[ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência

Alvaro Henrique alvaroguitar em gmail.com
Qui Jun 14 23:18:15 BRT 2012


Sílvio (permita-me chamá-lo apenas por seu nome), ao optar pela opção
"responder" ao invés da "responder a todos", os e-mails acabam não sendo
enviados à lista, mas apenas ao autor da mensagem respondida.

Acredito que um qualis em performance é extremamente simples, provavelmente
mais simples que na composição - talvez porque sou da performance vejo
assim ;-) . Mas veja só:

- não é a mesma coisa tocar no auditório do próprio local de trabalho e
tocar no Carnegie Hall;
- não é a mesma coisa tocar numa orquestra de projeto social e ser solista
da Berliner;
- não é a mesma coisa organizar a própria apresentação e ser aprovado pra
tocar no maior congresso da sua área;
- não é a mesma coisa fazer um recital isolado e fazer uma turnê de
lançamento de CD.

Etc...

Dá trabalho, talvez não seja interessante, mas é viável. Claro que a
primeira versão terá falhas, mas só é aprimorável o quê já existe. Já tem
um protótipo disso, como ser performance em evento acadêmico, ter âmbito
nacional, local ou internacional, etc.

E, ao contrário do que pensa o autor da matéria do jornal, uma performance
A1 tem de valer o mesmo de um artigo A1, além da performance ter de ser
avaliada por parâmetros da performance, não por de outro tipo de produção.
O fato de "regência de coros comunitários" ser objeto de artigos A1 não
deve fazer com que, para o qualis de performance, reger um coro de igreja
valha mais que reger a Wiener Philharmoniker. Afinal, a proposta dele era
que seu livro, por poder ser hipoteticamente objeto de estudo de um
possível artigo qualificável como A1, deve inevitavelmente pontuar mais que
um artigo A1 sempre. Especialmente se o livro for escrito por um professor
e o artigo por um aluno, óbvio. Mais geração x, impossível. Desculpe a
cutucada, aqui não é o local apropriado pra discutir conflito de gerações.

Provavelmente se compositores se dedicarem a pensar um pouco sobre um
qualis de composição serão encontradas essas diferenças óbvias que podem
gerar uma proposta de qualis que terá falhas, mas a vida é assim. Só
podemos discutir sobre melhorar o lattes havendo um lattes, não é mesmo?

Correndo o risco de falar uma bobagem imensa, por meter o dedo de outra
área, acho que faz sentido a Bienal pontuar como B1. Ela é demasiado
nacional, em alguns aspectos extremamente local, pra pleitear um qualis
maior que isso, apesar da peneira certamente ser dura. Desculpe-me se
estiver mal informado, mas me parece que os intérpretes da bienal são
apenas músicos da cidade que a organiza. Isso é um dos fatores que limita o
alcance e a relevância do evento em muitos aspectos, que vão desde
a intérpretes trabalhando em ritmo de produção que compromete as
performances à pouca repercussão das obras - afinal, é natural que
intérpretes que preparam uma obra para um evento importante a toquem em
pelo menos uma ocasião mais, e se 100 intérpretes de 1 cidade a toquem de
novo, foi apenas uma reprise na mesma cidade, provavelmente pro mesmo
público, enquanto 100 músicos de 100 cidades que a toquem de novo gerarão
100 outras cidades e milhares de outros ouvintes apreciando um pouquinho da
bienal. O fato da Bienal não ser um evento itinerante e não gerar gravações
também não ajuda. Já que apenas os moradores de uma cidade e os
compositores prestigiados podem apreciar o evento, o alcance fica
incrivelmente menor que eventos de pequeno porte, como o Festival de Música
Clásica Contemporánea de Lima, que transmite as apresentações ao vivo pela
internet, produz ao final CDs com trechos de cada um dos recitais, e conta
com a presença de compositores e intérpretes de quatro a seis países
diferentes.

Concordo que o julgamento de qualis deve ser mais focado em relevância e
alcance que qualidade (tanto composição quanto performance). Sem dúvida o
fato de uma apresentação ter acontecido ou de uma composição ter sido
tocada significa que ela já teve seu mérito de qualidade julgado como
satisfatório, do contrário aquela performance não ocorreria.

Abraços,
Alvaro Henrique





Em 11 de junho de 2012 19:44, Damián Keller
<musicoyargentino em hotmail.com>escreveu:

>
> Reencaminhando...
>
> Abraços,
> Damián
>
> Dr. Damián Keller - Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) -
> Universidade Federal do Acre - Amazon Center for Music Research - Federal
> University of Acre - http://ccrma.stanford.edu/~dkeller
>
>
> ------------------------------
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre
> arte e ciência
> From: silvioferrazmello em uol.com.br
> Date: Wed, 6 Jun 2012 10:10:29 -0300
> CC: musicoyargentino em hotmail.com
> To: alexandre_ficagna em yahoo.com.br; rcaesar em oi.com.br;
> carole.gubernikoff em gmail.com
>
> Como minhas mensagens não são postadas na lista da ANPPOM, escrevo a vcs...
>
> Falando da composição, minha área de atuação:
>
> Existe uma grande diferença entre produção artística e produção científica.
> A primeira dela diz respeito a arte da performance: "l'art de la
> répétition" ... "rehearsal art"
> O que para um teórico seria repetir, repetir um artigo ou palestra aqui ou
> acolá, na arte é outra coisa: repetir uma obra tem implicações muito mais
> sérias e interessantes do que simplesmente se repetir.
>
> Do mesmo modo que tocar um concerto duas vezes não é se repetir (o
> repertório é sempre retrabalhado, sempre envolve boas horas de estudo), ter
> uma obra tocada duas vezes ao ano, por grupos diferentes ou pelo mesmo
> grupo mas em lugares muito diferentes, não é se repetir.
> Envolve contato com o grupo, ensaios, reensaios, ajustes de partitura.
> Por outro lado a repetição de uma obra em concerto demonstra o
> amadurecimento de um trabalho.
> É comum a estreia de uma obra, mas é raro ela ser reapresentada, sobretudo
> reapresentada por grupos diferentes, o que demonstra crescimento da obra e
> de sua recepção.
>
> No que diz respeito à criação propriamente dita: Ok, escrevemos a peça uma
> vez só, no entanto não temos como publica-la. Por isto o erro de
> considerar-se a estreia como publicação. Qdo publicação é publicação, seja
> digital ou analógica. O mesmo vale para gravação, que também não substitui
> a publicação nem a estreia.
>
> Neste sentido é que necessitamos de um qualis de composição sério,
> distinto de qq qualis de livro ou congresso.
> Ok, podemos ter um primeiro critério: espaços de abrangência
> internacional, nacional, local; editoras idem; gravadoras idem.
> Mas temos também o repertório envolvido, sua dificuldade.
> Uma obra para orquestra tem uma certa complexidade de escrita, mas a mesma
> coisa se dá para um solo...ou seja, não pode ser por aí.
>
> Por outro lado... a avaliação por pares: isto já ocorre no processo de
> seleção para concertos, não precisa ser refeito no qualis....aliás, o tempo
> de avaliação de uma banca para uma bienal é bem maior do que o do avaliador
> capes...o que torna sua qualificação falha.
>
> Minha sugestão é:
> 1. avaliação do local de difusão (concerto, evento, editora, gravadora:
> internacional, nacional, local; com/sem conselho; com/sem processo seletivo
> por pares)
> 2. avaliação do grupo encarregado pela difusão (internacional, nacional,
> local)
> 3. avaliação de amadurecimento: estreia, apresentação (considerando-se
> distancia mínima entre apresentações e se com o mesmo ensemble ou
> performer, que configure retrabalho..equivalendo assim estreia e
> apresentação)
>
> A coisa é simples e não devemos nunca entrar em méritos de qualidade do
> trabalho: isto quem qualifica é o grupo que selecionou a obra, o evento que
> a aceitou, a gravadora, ou a editora. Já basta ter papers esculhambado por
> razões de discordância teórica...isto se multiplica exponencialmente no
> caso de trabalhos artísticos...
>
> abs
> Silvio
>
>
>
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20120614/5b66e2da/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L