[ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes ?

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Qui Jan 26 21:25:20 BRST 2012


Caro Fernando,

muito oportuna e lúcida a sua colocação.
concordo plenamente com vc.
atualmente participo da câmara de pesquisa de minha universidade
(universidade estadual de londrina), como representante da comissão de
pesquisa do ceca (centro de educação, comunicação e artes), e também sou
integrante de uma comissão que está, há 3 anos, implantando um programa de
iniciação à pesquisa em arte (proart), com bolsas de iniciação científica
destinadas a alunos de graduação em música, teatro, artes visuais e
design.
o proart (a ser regulamentado neste ano) está em sua terceira edição  e,
no ano passado, realizamos o 1. fórum proart.
neste evento, que contou com a participação do dr. milton sogabe
(coordenador adjunto das artes na capes), ficou evidente a "nossa
dificuldade em lidar com nossas diferenças e particularidades e na falta
de ambiente consolidado de pesquisa", tal qual vc coloca em seu texto.
além disso, várias questões vieram à tona, dentre elas a dúvida que alguns
professores/pesquisadores têm em relação à necessidade de se escrever um
texto acadêmico, além da produção artística em si, necessariamente
resultante da própria pesquisa.
enfim, não tenho a menor intenção de discutir sobre esse tema, polêmico,
neste espaço, e nem estou afirmando que as dúvidas levantadas pelos
professores representam a posição da comissão do proart.
gostaria, apenas, de reforçar sua sugestão, junto à diretoria da anppom,
de que um amplo espaço (um seminário) seja direcionado a essa questão no
nosso próximo encontro. tenho certeza que uma ampla discussão sobre a
pesquisa em arte será de grande valia,nesse momento, para o nosso programa
(proart) e para todos nós.

att.

Fátima C. Santos



> Caros colegas,
>
> Já manisfestei em mais de uma ocasião minha preocupação com as
> discussões a respeito da produção acadêmica na área de música.
>
> Parece-me que a discussão está muito focada na superfície do problema
> e na busca de soluções imediatas. Na maior parte do tempo essas
> soluções buscam simplesmente maquiar o que fazemos para que nossa
> produção possa parecer compatível com a de outras áreas.
>
> Não é raro vermos sugestões de como transformar produções artísticas
> em científicas, de como convencer instrumentistas a publicar um artigo
> por ano em algum congresso local para garantir seu status de
> pesquisador, ou de tentar justificar nossas deficências com as
> idiosincrasias da área.
>
> Claro, tudo isso reflete uma situação voltada para a disputa por
> verbas e espaços institucionais que é fundamental no sistema de
> desenvolvimento acadêmico atual. Mas essa postura deixa de lado a
> discussão sobre a construção de um ambiente de pesquisa consolidado e
> que reflita nossas características e vontades.
>
> Como muitos de vocês devem saber, neste momento faço parte dos grupos
> de avaliação de projetos de duas agências importantes para o fomento
> da pesquisa (o CNPq e a Fapesp) representando a área de artes. Essa
> função, que é tansitória, me ajudou a entender um pouco melhor os
> problemas estruturais da nossa produção acadêmica. Tenho certo para
> mim que o problema maior não está nas agências de fomento, mas na
> nossa dificuldade em lidar com nossas diferenças e particularidades e
> na falta de ambiente consolidado de pesquisa. Está também na nossa
> relação frágil com nossas próprias as Universidades, as quais têm se
> amparado de uma maneira generalista nas diretrizes da Capes e CNPq
> para estabelecer as suas próprias condutas em relação à produção
> artistica e à pesquisa em arte.
>
> Não quero entrar em detalhes aqui, mas acho que só vamos solucionar
> nossas deficiências quando pudermos encará-las de frente. E a solução
> certamente só vira a médio e longo prazo.
>
> A Luciana já apontou que a Anppom terá espaço para debater isso (e
> ficarei feliz se discutir o assunto na ocasião), mas acho que
> precisamos de um trabalho que vá além de uma mesa redonda de 1 hora de
> duração durante o Congresso. Talvez seja o momento de pensarmos num
> seminário mais abrangente, em que se discuta claramente o papel que a
> música (e as artes em geral) têm na univesidade e que se assuma a
> difereça entre produção artística e científica, não como um problema,
> mas como uma particularidade bastante rica da nossa área.
>
> Sem isso, parece que continuaremos a criar uma imagem do que não somos
> e a assumir uma vocação que talvez não tenhamos.
>
> abraços, fernando
>





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