[ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes?

Alvaro Henrique alvaroguitar em gmail.com
Qua Jan 25 09:34:24 BRST 2012


Faço minhas as palavras do Prof. Flávio Barbeitas. Em qualquer curso a pós
está na graduação e a graduação está na pós. Na música, apenas a sub-área
da educação musical faz essa ponte. Enquanto as demais não o fizerem, a
graduação não se beneficiará de pesquisas, e a pós funcionará como um
estorvo necessário para chegar a outro objetivo.

Vejo com cautela iniciativas que visam uma "radicalização" do que é
pesquisa em música. Não acho viável continuar, muito menos intensificar, um
sistema que OBRIGA nossos melhores e mais capazes bacharéis e vários de
nossos melhores mestres e doutores em música a continuar sua formação no
exterior porque a pós no Brasil não quer os acolher.

Penso que o sistema deveria funcionar ao contrário: a pós no Brasil deveria
ser atraente o suficiente para que estrangeiros se candidatem para estudar
aqui.

Bom 2012,
Alvaro Henrique
www.alvarohenrique.com
http://www.youtube.com/watch?v=Qyv6XtsM3pY



--- Em *ter, 24/1/12, Flavio <flateb em gmail.com>* escreveu:


De: Flavio <flateb em gmail.com>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a
saúde dos docentes?
Para: "Fernando Iazzetta" <iazzetta em usp.br>
Cc: anppom-l em iar.unicamp.br
Data: Terça-feira, 24 de Janeiro de 2012, 22:30

Prezados,

bem vinda a sugestão do prof. Iazzetta!
Enquanto o Congresso da ANPPOM não chega, contudo, gostaria de lembrar uma
característica da área de Música que nunca é suficientemente considerada
nessas discussões sobre quantidade ou qualidade de nossa produção
científica. Trata-se da total incongruência entre nossos cursos de
graduação e pós-graduação. Enquanto os primeiros apontam para sul, os
últimos se dirigem invariavelmente para o norte, configurando uma situação
de esquizofrenia acadêmica que reputo sem paralelo em outras áreas. De modo
geral, quem entra para uma graduação em Letras, Ciências Humanas (História,
Filosofia, Ciências Sociais entre outras), Biologia ou mesmo nas
Engenharias encontra um caminho mais ou menos coerente que vai ligar esses
estudos de base com a pesquisa de pós-graduação. Quando não tem uma
destinação muito clara para o mercado de trabalho externo à universidade, a
formação nesses cursos é moldada pela e para a pesquisa científica, ali
muito consolidada, de modo que quem se decide a continuar os estudos na
Universidade encontra na pós uma diferença apenas de grau, mas não de
qualidade, em relação ao curso de graduação. Bem outro é o cenário nos
cursos de Música. Respondam: que percentual de nossos alunos, ao entrarem
no no curso de graduação, vislumbram uma carreira ligada à pesquisa? Um por
cento? Meio por cento? A quase totalidade espera tocar, compor e, além
disso, se capacitar para viver como professor. E os currículos de nossos
cursos de graduação estão todos, salvo engano, voltados para (tentar)
suprir essa formação. Sejamos claros: o resultado disso, de um lado, são
candidatos a Mestrado pouco ou nada familiarizados com os procedimentos
básicos da pesquisa científica; de outro, professores  mais ou menos
encastelados em suas disciplinas de pós-graduação, sem conseguir que
resultados eventuais de suas reflexões sejam acolhidos com mais
naturalidade e, sobretudo, revelem-se frutíferos nos cursos de graduação.

Há saída para isso? Seria interessante criarmos cursos de graduação em
Musicologia(s) para construirmos uma ponte entre graduação e pós? Por outro
lado, se temos bacharelados em instrumento e composição, é mesmo
compreensível ou viável que a chamada produção artística seja tão
desvalorizada em relação à produção científica? Para a área de Música como
um todo (não para os poucos "grandes" pesquisadores individuais que podem
até gostar da falta de concorrência), é mesmo saudável e inteligente
acreditar nessa dicotomia e eternizá-la?

Uma última questão:
o prof. Budasz diz que ninguém é obrigado a ser professor de PPG. Trata-se
de uma verdade apenas (e, imagino, cada vez mais) parcial. Na UFMG, por
exemplo, é praticamente regra nas unidades/departamentos a progressão para
a classe de professor associado estar condicionada ao trabalho na
pós-graduação e à pesquisa com resultados. Imagino que esse modelo pode se
reproduzir em outras IFES o que, se a rigor não é mesmo uma obrigação, não
deixa de constranger ou estimular que todos atuem na pós.

Saudações,
Flavio Barbeitas.


2012/1/24 Fernando Iazzetta
<iazzetta em usp.br<http://mc/compose?to=iazzetta@usp.br>
>

Caros colegas,

Já manisfestei em mais de uma ocasião minha preocupação com as discussões a
respeito da produção acadêmica na área de música.

Parece-me que a discussão está muito focada na superfície do problema e na
busca de soluções imediatas. Na maior parte do tempo essas soluções buscam
simplesmente maquiar o que fazemos para que nossa produção possa parecer
compatível com a de outras áreas.

Não é raro vermos sugestões de como transformar produções artísticas em
científicas, de como convencer instrumentistas a publicar um artigo por ano
em algum congresso local para garantir seu status de pesquisador, ou de
tentar justificar nossas deficências com as idiosincrasias da área.

Claro, tudo isso reflete uma situação voltada para a disputa por verbas e
espaços institucionais que é fundamental no sistema de desenvolvimento
acadêmico atual. Mas essa postura deixa de lado a discussão sobre a
construção de um ambiente de pesquisa consolidado e que reflita nossas
características e vontades.

Como muitos de vocês devem saber, neste momento faço parte dos grupos de
avaliação de projetos de duas agências importantes para o fomento da
pesquisa (o CNPq e a Fapesp) representando a área de artes. Essa função,
que é tansitória, me ajudou a entender um pouco melhor os problemas
estruturais da nossa produção acadêmica. Tenho certo para mim que o
problema maior não está nas agências de fomento, mas na nossa dificuldade
em lidar com nossas diferenças e particularidades e na falta de ambiente
consolidado de pesquisa. Está também na nossa relação frágil com nossas
próprias as Universidades, as quais têm se amparado de uma maneira
generalista nas diretrizes da Capes e CNPq para estabelecer as suas
próprias condutas em relação à produção artistica e à pesquisa em arte.

Não quero entrar em detalhes aqui, mas acho que só vamos solucionar nossas
deficiências quando pudermos encará-las de frente. E a solução certamente
só vira a médio e longo prazo.

A Luciana já apontou que a Anppom terá espaço para debater isso (e ficarei
feliz se discutir o assunto na ocasião), mas acho que precisamos de um
trabalho que vá além de uma mesa redonda de 1 hora de duração durante o
Congresso. Talvez seja o momento de pensarmos num seminário mais
abrangente, em que se discuta claramente o papel que a música (e as artes
em geral) têm na univesidade e que se assuma a difereça entre produção
artística e científica, não como um problema, mas como uma particularidade
bastante rica da nossa área.

Sem isso, parece que continuaremos a criar uma imagem do que não somos e a
assumir uma vocação que talvez não tenhamos.

abraços, fernando



Citando Damián Keller
<musicoyargentino em hotmail.com<http://mc/compose?to=musicoyargentino@hotmail.com>
>**:



Caros Silvio e Rogério,

Nenhum sistema de avaliação é ideal. Mas o fator de impacto é o que tem
mais apoio da comunidade científica internacional. Voltamos ao ponto
inicial, vamos tentar convencer a Fapesp e o CNPq de que nós somos
diferentes e que merecemos uma fatia maior no orçamento porque a música é
uma atividade importante, a pesar de que nenhum índice de produtividade
indica isso?

Eu tento olhar estas questões do ponto de vista prático. Qual é o nosso
objetivo: conseguir que a área de música tenha mais peso financeiro,
científico, artístico, institucional? Quais são os caminhos que temos para
atingir esse objetivo?

1. convencer todas as outras áreas de que nós somos diferentes e portanto
que precisamos de uma métrica de produtividade <própria>, ou
2. adaptar a forma de contabilizar nossa produção para atender as demandas
da métrica utilizada pelo resto da comunidade científica.

Cuidado, não estou falando em mudar <o que fazemos> e sim <como
apresentamos> o que fazemos para o resto da comunidade. Acho que o Silvio
resumiu de forma exata o ponto principal:

o que vejo de mais contundente nisto que vcs colocam é que deverá, com o
tempo, surgir novos habitos de produção e de referencia. nos hábitos atuais
escreve-se música, toca-se música, mas sem referir uma pesquisa de outro.


Acredito que as ferramentas para essa mudança já estão aí, o que falta é
que nós como comunidade decidamos que queremos colocar a nossa área em pé
de igualdade com o resto da produção científica brasileira.

Abraços,Damián


Dr. Damián Keller -
Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) - Universidade Federal do Acre -
Amazon Center for Music Research - Federal University of Acre -
http://ccrma.stanford.edu/~**dkeller <http://ccrma.stanford.edu/%7Edkeller>



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