[ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes

Rogerio Budasz rogeriobudasz em yahoo.com
Qua Jan 18 14:47:37 BRST 2012


Olha Luciano, Longe de querer parecer arrogante ou farisaico, deixa eu tentar ser um pouco mais claro e menos emocional.
O único momento em que o professor universitário (no sistema público) teme perder o emprego por falta de produtividade é durante o estágio probatório. Mesmo assim, os critérios não são difíceis de cumprir. Um trabalho publicado por ano (nem é por semestre!) e vc já tem pontos suficientes no quesito publicações. Findo o estágio probatório vc tem estabilidade e ninguém vai te despedir do serviço público se vc nunca mais publicar qualquer coisa. Se vc quiser avançar nas progressões funcionais os critérios são ainda mais fáceis que no estágio probatório. Como disse antes, se vc dá aula num PPG, ou, mais responsabilidade ainda, se vc tem bolsa de PQ é óbvio que a cobrança será maior. Por isso é que eu disse que ninguém é obrigado a assumir essas responsabilidades. A progressão, a premiação, aquele extra que nem todos tem, só se consegue por mérito, e o mérito, como disse antes, envolve várias coisas, entre elas a
 produtividade. Se o sistema está distorcido, se muita gente se encosta mesmo participando de um PPG ou tendo bolsa de PQ, se existe apadrinhamento, etc, etc, então é isso que precisa ser consertado, não a exigência de um mínimo de produtividade.A propósito, meu comentário sobre o Einstein foi para reforçar o ponto de que todos nós nos tornamos obsoletos mais cedo ou mais tarde.
Rogério 


--- On Wed, 1/18/12, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br> wrote:

From: luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes
To: "Caio Barros" <caio.barros em gmail.com>, "Rogerio Budasz" <rogeriobudasz em yahoo.com>
Cc: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Date: Wednesday, January 18, 2012, 6:39 AM

Pois é...

   Caros Rogerio e Caio, acho que agora é hora de elencar cada caso. Ninguém discorda da necessidade de produção. Nem da necessidade de permitir o tempo da reflexão. Rogério não concordaria com a imposição de escrever um artigo por semana, por mais produtivista que ele pareça. Caio também não concordaria com nenhuma cobrança de pesquisa por parte de um professor, ainda que pareça estar mais do lado do "não exagerem na exigência". 
   Agora que temos consenso, é hora de pensar nos casos. Quais professores se queixam das atuais exigências? De minha parte, vejo professores produtivos reclamando, gente que quer exatamente produzir e produzir bem! Gente que dá ótimas aulas e pensa muito no que escreve, e escreve muito. Como é a nossa próppria produção? Realmente um pesquisador não pode ter família,
 lazer, tempo livre? 
    Eu não reclamo por mim, sou bolsista da capes e participo de todos os congressos que posso, trago até uma culpa cristã por que poderia passar mais fome, escrever e tocar mais, etc. Mas o argumento é estranho, Rogerio. Realmente dá medo quando você escreve que o ninguém obriga o professor a participar de PPGs. Porque a verdade é que há uma pressão sobre o emprego do professor sim senhor. E grave, do tipo de ameaça a perda do emprego. E como você, eu também não vejo que opções de trabalho são essas para o professor universitário. O caio lembra bem que a opção é passar fome e ter uma vida de merda.
   Acho que a categoria de professor e pesquisador universitário é uma categoria de livre pensadores que devem ser tratados com respeito e direito a tempo de reflexão. Não sei se Einstein produziu tanta coisa assim, vejo relatos de que ele era ruim em matemática, que só produziu a
 teoria da relatividade, um livro que a explica para leigos e dois outros trabalhos mais durante a vida. Será que Adorno escrevia um artigo por semestre? E mais... será que nós mesmos não podemos selecionar os pares mais ou menos atuantes, interessados, produtivos, inteligentes e "úteis" para o trabalho acadêmico? Será que precisamos de uma cartilha que imponha de cima para baixo as regras de produtividade que podem sempre ser contornadas? Os mais aptos a lidar com essa cartilha continuarão produzindo nulidades, só que com o respaldo da lei que os laurearia com o distintivo da produtividade. Oficializar uma agenda serve em grande medida, a meu ver, pra premiar quem sabe lidar com ela, quem lida bem com os termos do poder, mas não é garantia de aumento de qualidade na pesquisa. O elemento auto regulador da classe, dos pares que você menciona, Rogerio, pode ser atuante em um quadro mais leve com a vantagem que teríamos realmente tempo de ler
 os trabalhos dos pares. Hoje, concordo com o texto que iniciou esta discussão, não dá tempo. Quem consegue fazer boas e informadas críticas e resenhas ao que é produzido, por favor se manifeste e as apresente...  
    De novo, faço a pergunta, dessa vez pra mim também, que não consegui com essa mensagem toda responder a questão: quais são os casos que estamos discutindo?
Luciano

--- Em ter, 17/1/12, Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com> escreveu:

De: Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes
Para: "Caio Barros" <caio.barros em gmail.com>
Cc: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "luciano cesar" <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
Data: Terça-feira, 17
 de Janeiro de 2012, 23:46

Caio,

minhas respostas entre os parágrafos... 

> O que você está descrevendo é um sistema de competição 
> em que aquele 
docente que produzir mais receberá mais bolsas 
> e financiamentos.

Claro que não. O sistema premia o mérito e o mérito é avaliado segundo vários fatores, dos quais a quantidade é apenas um, e nem é o mais importante.

> Não há nenhuma conexão entre esse aumento de produção 
> (que no caso 
significa simplesmente publicar mais) e o aumento 
> de qualidade da 
pesquisa, se garante alguma coisa é o contrário. 
> Muito menos isso 
garante que os docentes gerem produtos mais 
> úteis para a sociedade, 
talvez seja uma mecanismo de eliminação 
> de professores ociosos, mas não 
de mal intencionados ou pesquisas 
> desimportantes. E devo dizer que pela 
minha experiência de aluno, 
> mesmo professores ociosos não sofrem tanto 
assim com esse sistema 
> como poderia parecer.

Então vc não leu direito a minha mensagem, em nenhum momento fiz uma apologia da quantidade. Adorno, Curt Lange e Mário de Andrade produziram muita coisa que hoje consideraríamos "desimportante" mas que foi essencial na construção de cada um deles como pesquisador. Além disso quando algum de nós escreve ou publica algo "desimportante" é essencial que nossos pares nos avaliem na justa medida, e existem mecanismos para isso. Se não existir essa dinâmica aí sim a área vai estar condenada à irrelevância e esterilidade.

> De fato ninguém é obrigado a participar de ppg, solicitar bolsa pq 
> ou 
prestar concurso público. Mas guardadas as devidas proporções 
> isso é a 
mesma coisa que dizer que ninguém precisa trabalhar se 
> não quiser, é só 
passar um pouco mais de fome, ué! 
> O que eu quero dizer é que não é bem 
uma escolha, porque a 
> alternativa é o desemprego.

De maneira nenhuma. Existem muitas outras alternativas para o professor universitário que não quer ou não pode produzir. Não sou conselheiro vocacional, existem profissionais formados nessa área.

> É terrível investir dinheiro público em docentes que não produzem, 
> mas 
criar um sistema de competição por números de publicações 
> não resolve 
esse problema, e muito menos garante que os docentes 
> sirvam a sociedade.
 Ao contrário, causa mais produção inútil, ligadas a 
> corporações, etc. 
E, sim, problemas de saúde em pessoas que poderiam 
> produzir melhor em 
melhores condições de saúde. E, diga-se de passagem, 
> esse tipo de coisa 
em geral traz mais custos para tratar essas pessoas e 
> os efeitos ao 
redor delas do que a prevenção.

Concordo em número e grau. Avaliar apenas a quantidade leva à situação que vc descreve. Lembro apenas que nós não "criamos" esse sistema.

Rogério



2012/1/17 Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com>

Oi LucianoParafraseando um amigo nosso, "nunca antes na história desse país" se investiu tanto em ciencia e tecnologia. Quando é que as condições para o surgimento de pesquisa de qualidade foram melhores? Durante a ditadura? Durante os 50 anos em 5 do JK? Durante a monarquia? Quando é que o Brasil esteve melhor ranqueado nos indexadores internacionais? Quando é que o Brasil teve uma participação maior em organizações e grupos internacionais de pesquisa?
fora isso...- Ninguém é obrigado a participar de um PPG;- Ninguém é obrigado a solicitar bolsa de PQ;- Quando o professor universitário presta concurso é informado de início que terá que se desdobrar no serviço de tres profissionais, um que cuida do ensino, outro que cuida da pesquisa e outro que cuida da extensão; ele não é obrigado a
 assinar o contrato de trabalho;- No processo de progressão funcional as aulas, composições e concertos contam como aulas, composições e concertos; as pesquisas contam como pesquisas;- Pesquisa de baixa qualidade sempre existiu e sempre existirá e deve ser respondida/desbancada com pesquisa de alta qualidade nos foruns apropriados.
- Tudo isso acima pode ser mudado se a classe assim o desejar. Não sei se a sociedade vai ficar satisfeita em pagar os salários de professores que são pagos prá pensar e não se sentem na obrigação de publicar o que pensam porque isso pode lhes causar distúrbios psicossomáticos ou porque aquilo que publicam logo ficará obsoleto.

Rogério
--- On Tue, 1/17/12, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br> wrote:


From: luciano cesar
 <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes

To: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Rogerio Budasz" <rogeriobudasz em yahoo.com>

Date: Tuesday, January 17, 2012, 9:00 AM

Caro Rogério Budaz,
 
    Entendo desse texto que o que está em questão não é a produtividade em si, mas 1) as condições que se oferecem para que ela aconteça e 2) os critérios que determinam a relação quantidade/qualidade para cada área.

    Não acho que as condições atuais sejam adequadas, até por exigirem um abandono do ensino pela "pesquisa", coisa que Adorno, Einstein, Marx ou Schoenberg não enfrentaram no nível atual: os alunos de graduação não tem uma formação que
 lhes permita acompanhar a pesquisa dos docentes porque no Brasil de hoje a escola está sucateada. Ensinar na graduação é muito mais difícil e muito mais distante de pesquisar. No entanto, cobra-se ambas atividades. O que dizer então da produção artística...

   Então, se nem as aulas nem as composições,
 nem os concertos contam como pesquisa, o professor tem que se desdobrar... Assim a lógica de mercado funciona. É culpa do funcionário não ser capaz de fazer o serviço de três ou quatro profissionais. A qualidade da pesquisa tem decaído tanto porque será?

   Acho temerário perceber as reinvindicações como desculpa pra encostar. Se não chegamos a consensos como classe, as condições só tendem a piorar. 

Cordial abraço, 

Luciano Cesar Morais.


--- Em seg, 16/1/12, Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com> escreveu:


De: Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes

Para: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Data: Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2012,
 0:34

Desculpe, mas dessa vez não consegui ficar quieto.Li e reli o artigo no link e está parecendo pretexto de quem quer se encostar. Ser pago para pensar e não produzir? Que absurdo é esse? Os maiores pensadores do século passado--antes do famigerado "neo-liberalismo"--produziam prá caramba. Olha só o Adorno, citado há pouco. E o Mário de Andrade, Curt Lange, e tantos outros. Alguém foi perguntar prá eles se eles sentiam problemas psicossomáticos, psicopatológicos e comportamentais por estarem produzindo tanto?
Uma geração que está com a obsolescência programada? E desde quando foi diferente? Desse destino nem o Einstein escapou.

Rogério

--- On Sat, 1/14/12, Marcelo Carneiro de Lima <marcelo.arcos2 em gmail.com> wrote:


From: Marcelo Carneiro de Lima <marcelo.arcos2 em gmail.com>

Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes
To: "Alexandre Ficagna" <alexandre_ficagna em yahoo.com.br>

Cc: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Date: Saturday, January 14, 2012, 5:46 AM


Interessante o artigo, e os assuntos em pauta são extremamente pertinentes. Já estava mesmo na hora de começarmos a falar sobre estes problemas, além das muitas 'variações' que surgem a partir destes mesmos temas.



Talvez valha à pena reforçar o que já está no texto e na fala dos pesquisadores: as questões apresentadas intensificaram-se a partir da ascenção dos valores, ações político-econômicas-culturais, e preceitos do neo-liberalismo a partir dos anos 90, e seus efeitos são hoje nítidos em praticamente todas as atividades do brasileiro: dos estudantes dos ensinos fundamental e médio, ao adulto, em todas as etapas de sua vida/atividade profissional e social.


E agora...absMarcelo Carneiro Em 13 de janeiro de 2012 17:15, Alexandre Ficagna <alexandre_ficagna em yahoo.com.br> escreveu:


Olá a todos,

matéria publicada no site do Andes:

http://portal.andes.org.br:8080/andes/print-ultimas-noticias.andes?id=5020


Um abraço a todosAlexandre Ficagna http://soundcloud.com/alexandre-ficagna


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