[ANPPOM-Lista] Posição de docentes quanto às politicas de cotas

Valério Fiel da Costa fieldacosta em gmail.com
Sex Dez 28 15:03:00 BRST 2012


Caros colegas.

Simpatizo com o viés proposto pelo Alexandre (como professor de composição
que escolheu não propor tabula rasa aos alunos e que tenta lidar com suas
idiossincrasias na medida do possível), mas confesso que me preocupa essa
tendência, levantada por Daniel, a transfomar a universidade num
quebra-galho de formação de base.

Mesmo sem levar em consideração os "cotistas" já temos que enfrentar aqui
na UFPB os reflexos do fracasso do ensino fundamental e médio. Antes de
entrar aqui, a maioria dos alunos apresenta deficiências de base difíceis
de resolver nos 4 anos de curso. A tendência é que aliviemos cada vez mais
as demandas acadêmicas em prol de uma equalização que nunca se
concretizará; enquanto simplesmente absorvemos demandas que não deveriam
ser as nossas (coisa que fazemos por uma questão de consciência pesada),
perdemos potencial naquilo que deveria ser nossa prioridade. Na prática
estamos cada vez mais sucateados e incapazes de cumprir nossa tarefa de
produzir (mais do que simplesmente reproduzir) conhecimento graças ao peso
dessas novas demandas.

Me pergunto, portanto, se não seria mais útil para a sociedade que uma
política de cotas tão ou mais contundente como a que nós vimos enfrentando,
não deveria ser realizada frente as melhores escolas particulares do país
para garantir que o cotista possa enfrentar o acesso à universidade em pé
de igualdade com os demais colegas. Desse modo cumpriríamos de modo
concreto nosso compromisso moral frente às minorias sem com isso abrir mão
das prerrogativas acadêmicas que fazem com que ainda faça sentido pensar a
universidade como instrumento fundamental na defesa da soberania
intelectual do país.

Att

VFC


Em 27 de dezembro de 2012 11:49, Ale Fenerich <fenerich em gmail.com> escreveu:

> Caro Mannis e demais colegas,
>
>
> Gostaria de expor minha pobre análise a este respeito de modo bem direto,
> sem a elegância de sua mensagem mas de forma explícita.
>
> No trabalho que temos desenvolvido na Federal de Juiz de Fora, o sistema
> de cotas traz desafios muito grandes para os docentes. De fato temos
> classes cujos alunos possuem diversos níveis de maturidade musical. Isso
> faz com que tenhamos que elaborar estratégias diversas para tentar sanar
> essa desigualdade, muitas vezes profunda. Há alunos, por exemplo, com
> dificuldades imensas em assuntos muito básicos, da educação fundamental.
> Como professores de música, nossa obrigação é tentar contornar estes
> problemas, e nem sempre é fácil, pois estas lacunas se refletem no modo
> como aprendem.
>
> Entretanto, em comparação com a minha própria formação, realizada na
> Unicamp nos anos 90, temos hoje uma estrutura social mais horizontal, na
> qual há menos competição entre os alunos e mais colaboração entre eles,
> principalmente entre os cotistas. Há também uma distância entre os alunos
> "profissionais" de música e aqueles que tiveram menos recursos de formação,
> a qual temos que tentar equilibrar. Esta distância passa por uma arrogância
> de alguns alunos mais maduros musicalmente (e talvez menos maduros enquanto
> cidadãos), os quais desprezam os demais e, consequentemente, acabam por
> desprezar o curso e os esforços de aprendizado geral.
>
> Enfim, são notas sobre um panorama geral, nas quais observo mais valores
> positivos que negativos. São o preço de uma democratização do ensino
> superior realizada talvez de forma um pouco canhesca no Brasil, mas que
> talvez tenha resultados positivos em 10, 15 anos. Assim espero.
>
> Colegas de federais, alguma opinião a respeito?
>
> Um abraço!
>
>
> Em 26 de dezembro de 2012 15:26, <jamannis em uol.com.br> escreveu:
>
>> ** **
>>
>> ** **
>>
>> O editorial desta data (26/12/2012) OESP, especificamente “Cotas nas
>> universidades paulistas”, cita posição de colegiados e de ‘vários docentes’
>> das universidades estaduais paulistas de uma maneira que me causou
>> estranhamento.  ****
>>
>> ** **
>>
>> Cito excerto: *“.../ Historicamente, os órgãos colegiados da USP,
>> Unicamp e Unesp sempre foram contrários à adoção de políticas de cotas nos
>> vestibulares, alegando que elas distorcem os resultados dos exames,
>> comprometem o princípio de mérito e colocam em salas de aula alunos
>> despreparados.**  Vários docentes receberam com reservas esse programa
>> de inclusão social. Serão decisivas as reuniões das congregações das
>> faculdades mais importantes, como as de Medicina, Direito e Engenharia.
>> /...”*
>>
>> * *
>>
>> Sou membro de vários colegiados em minha universidade, em vários niveis,
>> e tenho claro em minha memória que em todas as oportunidades em que ocorreu
>> a discussão a respeito de cotas para ingresso na universidade, o principal
>> motivo de questionamento era o de estar implementando um procedimento para
>> remediar um problema sem sanar sua causa. ‘Colocar alunos despreparados em
>> salas de aula’ é uma das consequências disso, mas não algo a ser observado
>> e tratado em si e de forma restrita, senão visto num contexto amplo diante
>> de uma situação complexa. ****
>>
>> ** **
>>
>> ‘Comprometer o princípio de mérito’ e ‘distorcer os resultados do exame
>> de vestibular’ são alegações que podem até ter ocorrido, mas são
>> irrelevantes em relação ao eixo de pensamento, uma vez que o cerne da
>> questão, sempre bem aceito por todos, era ‘buscar uma solução para combater
>> uma desigualdade e uma injustiça’. ****
>>
>> ** **
>>
>> Em todos os debates foi unânime a aprovação de que uma educação
>> fortalecida pela revitalização das escolas públicas nos níveis fundamental
>> e médio teria um impacto marcante e decisivo sobre essa exclusão que se
>> busca combater. Sempre perguntamos onde está o compromisso do estado (em
>> nível federal, estadual e municipal) que deveria cumprir as metas
>> estabelecidas quanto ao percentual orçamentário dedicado à educação. Se
>> fossem de fato cumpridos, de forma responsável e eficiente, a desigualdade
>> não estaria na situação em que se encontra atualmente.****
>>
>> ** **
>>
>> O que os colegiados e os membros da comunidade acadêmica desejam, não é
>> que a prova seletiva que elaboram seja aplicada exibindo sua elegância e a
>> consistência de seus métodos. O que zelamos sempre em nosso método de
>> trabalho é que antes de adotar e aplicar um procedimento, este deve ser
>> suficiente e consistentemente testado e validado. Em políticas públicas
>> esse rigor seria uma prevenção para que, com o tempo, grandes soluções
>> anunciadas com alarde não se revelem ineficientes, senão inócuas.****
>>
>> ** **
>>
>> Se temos alunos na sala de aula com dois níveis de preparação distintos,
>> isso poderia até ser trabalhado. Temos condições e potencial criativo para
>> encontrar soluções. Mas não queremos sair precipitadamente empurrando o
>> caminhão, antes de ter certeza de que o motor dele de fato não pode
>> funcionar, ou que pelo menos o freio de mão seja solto. Queremos que, antes
>> disso, as obrigações do estado (Federação, Estado e Município) sejam
>> cumpridas. No costume dos índios, o cacique era o primeiro a se levantar e
>> a realizar a tarefa árdua que ninguém queria fazer. Depois dele, todos se
>> erguiam e se punham a trabalhar.  ****
>>
>> ** **
>>
>> Por outro lado, como docente e pesquisador, nunca ousaria dizer que uma
>> área do conhecimento pudesse ser mais importante do que outra. Simplesmente
>> porque o universo, com sua estrutura e seus fenômenos, segue seu curso
>> normal, independentemente da taxonomia que os homens inventaram para vê-
>> lo, entendê-lo e explicá-lo, da mesma forma como aves, mamíferos, anfíbios,
>> insetos, plantas e demais formas de vida seguem vivendo, se reproduzindo e
>> evoluindo à revelia das frequentes e rápidas variações das classificações
>> que lhes aplicam. ****
>>
>> ** **
>>
>> José Augusto Mannis (docente Instituto de Artes, Depto. de Música,
>> Unicamp)****
>>
>> ** **
>>
>> ** **
>>
>> ** **
>>
>> ** **
>>
>> ** **
>>
>> _____________________________________****
>>
>> ** **
>>
>> Prof. Dr. José Augusto Mannis****
>>
>> Universidade Estadual de Campinas - Unicamp****
>>
>> Instituto de Artes****
>>
>> Depto. de Música****
>>
>> jamannis em uol.com.br****
>>
>> +55 (19) 8116-3160 ****
>>
>> RID: B-9522-2012****
>>
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