as tuas colocações. Acho que a diferença
principal dos nossos argumentos está no nível de abrangência. Eu falo
em <agências de fomento> e em problemas regionais porque estou
questionando a distribuição do orçamento e do apoio para nossa área
como um todo, com ênfase na situação da região Norte e de alguns
estados do Nordeste (Maranhão, por exemplo).

Os dois sintomas mais claros da política atual orçamentária são:
1. inexistência da pós em música na região Norte
2. exclusão de propostas da área de música dos editais regionais por
<não atender as prioridades> das agências de fomento

Por isso não posso concordar quando vc coloca que os grupos de
universidades periféricas...
> são favorecidos, no CNPq, pelas cotas para regiões em desenvolvimento.

Na nossa área a realidade não é essa. É possível que as agências
estejam colocando isso em prática em saúde, biotecnologia e engenharia
(veja o INPA e o INPE), mas essas <cotas> claramente não incluem
pesquisa nas indústrias criativas (que, por sinal, foram definidas
como área de pesquisa prioritária pelo MEC).

Cabe se perguntar, então, por que as agências não apoiam o
desenvolvimento da pós e da pesquisa em música nas universidades
periféricas?. Eu suspeito que por dois motivos:
1. a produção da nossa área não aparece nos indicadores que a Capes, o
CNPq, a FINEP e as demais agências usam para calcular a alocação de
orçamento
2. a prioridade é definida pelo impacto econômico direto da pesquisa e
não pelo impacto social

As propostas que foram colocadas aqui na lista (por ex. sugestões do
Silvio Ferraz) atenderiam o primeiro item. A ideia seria adequar o
formato de referência para que a nossa produção seja considerada na
hora de argumentar o aumento do apoio para a área de música. É
importante destacar que o que mudaria não seria nossa pesquisa mas a
forma como ela referenciada. Essa já é uma prática que existe
internacionalmente e que está sendo adotada pelas editoras. Por
exemplo, o DOI: objeto identificador digital é usado para referenciar
artigos. Nada impede adotar um formato similar para referenciar obras,
partituras, documentação de performances, etc.

O item 2 é identificável na insistência nos discursos e no peso que é
dado para o registro de patentes. Essa é uma visão imediatista da
pesquisa. Em música temos dezenas de exemplos de trabalhos que têm
impacto na saúde, no desenvolvimento pessoal e nos vínculos
comunitários. Essa visão imediatista das agências força a definição de
prioridades orçamentárias em função da demanda (número de propostas)
em lugar do impacto social das propostas. Por exemplo, como se
justifica a seguinte alocação de recursos do CNPq?:
 Sudeste 45,82%
 Sul 20,76%
 Nordeste 18,40%
Centro Oeste	9,74%
 Norte	5,28%
Se na região Sudeste já existem agências com orçamento significativo
como a Fapesp, a Faperj e a Fapemig, por que o CNPq aloca quase a
metade dos recursos para o Sudeste e um ínfimo 5% para o Norte?

Concordo completamente com a tua descrição:
> Não há nada mais frustrante que gastar o próprio tempo
na justificativa da reprovação de um projeto que não atende ao edital, que
foi apressadamente requentado (às vezes, sem que o nome da agência à qual
foi anteriormente dirigido tenha sido sequer trocado), que não demonstre
qualquer preocupação com o estado da arte das discussões em torno do
problema, que não tenha sequer um problema de pesquisa, que não tenha mesmo
bibliografia, cuja bibliografia consista exclusivamente de publicações do
proponente, ou que tenha a recomendá-lo as hipérboles estereotipadas com as
quais o autor descreve seu próprio trabalho.

Olhando para o mesmo problema desde o outro lado, são justamente esses
itens que precisam constar no parecer. Enquanto no nosso grupo
recebemos pareceres pormenorizados e fazemos argumentações (evitando
insultos ;-) para conseguir publicações, até hoje não recebemos 1
parecer das agências de financiamento que nos ajudasse a melhorar as
propostas. O que eu, como pesquisador iniciante, espero de uma
resposta negativa é a identificação precisa dos erros teóricos e
metodológicos do trabalho. O objetivo de uma submissão não é (somente)
obter verba, é avançar nos esforços conjuntos da área.

De novo tenho que concordar com tua sugestão:
> É evidente que não temos produção para alimentar tantos periódicos, não importa como a Capes os classifique. É bom, em certas circunstâncias, submeter-se a desafios, e tentar veículos mais seletivos.

Justamente porque não podemos desperdiçar esforços, as indicações da
Capes não podem ser contraditórias. Classificar revistas de circulação
limitada como nível A1 e ao mesmo tempo excluir algumas das principais
referências da área de música não ajuda para aumentar a credibilidade
da nossa produção. O que eu posso falar para meu colega da física
quando ele me pergunta por que eu publico em revistas que não atingem
1 ponto no sistema JCR (como é o caso do JNMR, Leonardo Music Journal
ou Organised Sound) e que a Capes não considera de nível A1?

Abraços,
Damián


-- 
Dr. Damián Keller
NAP, Universidade Federal do Acre / Amazon Center for Music Research
(NAP), Federal University of Acre / http://ccrma.stanford.edu/~dkeller



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