[ANPPOM-Lista] Posição de docentes quanto às politicas de cotas

Ale Fenerich fenerich em gmail.com
Qui Dez 27 12:49:09 BRST 2012


Caro Mannis e demais colegas,


Gostaria de expor minha pobre análise a este respeito de modo bem direto,
sem a elegância de sua mensagem mas de forma explícita.

No trabalho que temos desenvolvido na Federal de Juiz de Fora, o sistema de
cotas traz desafios muito grandes para os docentes. De fato temos classes
cujos alunos possuem diversos níveis de maturidade musical. Isso faz com
que tenhamos que elaborar estratégias diversas para tentar sanar essa
desigualdade, muitas vezes profunda. Há alunos, por exemplo, com
dificuldades imensas em assuntos muito básicos, da educação fundamental.
Como professores de música, nossa obrigação é tentar contornar estes
problemas, e nem sempre é fácil, pois estas lacunas se refletem no modo
como aprendem.

Entretanto, em comparação com a minha própria formação, realizada na
Unicamp nos anos 90, temos hoje uma estrutura social mais horizontal, na
qual há menos competição entre os alunos e mais colaboração entre eles,
principalmente entre os cotistas. Há também uma distância entre os alunos
"profissionais" de música e aqueles que tiveram menos recursos de formação,
a qual temos que tentar equilibrar. Esta distância passa por uma arrogância
de alguns alunos mais maduros musicalmente (e talvez menos maduros enquanto
cidadãos), os quais desprezam os demais e, consequentemente, acabam por
desprezar o curso e os esforços de aprendizado geral.

Enfim, são notas sobre um panorama geral, nas quais observo mais valores
positivos que negativos. São o preço de uma democratização do ensino
superior realizada talvez de forma um pouco canhesca no Brasil, mas que
talvez tenha resultados positivos em 10, 15 anos. Assim espero.

Colegas de federais, alguma opinião a respeito?

Um abraço!


Em 26 de dezembro de 2012 15:26, <jamannis em uol.com.br> escreveu:

> ** **
>
> ** **
>
> O editorial desta data (26/12/2012) OESP, especificamente “Cotas nas
> universidades paulistas”, cita posição de colegiados e de ‘vários docentes’
> das universidades estaduais paulistas de uma maneira que me causou
> estranhamento.  ****
>
> ** **
>
> Cito excerto: *“.../ Historicamente, os órgãos colegiados da USP, Unicamp
> e Unesp sempre foram contrários à adoção de políticas de cotas nos
> vestibulares, alegando que elas distorcem os resultados dos exames,
> comprometem o princípio de mérito e colocam em salas de aula alunos
> despreparados.**  Vários docentes receberam com reservas esse programa de
> inclusão social. Serão decisivas as reuniões das congregações das
> faculdades mais importantes, como as de Medicina, Direito e Engenharia.
> /...”*
>
> * *
>
> Sou membro de vários colegiados em minha universidade, em vários niveis, e
> tenho claro em minha memória que em todas as oportunidades em que ocorreu a
> discussão a respeito de cotas para ingresso na universidade, o principal
> motivo de questionamento era o de estar implementando um procedimento para
> remediar um problema sem sanar sua causa. ‘Colocar alunos despreparados em
> salas de aula’ é uma das consequências disso, mas não algo a ser observado
> e tratado em si e de forma restrita, senão visto num contexto amplo diante
> de uma situação complexa. ****
>
> ** **
>
> ‘Comprometer o princípio de mérito’ e ‘distorcer os resultados do exame de
> vestibular’ são alegações que podem até ter ocorrido, mas são irrelevantes
> em relação ao eixo de pensamento, uma vez que o cerne da questão, sempre
> bem aceito por todos, era ‘buscar uma solução para combater uma
> desigualdade e uma injustiça’. ****
>
> ** **
>
> Em todos os debates foi unânime a aprovação de que uma educação
> fortalecida pela revitalização das escolas públicas nos níveis fundamental
> e médio teria um impacto marcante e decisivo sobre essa exclusão que se
> busca combater. Sempre perguntamos onde está o compromisso do estado (em
> nível federal, estadual e municipal) que deveria cumprir as metas
> estabelecidas quanto ao percentual orçamentário dedicado à educação. Se
> fossem de fato cumpridos, de forma responsável e eficiente, a desigualdade
> não estaria na situação em que se encontra atualmente.****
>
> ** **
>
> O que os colegiados e os membros da comunidade acadêmica desejam, não é
> que a prova seletiva que elaboram seja aplicada exibindo sua elegância e a
> consistência de seus métodos. O que zelamos sempre em nosso método de
> trabalho é que antes de adotar e aplicar um procedimento, este deve ser
> suficiente e consistentemente testado e validado. Em políticas públicas
> esse rigor seria uma prevenção para que, com o tempo, grandes soluções
> anunciadas com alarde não se revelem ineficientes, senão inócuas.****
>
> ** **
>
> Se temos alunos na sala de aula com dois níveis de preparação distintos,
> isso poderia até ser trabalhado. Temos condições e potencial criativo para
> encontrar soluções. Mas não queremos sair precipitadamente empurrando o
> caminhão, antes de ter certeza de que o motor dele de fato não pode
> funcionar, ou que pelo menos o freio de mão seja solto. Queremos que, antes
> disso, as obrigações do estado (Federação, Estado e Município) sejam
> cumpridas. No costume dos índios, o cacique era o primeiro a se levantar e
> a realizar a tarefa árdua que ninguém queria fazer. Depois dele, todos se
> erguiam e se punham a trabalhar.  ****
>
> ** **
>
> Por outro lado, como docente e pesquisador, nunca ousaria dizer que uma
> área do conhecimento pudesse ser mais importante do que outra. Simplesmente
> porque o universo, com sua estrutura e seus fenômenos, segue seu curso
> normal, independentemente da taxonomia que os homens inventaram para vê-
> lo, entendê-lo e explicá-lo, da mesma forma como aves, mamíferos, anfíbios,
> insetos, plantas e demais formas de vida seguem vivendo, se reproduzindo e
> evoluindo à revelia das frequentes e rápidas variações das classificações
> que lhes aplicam. ****
>
> ** **
>
> José Augusto Mannis (docente Instituto de Artes, Depto. de Música, Unicamp)
> ****
>
> ** **
>
> ** **
>
> ** **
>
> ** **
>
> ** **
>
> _____________________________________****
>
> ** **
>
> Prof. Dr. José Augusto Mannis****
>
> Universidade Estadual de Campinas - Unicamp****
>
> Instituto de Artes****
>
> Depto. de Música****
>
> jamannis em uol.com.br****
>
> +55 (19) 8116-3160 ****
>
> RID: B-9522-2012****
>
> ORCID: 0000-0002-9484-5674****
>
> ** **
>
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