[ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência

lcm em usp.br lcm em usp.br
Sex Jun 15 09:18:19 BRT 2012


Caro Álvaro, Silvio e demais da lista,

Quanto ao parágrafo 5 da resposta do Álvaro ("Correndo o risco de  
falar uma bobagem imensa..."):

    Me pergunto se realmente é diferente se apresentar em um evento  
local (a tal B1) e numa grande sala, se o conteúdo da interpretação ou  
composição é o que realmente faz a diferença. Já que por um vídeo na  
internet e broadcast yourself (desculpem: divulgar a sua produção  
acadêmica) é coisa que absolutamente QUALQUER UM pode fazer. A  
diferença não reside por aí...
    Eu gostaria que fosse considerada a questão dos critérios de modo  
a diferenciar a produção universitária da produção para e do mercado.  
Nosso modelo já é excessivamente americano, em tudo o que o modelo  
americano tem de ruim (comprometimento com empresas, dinheiro,  
produção para o mercado) sem trazer o que ele tem de bom (basicamente,  
recursos).
    Será que estamos realmente discutindo se o que deve ser avaliado  
na produção artística universitária é o conteúdo ou a embalagem?  
Concordo com o Sílvio que a discussão sobre conteúdo é imensamente  
difícil, mas avaliar o "impacto na área" (aliás, o que vem a ser  
"relevância" de uma obra ou de uma execução?) me parece igualmente  
estranho.
Abraços,

Luciano


Citando Alvaro Henrique <alvaroguitar em gmail.com>:

> Sílvio (permita-me chamá-lo apenas por seu nome), ao optar pela opção
> "responder" ao invés da "responder a todos", os e-mails acabam não sendo
> enviados à lista, mas apenas ao autor da mensagem respondida.
>
> Acredito que um qualis em performance é extremamente simples, provavelmente
> mais simples que na composição - talvez porque sou da performance vejo
> assim ;-) . Mas veja só:
>
> - não é a mesma coisa tocar no auditório do próprio local de trabalho e
> tocar no Carnegie Hall;
> - não é a mesma coisa tocar numa orquestra de projeto social e ser solista
> da Berliner;
> - não é a mesma coisa organizar a própria apresentação e ser aprovado pra
> tocar no maior congresso da sua área;
> - não é a mesma coisa fazer um recital isolado e fazer uma turnê de
> lançamento de CD.
>
> Etc...
>
> Dá trabalho, talvez não seja interessante, mas é viável. Claro que a
> primeira versão terá falhas, mas só é aprimorável o quê já existe. Já tem
> um protótipo disso, como ser performance em evento acadêmico, ter âmbito
> nacional, local ou internacional, etc.
>
> E, ao contrário do que pensa o autor da matéria do jornal, uma performance
> A1 tem de valer o mesmo de um artigo A1, além da performance ter de ser
> avaliada por parâmetros da performance, não por de outro tipo de produção.
> O fato de "regência de coros comunitários" ser objeto de artigos A1 não
> deve fazer com que, para o qualis de performance, reger um coro de igreja
> valha mais que reger a Wiener Philharmoniker. Afinal, a proposta dele era
> que seu livro, por poder ser hipoteticamente objeto de estudo de um
> possível artigo qualificável como A1, deve inevitavelmente pontuar mais que
> um artigo A1 sempre. Especialmente se o livro for escrito por um professor
> e o artigo por um aluno, óbvio. Mais geração x, impossível. Desculpe a
> cutucada, aqui não é o local apropriado pra discutir conflito de gerações.
>
> Provavelmente se compositores se dedicarem a pensar um pouco sobre um
> qualis de composição serão encontradas essas diferenças óbvias que podem
> gerar uma proposta de qualis que terá falhas, mas a vida é assim. Só
> podemos discutir sobre melhorar o lattes havendo um lattes, não é mesmo?
>
> Correndo o risco de falar uma bobagem imensa, por meter o dedo de outra
> área, acho que faz sentido a Bienal pontuar como B1. Ela é demasiado
> nacional, em alguns aspectos extremamente local, pra pleitear um qualis
> maior que isso, apesar da peneira certamente ser dura. Desculpe-me se
> estiver mal informado, mas me parece que os intérpretes da bienal são
> apenas músicos da cidade que a organiza. Isso é um dos fatores que limita o
> alcance e a relevância do evento em muitos aspectos, que vão desde
> a intérpretes trabalhando em ritmo de produção que compromete as
> performances à pouca repercussão das obras - afinal, é natural que
> intérpretes que preparam uma obra para um evento importante a toquem em
> pelo menos uma ocasião mais, e se 100 intérpretes de 1 cidade a toquem de
> novo, foi apenas uma reprise na mesma cidade, provavelmente pro mesmo
> público, enquanto 100 músicos de 100 cidades que a toquem de novo gerarão
> 100 outras cidades e milhares de outros ouvintes apreciando um pouquinho da
> bienal. O fato da Bienal não ser um evento itinerante e não gerar gravações
> também não ajuda. Já que apenas os moradores de uma cidade e os
> compositores prestigiados podem apreciar o evento, o alcance fica
> incrivelmente menor que eventos de pequeno porte, como o Festival de Música
> Clásica Contemporánea de Lima, que transmite as apresentações ao vivo pela
> internet, produz ao final CDs com trechos de cada um dos recitais, e conta
> com a presença de compositores e intérpretes de quatro a seis países
> diferentes.
>
> Concordo que o julgamento de qualis deve ser mais focado em relevância e
> alcance que qualidade (tanto composição quanto performance). Sem dúvida o
> fato de uma apresentação ter acontecido ou de uma composição ter sido
> tocada significa que ela já teve seu mérito de qualidade julgado como
> satisfatório, do contrário aquela performance não ocorreria.
>
> Abraços,
> Alvaro Henrique
>
>
>
>
>
> Em 11 de junho de 2012 19:44, Damián Keller
> <musicoyargentino em hotmail.com>escreveu:
>
>>
>> Reencaminhando...
>>
>> Abraços,
>> Damián
>>
>> Dr. Damián Keller - Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) -
>> Universidade Federal do Acre - Amazon Center for Music Research - Federal
>> University of Acre - http://ccrma.stanford.edu/~dkeller
>>
>>
>> ------------------------------
>> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre
>> arte e ciência
>> From: silvioferrazmello em uol.com.br
>> Date: Wed, 6 Jun 2012 10:10:29 -0300
>> CC: musicoyargentino em hotmail.com
>> To: alexandre_ficagna em yahoo.com.br; rcaesar em oi.com.br;
>> carole.gubernikoff em gmail.com
>>
>> Como minhas mensagens não são postadas na lista da ANPPOM, escrevo a vcs...
>>
>> Falando da composição, minha área de atuação:
>>
>> Existe uma grande diferença entre produção artística e produção científica.
>> A primeira dela diz respeito a arte da performance: "l'art de la
>> répétition" ... "rehearsal art"
>> O que para um teórico seria repetir, repetir um artigo ou palestra aqui ou
>> acolá, na arte é outra coisa: repetir uma obra tem implicações muito mais
>> sérias e interessantes do que simplesmente se repetir.
>>
>> Do mesmo modo que tocar um concerto duas vezes não é se repetir (o
>> repertório é sempre retrabalhado, sempre envolve boas horas de estudo), ter
>> uma obra tocada duas vezes ao ano, por grupos diferentes ou pelo mesmo
>> grupo mas em lugares muito diferentes, não é se repetir.
>> Envolve contato com o grupo, ensaios, reensaios, ajustes de partitura.
>> Por outro lado a repetição de uma obra em concerto demonstra o
>> amadurecimento de um trabalho.
>> É comum a estreia de uma obra, mas é raro ela ser reapresentada, sobretudo
>> reapresentada por grupos diferentes, o que demonstra crescimento da obra e
>> de sua recepção.
>>
>> No que diz respeito à criação propriamente dita: Ok, escrevemos a peça uma
>> vez só, no entanto não temos como publica-la. Por isto o erro de
>> considerar-se a estreia como publicação. Qdo publicação é publicação, seja
>> digital ou analógica. O mesmo vale para gravação, que também não substitui
>> a publicação nem a estreia.
>>
>> Neste sentido é que necessitamos de um qualis de composição sério,
>> distinto de qq qualis de livro ou congresso.
>> Ok, podemos ter um primeiro critério: espaços de abrangência
>> internacional, nacional, local; editoras idem; gravadoras idem.
>> Mas temos também o repertório envolvido, sua dificuldade.
>> Uma obra para orquestra tem uma certa complexidade de escrita, mas a mesma
>> coisa se dá para um solo...ou seja, não pode ser por aí.
>>
>> Por outro lado... a avaliação por pares: isto já ocorre no processo de
>> seleção para concertos, não precisa ser refeito no qualis....aliás, o tempo
>> de avaliação de uma banca para uma bienal é bem maior do que o do avaliador
>> capes...o que torna sua qualificação falha.
>>
>> Minha sugestão é:
>> 1. avaliação do local de difusão (concerto, evento, editora, gravadora:
>> internacional, nacional, local; com/sem conselho; com/sem processo seletivo
>> por pares)
>> 2. avaliação do grupo encarregado pela difusão (internacional, nacional,
>> local)
>> 3. avaliação de amadurecimento: estreia, apresentação (considerando-se
>> distancia mínima entre apresentações e se com o mesmo ensemble ou
>> performer, que configure retrabalho..equivalendo assim estreia e
>> apresentação)
>>
>> A coisa é simples e não devemos nunca entrar em méritos de qualidade do
>> trabalho: isto quem qualifica é o grupo que selecionou a obra, o evento que
>> a aceitou, a gravadora, ou a editora. Já basta ter papers esculhambado por
>> razões de discordância teórica...isto se multiplica exponencialmente no
>> caso de trabalhos artísticos...
>>
>> abs
>> Silvio
>>
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