[ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes?

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Qua Jan 25 01:55:19 BRST 2012


Caro Professor Barbeitas, grato por lê-lo na lista!

   Peço permissão para acrescentar algo as questãos que você coloca e as que já enviei ao professor Iazetta: Essa esquizofrenia acadêmica (que vejo também, claramente) tem uma característica de tirar o foco da produção de músicos para o mercado de trabalho (orquestras, grupos de câmara, projetos de ensino de que TODOS os músicos tem que participar, não só os licenciados, etc.) levando um perfil recorrente aos cursos de pós: o do músico prático frustrado, que estaria em melhor condições se pudesse atuar profissionalmente na sua área. 
     A pós infelizmente acaba abrigando esse perfil que, no entanto, não tem espaço para operar com o conhecimento em produçao musical que adquiriu na graduação. Os alunos saem da graduação sem saber fazer uma pesquisa que embase sua interpretação/composição, ou uma interpretação/composição que reflita uma pesquisa, ou muito menos situar estetica, filosófica, sociologica e historicamente os compositores que aborda para além do "nasceu, morreu, pertence a tal etiqueta estética e é inovador na escrita sob não sei que aspecto"...
    Graduação em musicologia seria o que acontece na Europa, uma universidade científica e teória e um conservatório prático? Não sei se concordo muito com essa divisão, gostaria que a formação do músico fosse mais completa para que ele pudesse justamente dialogar com as ciências humanas. Mas... 

Abraços!

Luciano Morais
--- Em ter, 24/1/12, Flavio <flateb em gmail.com> escreveu:

De: Flavio <flateb em gmail.com>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes?
Para: "Fernando Iazzetta" <iazzetta em usp.br>
Cc: anppom-l em iar.unicamp.br
Data: Terça-feira, 24 de Janeiro de 2012, 22:30

Prezados,
bem vinda a sugestão do prof. Iazzetta!Enquanto o Congresso da ANPPOM não chega, contudo, gostaria de lembrar uma característica da área de Música que nunca é suficientemente considerada nessas discussões sobre quantidade ou qualidade de nossa produção científica. Trata-se da total incongruência entre nossos cursos de graduação e pós-graduação. Enquanto os primeiros apontam para sul, os últimos se dirigem invariavelmente para o norte, configurando uma situação de esquizofrenia acadêmica que reputo sem paralelo em outras áreas. De modo geral, quem entra para uma graduação em Letras, Ciências Humanas (História, Filosofia, Ciências Sociais entre outras), Biologia ou mesmo nas Engenharias encontra um caminho mais ou menos coerente que vai ligar esses estudos de base com a pesquisa de pós-graduação. Quando não tem uma destinação muito clara para o mercado de trabalho externo à universidade, a formação nesses cursos é
 moldada pela e para a pesquisa científica, ali muito consolidada, de modo que quem se decide a continuar os estudos na Universidade encontra na pós uma diferença apenas de grau, mas não de qualidade, em relação ao curso de graduação. Bem outro é o cenário nos cursos de Música. Respondam: que percentual de nossos alunos, ao entrarem no no curso de graduação, vislumbram uma carreira ligada à pesquisa? Um por cento? Meio por cento? A quase totalidade espera tocar, compor e, além disso, se capacitar para viver como professor. E os currículos de nossos cursos de graduação estão todos, salvo engano, voltados para (tentar) suprir essa formação. Sejamos claros: o resultado disso, de um lado, são candidatos a Mestrado pouco ou nada familiarizados com os procedimentos básicos da pesquisa científica; de outro, professores  mais ou menos encastelados em suas disciplinas de pós-graduação, sem conseguir que resultados eventuais de suas
 reflexões sejam acolhidos com mais naturalidade e, sobretudo, revelem-se frutíferos nos cursos de graduação. 

Há saída para isso? Seria interessante criarmos cursos de graduação em Musicologia(s) para construirmos uma ponte entre graduação e pós? Por outro lado, se temos bacharelados em instrumento e composição, é mesmo compreensível ou viável que a chamada produção artística seja tão desvalorizada em relação à produção científica? Para a área de Música como um todo (não para os poucos "grandes" pesquisadores individuais que podem até gostar da falta de concorrência), é mesmo saudável e inteligente acreditar nessa dicotomia e eternizá-la?

Uma última questão:o prof. Budasz diz que ninguém é obrigado a ser professor de PPG. Trata-se de uma verdade apenas (e, imagino, cada vez mais) parcial. Na UFMG, por exemplo, é praticamente regra nas unidades/departamentos a progressão para a classe de professor associado estar condicionada ao trabalho na pós-graduação e à pesquisa com resultados. Imagino que esse modelo pode se reproduzir em outras IFES o que, se a rigor não é mesmo uma obrigação, não deixa de constranger ou estimular que todos atuem na pós.

Saudações,Flavio Barbeitas.

2012/1/24 Fernando Iazzetta <iazzetta em usp.br>

Caros colegas,



Já manisfestei em mais de uma ocasião minha preocupação com as discussões a respeito da produção acadêmica na área de música.



Parece-me que a discussão está muito focada na superfície do problema e na busca de soluções imediatas. Na maior parte do tempo essas soluções buscam simplesmente maquiar o que fazemos para que nossa produção possa parecer compatível com a de outras áreas.




Não é raro vermos sugestões de como transformar produções artísticas em científicas, de como convencer instrumentistas a publicar um artigo por ano em algum congresso local para garantir seu status de pesquisador, ou de tentar justificar nossas deficências com as idiosincrasias da área.




Claro, tudo isso reflete uma situação voltada para a disputa por verbas e espaços institucionais que é fundamental no sistema de desenvolvimento acadêmico atual. Mas essa postura deixa de lado a discussão sobre a construção de um ambiente de pesquisa consolidado e que reflita nossas características e vontades.




Como muitos de vocês devem saber, neste momento faço parte dos grupos de avaliação de projetos de duas agências importantes para o fomento da pesquisa (o CNPq e a Fapesp) representando a área de artes. Essa função, que é tansitória, me ajudou a entender um pouco melhor os problemas estruturais da nossa produção acadêmica. Tenho certo para mim que o problema maior não está nas agências de fomento, mas na nossa dificuldade em lidar com nossas diferenças e particularidades e na falta de ambiente consolidado de pesquisa. Está também na nossa relação frágil com nossas próprias as Universidades, as quais têm se amparado de uma maneira generalista nas diretrizes da Capes e CNPq para estabelecer as suas próprias condutas em relação à produção artistica e à pesquisa em arte.




Não quero entrar em detalhes aqui, mas acho que só vamos solucionar nossas deficiências quando pudermos encará-las de frente. E a solução certamente só vira a médio e longo prazo.



A Luciana já apontou que a Anppom terá espaço para debater isso (e ficarei feliz se discutir o assunto na ocasião), mas acho que precisamos de um trabalho que vá além de uma mesa redonda de 1 hora de duração durante o Congresso. Talvez seja o momento de pensarmos num seminário mais abrangente, em que se discuta claramente o papel que a música (e as artes em geral) têm na univesidade e que se assuma a difereça entre produção artística e científica, não como um problema, mas como uma particularidade bastante rica da nossa área.




Sem isso, parece que continuaremos a criar uma imagem do que não somos e a assumir uma vocação que talvez não tenhamos.



abraços, fernando







Citando Damián Keller <musicoyargentino em hotmail.com>:








Caros Silvio e Rogério,



Nenhum sistema de avaliação é ideal. Mas o fator de impacto é o que tem mais apoio da comunidade científica internacional. Voltamos ao ponto inicial, vamos tentar convencer a Fapesp e o CNPq de que nós somos diferentes e que merecemos uma fatia maior no orçamento porque a música é uma atividade importante, a pesar de que nenhum índice de produtividade indica isso?




Eu tento olhar estas questões do ponto de vista prático. Qual é o nosso objetivo: conseguir que a área de música tenha mais peso financeiro, científico, artístico, institucional? Quais são os caminhos que temos para atingir esse objetivo?




1. convencer todas as outras áreas de que nós somos diferentes e portanto que precisamos de uma métrica de produtividade <própria>, ou

2. adaptar a forma de contabilizar nossa produção para atender as demandas da métrica utilizada pelo resto da comunidade científica.



Cuidado, não estou falando em mudar <o que fazemos> e sim <como apresentamos> o que fazemos para o resto da comunidade. Acho que o Silvio resumiu de forma exata o ponto principal:




o que vejo de mais contundente nisto que vcs colocam é que deverá, com o tempo, surgir novos habitos de produção e de referencia. nos hábitos atuais escreve-se música, toca-se música, mas sem referir uma pesquisa de outro. 





Acredito que as ferramentas para essa mudança já estão aí, o que falta é que nós como comunidade decidamos que queremos colocar a nossa área em pé de igualdade com o resto da produção científica brasileira. 



Abraços,Damián





Dr. Damián Keller -

Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) - Universidade Federal do Acre - Amazon Center for Music Research - Federal University of Acre -

http://ccrma.stanford.edu/~dkeller







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