[ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes

silvioferrazmello silvioferrazmello em uol.com.br
Sáb Jan 21 13:18:10 BRST 2012


caros,

importante este esclarescimento de rogério budaz:

> O sistema premia o mérito e o mérito é avaliado segundo vários fatores, dos quais a quantidade é apenas um, e nem é o mais importante.

isto é fato.
no mais, em um momento em que todos correm atrás de produção, todos passam a ter produção semelhante e o diferencial volta a ser a qualidade do que é produzido (sua pertinência, atualidade, originalidade).
e neste momento volta a participar dos sistemas a avaliação subjetiva (o que é pertinente? o que é atual? o que é original?).

em reunião recente a fapesp reuniu 2000 mil, dos 9000 pesquisadores participantes de seu sistema, para dizer-nos que devemos visar a qualidade, a originalidade, o impacto (sobretudo o impacto, os desdobramentos de uma pesquisa), atualidade e pertinência.
ou seja, a avaliação quantitativa da produção é algo a ser evitado, pois produz monstros.

mas, fica a pergunta: como lidar com a questão da subjetividade na avaliação?

sem dúvida, para nós pesquisadores da área de música isto não será feito se incluirmos mais algebra elementar e teoria dos conjuntos em nossos trabalhos.

abs
silvio

On Jan 17, 2012, at 11:46 PM, Rogerio Budasz wrote:

> Caio,
> 
> minhas respostas entre os parágrafos... 
> 
> > O que você está descrevendo é um sistema de competição 
> > em que aquele docente que produzir mais receberá mais bolsas 
> > e financiamentos.
> 
> Claro que não. O sistema premia o mérito e o mérito é avaliado segundo vários fatores, dos quais a quantidade é apenas um, e nem é o mais importante.
> 
> > Não há nenhuma conexão entre esse aumento de produção 
> > (que no caso significa simplesmente publicar mais) e o aumento 
> > de qualidade da pesquisa, se garante alguma coisa é o contrário. 
> > Muito menos isso garante que os docentes gerem produtos mais 
> > úteis para a sociedade, talvez seja uma mecanismo de eliminação 
> > de professores ociosos, mas não de mal intencionados ou pesquisas 
> > desimportantes. E devo dizer que pela minha experiência de aluno, 
> > mesmo professores ociosos não sofrem tanto assim com esse sistema 
> > como poderia parecer.
> 
> Então vc não leu direito a minha mensagem, em nenhum momento fiz uma apologia da quantidade. Adorno, Curt Lange e Mário de Andrade produziram muita coisa que hoje consideraríamos "desimportante" mas que foi essencial na construção de cada um deles como pesquisador. Além disso quando algum de nós escreve ou publica algo "desimportante" é essencial que nossos pares nos avaliem na justa medida, e existem mecanismos para isso. Se não existir essa dinâmica aí sim a área vai estar condenada à irrelevância e esterilidade.
> 
> > De fato ninguém é obrigado a participar de ppg, solicitar bolsa pq 
> > ou prestar concurso público. Mas guardadas as devidas proporções 
> > isso é a mesma coisa que dizer que ninguém precisa trabalhar se 
> > não quiser, é só passar um pouco mais de fome, ué! 
> > O que eu quero dizer é que não é bem uma escolha, porque a 
> > alternativa é o desemprego.
> 
> De maneira nenhuma. Existem muitas outras alternativas para o professor universitário que não quer ou não pode produzir. Não sou conselheiro vocacional, existem profissionais formados nessa área.
> 
> > É terrível investir dinheiro público em docentes que não produzem, 
> > mas criar um sistema de competição por números de publicações 
> > não resolve esse problema, e muito menos garante que os docentes 
> > sirvam a sociedade. Ao contrário, causa mais produção inútil, ligadas a 
> > corporações, etc. E, sim, problemas de saúde em pessoas que poderiam 
> > produzir melhor em melhores condições de saúde. E, diga-se de passagem, 
> > esse tipo de coisa em geral traz mais custos para tratar essas pessoas e 
> > os efeitos ao redor delas do que a prevenção.
> 
> Concordo em número e grau. Avaliar apenas a quantidade leva à situação que vc descreve. Lembro apenas que nós não "criamos" esse sistema.
> 
> Rogério
> 
> 
> 
> 2012/1/17 Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com>
> Oi Luciano
> Parafraseando um amigo nosso, "nunca antes na história desse país" se investiu tanto em ciencia e tecnologia. Quando é que as condições para o surgimento de pesquisa de qualidade foram melhores? Durante a ditadura? Durante os 50 anos em 5 do JK? Durante a monarquia? Quando é que o Brasil esteve melhor ranqueado nos indexadores internacionais? Quando é que o Brasil teve uma participação maior em organizações e grupos internacionais de pesquisa?
> fora isso...
> - Ninguém é obrigado a participar de um PPG;
> - Ninguém é obrigado a solicitar bolsa de PQ;
> - Quando o professor universitário presta concurso é informado de início que terá que se desdobrar no serviço de tres profissionais, um que cuida do ensino, outro que cuida da pesquisa e outro que cuida da extensão; ele não é obrigado a assinar o contrato de trabalho;
> - No processo de progressão funcional as aulas, composições e concertos contam como aulas, composições e concertos; as pesquisas contam como pesquisas;
> - Pesquisa de baixa qualidade sempre existiu e sempre existirá e deve ser respondida/desbancada com pesquisa de alta qualidade nos foruns apropriados.
> - Tudo isso acima pode ser mudado se a classe assim o desejar. Não sei se a sociedade vai ficar satisfeita em pagar os salários de professores que são pagos prá pensar e não se sentem na obrigação de publicar o que pensam porque isso pode lhes causar distúrbios psicossomáticos ou porque aquilo que publicam logo ficará obsoleto.
> 
> Rogério
> 
> --- On Tue, 1/17/12, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br> wrote:
> 
> From: luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
> 
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes
> To: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Rogerio Budasz" <rogeriobudasz em yahoo.com>
> Date: Tuesday, January 17, 2012, 9:00 AM
> 
> 
> Caro Rogério Budaz,
>  
>     Entendo desse texto que o que está em questão não é a produtividade em si, mas 1) as condições que se oferecem para que ela aconteça e 2) os critérios que determinam a relação quantidade/qualidade para cada área.
>     Não acho que as condições atuais sejam adequadas, até por exigirem um abandono do ensino pela "pesquisa", coisa que Adorno, Einstein, Marx ou Schoenberg não enfrentaram no nível atual: os alunos de graduação não tem uma formação que lhes permita acompanhar a pesquisa dos docentes porque no Brasil de hoje a escola está sucateada. Ensinar na graduação é muito mais difícil e muito mais distante de pesquisar. No entanto, cobra-se ambas atividades. O que dizer então da produção artística...
>    Então, se nem as aulas nem as composições, nem os concertos contam como pesquisa, o professor tem que se desdobrar... Assim a lógica de mercado funciona. É culpa do funcionário não ser capaz de fazer o serviço de três ou quatro profissionais. A qualidade da pesquisa tem decaído tanto porque será?
>    Acho temerário perceber as reinvindicações como desculpa pra encostar. Se não chegamos a consensos como classe, as condições só tendem a piorar. 
> 
> Cordial abraço, 
> 
> Luciano Cesar Morais.
> 
> 
> --- Em seg, 16/1/12, Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com> escreveu:
> 
> De: Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com>
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes
> Para: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>
> Data: Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2012, 0:34
> 
> Desculpe, mas dessa vez não consegui ficar quieto.
> Li e reli o artigo no link e está parecendo pretexto de quem quer se encostar. Ser pago para pensar e não produzir? Que absurdo é esse? Os maiores pensadores do século passado--antes do famigerado "neo-liberalismo"--produziam prá caramba. Olha só o Adorno, citado há pouco. E o Mário de Andrade, Curt Lange, e tantos outros. Alguém foi perguntar prá eles se eles sentiam problemas psicossomáticos, psicopatológicos e comportamentais por estarem produzindo tanto?
> Uma geração que está com a obsolescência programada? E desde quando foi diferente? Desse destino nem o Einstein escapou.
> 
> Rogério
> 
> --- On Sat, 1/14/12, Marcelo Carneiro de Lima <marcelo.arcos2 em gmail.com> wrote:
> 
> From: Marcelo Carneiro de Lima <marcelo.arcos2 em gmail.com>
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes
> To: "Alexandre Ficagna" <alexandre_ficagna em yahoo.com.br>
> Cc: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>
> Date: Saturday, January 14, 2012, 5:46 AM
> 
> Interessante o artigo, e os assuntos em pauta são extremamente pertinentes. Já estava mesmo na hora de começarmos a falar sobre estes problemas, além das muitas 'variações' que surgem a partir destes mesmos temas.
> 
> Talvez valha à pena reforçar o que já está no texto e na fala dos pesquisadores: as questões apresentadas intensificaram-se a partir da ascenção dos valores, ações político-econômicas-culturais, e preceitos do neo-liberalismo a partir dos anos 90, e seus efeitos são hoje nítidos em praticamente todas as atividades do brasileiro: dos estudantes dos ensinos fundamental e médio, ao adulto, em todas as etapas de sua vida/atividade profissional e social.
> 
> E agora...
> abs
> Marcelo Carneiro
>  
> Em 13 de janeiro de 2012 17:15, Alexandre Ficagna <alexandre_ficagna em yahoo.com.br> escreveu:
> Olá a todos,
> 
> matéria publicada no site do Andes:
> 
> http://portal.andes.org.br:8080/andes/print-ultimas-noticias.andes?id=5020
> 
> Um abraço a todos
> Alexandre Ficagna
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