[ANPPOM-Lista] RES: Polarização das áreas do conhecimento na Universidade

Marcelo Coelho muzikness em gmail.com
Sáb Dez 29 12:10:44 BRST 2012


Caro prof. Mannis,

Vejamos:
*

Se sabemos exercitar, treinar e educar a invenção de artistas...* será?

*...poderíamos também aplicar isso para físicos, médicos, engenheiros e
advogados.       *Certamente! Mas qual a razão de ainda não ter se
realizado esse projeto interdisciplinar que beneficiaria a todas as áreas?

Seja como for, a FGV já se antecipou nesse aspecto. O GVcult, núcleo
recente dessa instituição do qual faço parte do *board*, cansou de esperar
os treinadores e educadores de artistas descerem do olimpo para explicar a
sistematização aplicada ao desenvolvimento criativo*. *O núcleo já trabalha
com esse tema em aulas e está expandindo para a pesquisa acadêmica
interdisciplinar com outras áreas do conhecimento. Interessante notar que
os primeiros treinadores acadêmicos escolhidos e contatados pelo núcleo são
os que apresentam também uma grande produção artística. A turma do lado
esquerdo do cérebro está disposta a aprender como apreciar antes de ser
treinada para criar. Percebo que há pouca movimentação dos treinadores e
educadores de artistas nesta direção.

Abraços,

MC
www.coelho-music.com


Em 28 de dezembro de 2012 14:35, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>escreveu:

>
> Caro prof. Mannis,
>
> Realmente, se tivéssemos o poder de mudar a escuta da sociedade assim tão
> imediatamente, seria tudo ótimo né... mas este é um trabalho a longo prazo
> pra Educação Musical. Torço para que tudo dê certo!
>
> Entendo a questão da potencialidade do fazer artístico e de seus
> benefícios para outras áreas do conhecimento, mas como tu mesmo disseste,
> somos procurados somente por motivos de entretenimento. É justamente dentro
> da Universidade que isso não pode acontecer, pois estamos nela e aí sim
> temos possibilidade de mudar esta concepção. É certo de ser um caminho
> difícil, mas a partir da Universidade, espera-se que os reflexos sejam
> sentidos na sociedade.
>
> Acredito que o problema central é o desrespeito com que é tratado o
> artista e seu trabalho. Como tu mesmo disseste, observa-se um profundo
> desconhecimento sobre Arte nas elites contemporâneas, e mesmo assim, não há
> a preocupação de chamar um especialista da área para participar de decisões
> importantes da administração pública. Agora, se forem construir uma ponte,
> chamam um engenheiro; se há alguma enfermidade, chamam um médico...
>
> Música é igual a futebol: todo mundo pensa que sabe, mas são poucos
> aqueles que conhecem de fato a realidade do profissional.
>
> Abraço,
>
> Daniel Lemos Cerqueira
>
> Coordenador do Curso de Música
>
> Membro da Comissão Permanente de Vestibular
>
> Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
> http://musica.ufma.br <http://musica.ufma.br>
>
>
> --- Em *sex, 28/12/12, jamannis em uol.com.br <jamannis em uol.com.br>*escreveu:
>
>
> De: jamannis em uol.com.br <jamannis em uol.com.br>
> Assunto: RES: [ANPPOM-Lista] Polarização das áreas do conhecimento na
> Universidade
> Para: "'Daniel Lemos'" <dal_lemos em yahoo.com.br>, anppom-l em iar.unicamp.br
> Data: Sexta-feira, 28 de Dezembro de 2012, 12:55
>
>
> Prezado Daniel Cerqueira,
>
>
>
> Não tive a pretensão de desejar que a comunidade acadêmica ou a sociedade
> tivessem mais apreço pelo fazer musical desalinhado da industria cultural
> de massa, o que implicaria numa mudança de escuta e de analise do que estão
> ouvindo.
>
>
>
> Mesmo se me espanta muito o nível de desinformação de algumas elites
> superiores universitárias...
>
>
>
> *(Se fizéssemos uma avaliação do conhecimento musical de nossa
> administração superior universitária e mesmo da administração superior
> cultural (secretarias, ministério, agências, órgão de fomento...) me
> pergunto quanto poderiam distinguir um excerto musical Barroco de um
> Romântico, ou dizer o que sabem sobre um Xote ou uma Guarânia. )*
>
>
>
> ... o que busquei focar não era isso.
>
>
>
>
>
> Mas sobretudo, como os campos do saber se entrelaçam e a estrutura da
> totalidade se permeia entre as áreas que (desde Aristóteles) se
> consolidaram e que neste momento estejam estranguladas de tanto esticadas,
> retorcidas e deformadas.
>
>
>
> Um dos aspectos dessa estrutura comunicante entre campos do saber é o da
> criatividade como heurística aplicada. Nas unidades universitárias, a área
> de Artes trabalha intensamente a criatividade de forma sistemática. Temos
> desenvolvido métodos, estratégias, procedimentos através de uma infinidade
> de abordagens para ter algum domínio sobre o processo para se chegar ao
> Achado (Eureka).
>
>
>
> Se sabemos exercitar, treinar e educar a invenção de artistas, poderíamos
> também aplicar isso para físicos, médicos, engenheiros e advogados.
>
>
>
> Esse potencial ainda não foi percebido pela comunidade acadêmica, que
> acaba se lembrando de seu instituto de artes para demandas do
> entretenimento, por exemplo quando precisa de uma agrupação musical para
> uma inauguração ou uma comemoração ou ir a um espetáculo para relaxar a
> cabeça após um dia intenso de trabalho.
>
>
>
> A maneira e a sistemática que adotamos para resolver problemas criativos
> são solução para muitas buscas das outras áreas.
>
>
>
> Mas para que isto apareça e aconteça, é necessário, antes de tudo, que nós
> possamos acreditar em nós mesmos e termos a coragem e a determinação de
> bancar nossa posição e acreditarmos em nosso taco.
>
>
>
> Abraços
>
>
>
> Mannis
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
> *De:* anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:
> anppom-l-bounces em iar.unicamp.br] *Em nome de *Daniel Lemos
> *Enviada em:* quinta-feira, 27 de dezembro de 2012 14:47
> *Para:* anppom-l em iar.unicamp.br
> *Assunto:* [ANPPOM-Lista] Polarização das áreas do conhecimento na
> Universidade
>
>
>
>
> Caros colegas,
>
> O prof. José Mannis tocou em outro assunto muito importante para
> discussão: a valorização de áreas do conhecimento específicas dentro da
> Universidade.
>
> Já basta a supervalorização que a sociedade brasileira dá pra áreas como
> Medicina, Engenharia e Direito; a Universidade tem (ou deveria ter) o papel
> transformador de reforçar a importância de cada área e dar o exemplo à
> sociedade. Mas ao invés disso, vê-se que ela é na verdade uma mera
> reprodução das práticas que já existem.
>
> As áreas de Artes então, estas são sempre o "patinho feio": só dão gastos
> e sua produção não visa à aplicação imediata em massa. Não existe nenhum
> tipo de incentivo à produção artística se ela não estiver vinculada ou
> adequada a projetos de pesquisa ou extensão (creio que deveria haver um
> tipo de projeto específico voltado à produção artística, legalmente
> institucionalizado). E fora da Universidade, a produção artística tem que
> se adequar aos padrões de mercado, com nossas geniais "Leis de *Incentivo*"
> (ou seja: os artistas não merecem uma política cultural digna; tem de viver
> de "incentivo" ou caridade das empresas). Se não houver resistência, daqui
> a 50 anos o país será feito de Micheis Teló e de "estudiosos acadêmicos da
> Música".
>
>  Tem um ditado que um de nossos alunos criou, sabiamente: "a sociedade
> pensa que o músico é uma prostituta: tem que viver para dar prazer aos
> outros".
>
> Daniel Cerqueira
>
> *http://musica.ufma.br* <http://musica.ufma.br>
>
>
> --- Em *qua, 26/12/12, jamannis em uol.com.br<http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br>
> <jamannis em uol.com.br <http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br>>*escreveu:
>
>
> De: jamannis em uol.com.br <http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br> <
> jamannis em uol.com.br <http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br>>
> Assunto: [ANPPOM-Lista] Posição de docentes quanto às politicas de cotas
> Para: "'ANPPOM'" <anppom-l em iar.unicamp.br<http://mc/compose?to=anppom-l@iar.unicamp.br>
> >
> Data: Quarta-feira, 26 de Dezembro de 2012, 15:26
>
>
>
>
>
> O editorial desta data (26/12/2012) OESP, especificamente “Cotas nas
> universidades paulistas”, cita posição de colegiados e de ‘vários docentes’
> das universidades estaduais paulistas de uma maneira que me causou
> estranhamento.
>
>
>
> Cito excerto: *“.../ Historicamente, os órgãos colegiados da USP, Unicamp
> e Unesp sempre foram contrários à adoção de políticas de cotas nos
> vestibulares, alegando que elas distorcem os resultados dos exames,
> comprometem o princípio de mérito e colocam em salas de aula alunos
> despreparados.**  Vários docentes receberam com reservas esse programa de
> inclusão social. Serão decisivas as reuniões das congregações das
> faculdades mais importantes, como as de Medicina, Direito e Engenharia.
> /...”*
>
> * *
>
> Sou membro de vários colegiados em minha universidade, em vários niveis, e
> tenho claro em minha memória que em todas as oportunidades em que ocorreu a
> discussão a respeito de cotas para ingresso na universidade, o principal
> motivo de questionamento era o de estar implementando um procedimento para
> remediar um problema sem sanar sua causa. ‘Colocar alunos despreparados em
> salas de aula’ é uma das consequências disso, mas não algo a ser observado
> e tratado em si e de forma restrita, senão visto num contexto amplo diante
> de uma situação complexa.
>
>
>
> ‘Comprometer o princípio de mérito’ e ‘distorcer os resultados do exame de
> vestibular’ são alegações que podem até ter ocorrido, mas são irrelevantes
> em relação ao eixo de pensamento, uma vez que o cerne da questão, sempre
> bem aceito por todos, era ‘buscar uma solução para combater uma
> desigualdade e uma injustiça’.
>
>
>
> Em todos os debates foi unânime a aprovação de que uma educação
> fortalecida pela revitalização das escolas públicas nos níveis fundamental
> e médio teria um impacto marcante e decisivo sobre essa exclusão que se
> busca combater. Sempre perguntamos onde está o compromisso do estado (em
> nível federal, estadual e municipal) que deveria cumprir as metas
> estabelecidas quanto ao percentual orçamentário dedicado à educação. Se
> fossem de fato cumpridos, de forma responsável e eficiente, a desigualdade
> não estaria na situação em que se encontra atualmente.
>
>
>
> O que os colegiados e os membros da comunidade acadêmica desejam, não é
> que a prova seletiva que elaboram seja aplicada exibindo sua elegância e a
> consistência de seus métodos. O que zelamos sempre em nosso método de
> trabalho é que antes de adotar e aplicar um procedimento, este deve ser
> suficiente e consistentemente testado e validado. Em políticas públicas
> esse rigor seria uma prevenção para que, com o tempo, grandes soluções
> anunciadas com alarde não se revelem ineficientes, senão inócuas.
>
>
>
> Se temos alunos na sala de aula com dois níveis de preparação distintos,
> isso poderia até ser trabalhado. Temos condições e potencial criativo para
> encontrar soluções. Mas não queremos sair precipitadamente empurrando o
> caminhão, antes de ter certeza de que o motor dele de fato não pode
> funcionar, ou que pelo menos o freio de mão seja solto. Queremos que, antes
> disso, as obrigações do estado (Federação, Estado e Município) sejam
> cumpridas. No costume dos índios, o cacique era o primeiro a se levantar e
> a realizar a tarefa árdua que ninguém queria fazer. Depois dele, todos se
> erguiam e se punham a trabalhar.
>
>
>
> Por outro lado, como docente e pesquisador, nunca ousaria dizer que uma
> área do conhecimento pudesse ser mais importante do que outra. Simplesmente
> porque o universo, com sua estrutura e seus fenômenos, segue seu curso
> normal, independentemente da taxonomia que os homens inventaram para vê-
> lo, entendê-lo e explicá-lo, da mesma forma como aves, mamíferos, anfíbios,
> insetos, plantas e demais formas de vida seguem vivendo, se reproduzindo e
> evoluindo à revelia das frequentes e rápidas variações das classificações
> que lhes aplicam.
>
>
>
> José Augusto Mannis (docente Instituto de Artes, Depto. de Música, Unicamp)
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
> _____________________________________
>
>
>
> Prof. Dr. José Augusto Mannis
>
> Universidade Estadual de Campinas - Unicamp
>
> Instituto de Artes
>
> Depto. de Música
>
> jamannis em uol.com.br <http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br>
>
> +55 (19) 8116-3160
>
> RID: B-9522-2012
>
> ORCID: 0000-0002-9484-5674
>
>
>
>
> -----Anexo incorporado-----
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
>
>
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>



-- 
Marcelo Coelho
www.coelho-music.com
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20121229/8fca60ee/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L