[ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes?
Fernando Iazzetta
iazzetta em usp.br
Ter Jan 24 12:20:29 BRST 2012
Caros colegas,
Já manisfestei em mais de uma ocasião minha preocupação com as
discussões a respeito da produção acadêmica na área de música.
Parece-me que a discussão está muito focada na superfície do problema
e na busca de soluções imediatas. Na maior parte do tempo essas
soluções buscam simplesmente maquiar o que fazemos para que nossa
produção possa parecer compatível com a de outras áreas.
Não é raro vermos sugestões de como transformar produções artísticas
em científicas, de como convencer instrumentistas a publicar um artigo
por ano em algum congresso local para garantir seu status de
pesquisador, ou de tentar justificar nossas deficências com as
idiosincrasias da área.
Claro, tudo isso reflete uma situação voltada para a disputa por
verbas e espaços institucionais que é fundamental no sistema de
desenvolvimento acadêmico atual. Mas essa postura deixa de lado a
discussão sobre a construção de um ambiente de pesquisa consolidado e
que reflita nossas características e vontades.
Como muitos de vocês devem saber, neste momento faço parte dos grupos
de avaliação de projetos de duas agências importantes para o fomento
da pesquisa (o CNPq e a Fapesp) representando a área de artes. Essa
função, que é tansitória, me ajudou a entender um pouco melhor os
problemas estruturais da nossa produção acadêmica. Tenho certo para
mim que o problema maior não está nas agências de fomento, mas na
nossa dificuldade em lidar com nossas diferenças e particularidades e
na falta de ambiente consolidado de pesquisa. Está também na nossa
relação frágil com nossas próprias as Universidades, as quais têm se
amparado de uma maneira generalista nas diretrizes da Capes e CNPq
para estabelecer as suas próprias condutas em relação à produção
artistica e à pesquisa em arte.
Não quero entrar em detalhes aqui, mas acho que só vamos solucionar
nossas deficiências quando pudermos encará-las de frente. E a solução
certamente só vira a médio e longo prazo.
A Luciana já apontou que a Anppom terá espaço para debater isso (e
ficarei feliz se discutir o assunto na ocasião), mas acho que
precisamos de um trabalho que vá além de uma mesa redonda de 1 hora de
duração durante o Congresso. Talvez seja o momento de pensarmos num
seminário mais abrangente, em que se discuta claramente o papel que a
música (e as artes em geral) têm na univesidade e que se assuma a
difereça entre produção artística e científica, não como um problema,
mas como uma particularidade bastante rica da nossa área.
Sem isso, parece que continuaremos a criar uma imagem do que não somos
e a assumir uma vocação que talvez não tenhamos.
abraços, fernando
Citando Damián Keller <musicoyargentino em hotmail.com>:
>
>
> Caros Silvio e Rogério,
>
> Nenhum sistema de avaliação é ideal. Mas o fator de impacto é o que
> tem mais apoio da comunidade científica internacional. Voltamos ao
> ponto inicial, vamos tentar convencer a Fapesp e o CNPq de que nós
> somos diferentes e que merecemos uma fatia maior no orçamento porque
> a música é uma atividade importante, a pesar de que nenhum índice de
> produtividade indica isso?
>
> Eu tento olhar estas questões do ponto de vista prático. Qual é o
> nosso objetivo: conseguir que a área de música tenha mais peso
> financeiro, científico, artístico, institucional? Quais são os
> caminhos que temos para atingir esse objetivo?
>
> 1. convencer todas as outras áreas de que nós somos diferentes e
> portanto que precisamos de uma métrica de produtividade <própria>, ou
> 2. adaptar a forma de contabilizar nossa produção para atender as
> demandas da métrica utilizada pelo resto da comunidade científica.
>
> Cuidado, não estou falando em mudar <o que fazemos> e sim <como
> apresentamos> o que fazemos para o resto da comunidade. Acho que o
> Silvio resumiu de forma exata o ponto principal:
>
>> o que vejo de mais contundente nisto que vcs colocam é que deverá,
>> com o tempo, surgir novos habitos de produção e de referencia. nos
>> hábitos atuais escreve-se música, toca-se música, mas sem referir
>> uma pesquisa de outro.
>
> Acredito que as ferramentas para essa mudança já estão aí, o que
> falta é que nós como comunidade decidamos que queremos colocar a
> nossa área em pé de igualdade com o resto da produção científica
> brasileira.
>
> Abraços,Damián
>
>
> Dr. Damián Keller -
> Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) - Universidade Federal do
> Acre - Amazon Center for Music Research - Federal University of Acre -
> http://ccrma.stanford.edu/~dkeller
>
>
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> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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