[ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência

silvioferrazmello silvioferrazmello em uol.com.br
Dom Jun 17 11:41:22 BRT 2012


aí tenho de concordar um pouco com "o sistema"...
para apresentação em uma sala grande existe um conselho, uma direção artística etc...que de certo modo qualifica o evento.
a qualificação de um artigo se dá pela revista em que ele foi publicado, o de um livro pela editora...o de concertos pela equação evento/espaço.
ou seja, a avaliação do conteúdo, da técnica, do repertório, etc. estaria avaliada pelo local/editora/evento/revista de difusão.

abs
silvio


On Jun 15, 2012, at 9:18 AM, lcm em usp.br wrote:

> Caro Álvaro, Silvio e demais da lista,
> 
> Quanto ao parágrafo 5 da resposta do Álvaro ("Correndo o risco de falar uma bobagem imensa..."):
> 
>   Me pergunto se realmente é diferente se apresentar em um evento local (a tal B1) e numa grande sala, se o conteúdo da interpretação ou composição é o que realmente faz a diferença. Já que por um vídeo na internet e broadcast yourself (desculpem: divulgar a sua produção acadêmica) é coisa que absolutamente QUALQUER UM pode fazer. A diferença não reside por aí...
>   Eu gostaria que fosse considerada a questão dos critérios de modo a diferenciar a produção universitária da produção para e do mercado. Nosso modelo já é excessivamente americano, em tudo o que o modelo americano tem de ruim (comprometimento com empresas, dinheiro, produção para o mercado) sem trazer o que ele tem de bom (basicamente, recursos).
>   Será que estamos realmente discutindo se o que deve ser avaliado na produção artística universitária é o conteúdo ou a embalagem? Concordo com o Sílvio que a discussão sobre conteúdo é imensamente difícil, mas avaliar o "impacto na área" (aliás, o que vem a ser "relevância" de uma obra ou de uma execução?) me parece igualmente estranho.
> Abraços,
> 
> Luciano
> 
> 
> Citando Alvaro Henrique <alvaroguitar em gmail.com>:
> 
>> Sílvio (permita-me chamá-lo apenas por seu nome), ao optar pela opção
>> "responder" ao invés da "responder a todos", os e-mails acabam não sendo
>> enviados à lista, mas apenas ao autor da mensagem respondida.
>> 
>> Acredito que um qualis em performance é extremamente simples, provavelmente
>> mais simples que na composição - talvez porque sou da performance vejo
>> assim ;-) . Mas veja só:
>> 
>> - não é a mesma coisa tocar no auditório do próprio local de trabalho e
>> tocar no Carnegie Hall;
>> - não é a mesma coisa tocar numa orquestra de projeto social e ser solista
>> da Berliner;
>> - não é a mesma coisa organizar a própria apresentação e ser aprovado pra
>> tocar no maior congresso da sua área;
>> - não é a mesma coisa fazer um recital isolado e fazer uma turnê de
>> lançamento de CD.
>> 
>> Etc...
>> 
>> Dá trabalho, talvez não seja interessante, mas é viável. Claro que a
>> primeira versão terá falhas, mas só é aprimorável o quê já existe. Já tem
>> um protótipo disso, como ser performance em evento acadêmico, ter âmbito
>> nacional, local ou internacional, etc.
>> 
>> E, ao contrário do que pensa o autor da matéria do jornal, uma performance
>> A1 tem de valer o mesmo de um artigo A1, além da performance ter de ser
>> avaliada por parâmetros da performance, não por de outro tipo de produção.
>> O fato de "regência de coros comunitários" ser objeto de artigos A1 não
>> deve fazer com que, para o qualis de performance, reger um coro de igreja
>> valha mais que reger a Wiener Philharmoniker. Afinal, a proposta dele era
>> que seu livro, por poder ser hipoteticamente objeto de estudo de um
>> possível artigo qualificável como A1, deve inevitavelmente pontuar mais que
>> um artigo A1 sempre. Especialmente se o livro for escrito por um professor
>> e o artigo por um aluno, óbvio. Mais geração x, impossível. Desculpe a
>> cutucada, aqui não é o local apropriado pra discutir conflito de gerações.
>> 
>> Provavelmente se compositores se dedicarem a pensar um pouco sobre um
>> qualis de composição serão encontradas essas diferenças óbvias que podem
>> gerar uma proposta de qualis que terá falhas, mas a vida é assim. Só
>> podemos discutir sobre melhorar o lattes havendo um lattes, não é mesmo?
>> 
>> Correndo o risco de falar uma bobagem imensa, por meter o dedo de outra
>> área, acho que faz sentido a Bienal pontuar como B1. Ela é demasiado
>> nacional, em alguns aspectos extremamente local, pra pleitear um qualis
>> maior que isso, apesar da peneira certamente ser dura. Desculpe-me se
>> estiver mal informado, mas me parece que os intérpretes da bienal são
>> apenas músicos da cidade que a organiza. Isso é um dos fatores que limita o
>> alcance e a relevância do evento em muitos aspectos, que vão desde
>> a intérpretes trabalhando em ritmo de produção que compromete as
>> performances à pouca repercussão das obras - afinal, é natural que
>> intérpretes que preparam uma obra para um evento importante a toquem em
>> pelo menos uma ocasião mais, e se 100 intérpretes de 1 cidade a toquem de
>> novo, foi apenas uma reprise na mesma cidade, provavelmente pro mesmo
>> público, enquanto 100 músicos de 100 cidades que a toquem de novo gerarão
>> 100 outras cidades e milhares de outros ouvintes apreciando um pouquinho da
>> bienal. O fato da Bienal não ser um evento itinerante e não gerar gravações
>> também não ajuda. Já que apenas os moradores de uma cidade e os
>> compositores prestigiados podem apreciar o evento, o alcance fica
>> incrivelmente menor que eventos de pequeno porte, como o Festival de Música
>> Clásica Contemporánea de Lima, que transmite as apresentações ao vivo pela
>> internet, produz ao final CDs com trechos de cada um dos recitais, e conta
>> com a presença de compositores e intérpretes de quatro a seis países
>> diferentes.
>> 
>> Concordo que o julgamento de qualis deve ser mais focado em relevância e
>> alcance que qualidade (tanto composição quanto performance). Sem dúvida o
>> fato de uma apresentação ter acontecido ou de uma composição ter sido
>> tocada significa que ela já teve seu mérito de qualidade julgado como
>> satisfatório, do contrário aquela performance não ocorreria.
>> 
>> Abraços,
>> Alvaro Henrique
>> 
>> 
>> 
>> 
>> 
>> Em 11 de junho de 2012 19:44, Damián Keller
>> <musicoyargentino em hotmail.com>escreveu:
>> 
>>> 
>>> Reencaminhando...
>>> 
>>> Abraços,
>>> Damián
>>> 
>>> Dr. Damián Keller - Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) -
>>> Universidade Federal do Acre - Amazon Center for Music Research - Federal
>>> University of Acre - http://ccrma.stanford.edu/~dkeller
>>> 
>>> 
>>> ------------------------------
>>> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre
>>> arte e ciência
>>> From: silvioferrazmello em uol.com.br
>>> Date: Wed, 6 Jun 2012 10:10:29 -0300
>>> CC: musicoyargentino em hotmail.com
>>> To: alexandre_ficagna em yahoo.com.br; rcaesar em oi.com.br;
>>> carole.gubernikoff em gmail.com
>>> 
>>> Como minhas mensagens não são postadas na lista da ANPPOM, escrevo a vcs...
>>> 
>>> Falando da composição, minha área de atuação:
>>> 
>>> Existe uma grande diferença entre produção artística e produção científica.
>>> A primeira dela diz respeito a arte da performance: "l'art de la
>>> répétition" ... "rehearsal art"
>>> O que para um teórico seria repetir, repetir um artigo ou palestra aqui ou
>>> acolá, na arte é outra coisa: repetir uma obra tem implicações muito mais
>>> sérias e interessantes do que simplesmente se repetir.
>>> 
>>> Do mesmo modo que tocar um concerto duas vezes não é se repetir (o
>>> repertório é sempre retrabalhado, sempre envolve boas horas de estudo), ter
>>> uma obra tocada duas vezes ao ano, por grupos diferentes ou pelo mesmo
>>> grupo mas em lugares muito diferentes, não é se repetir.
>>> Envolve contato com o grupo, ensaios, reensaios, ajustes de partitura.
>>> Por outro lado a repetição de uma obra em concerto demonstra o
>>> amadurecimento de um trabalho.
>>> É comum a estreia de uma obra, mas é raro ela ser reapresentada, sobretudo
>>> reapresentada por grupos diferentes, o que demonstra crescimento da obra e
>>> de sua recepção.
>>> 
>>> No que diz respeito à criação propriamente dita: Ok, escrevemos a peça uma
>>> vez só, no entanto não temos como publica-la. Por isto o erro de
>>> considerar-se a estreia como publicação. Qdo publicação é publicação, seja
>>> digital ou analógica. O mesmo vale para gravação, que também não substitui
>>> a publicação nem a estreia.
>>> 
>>> Neste sentido é que necessitamos de um qualis de composição sério,
>>> distinto de qq qualis de livro ou congresso.
>>> Ok, podemos ter um primeiro critério: espaços de abrangência
>>> internacional, nacional, local; editoras idem; gravadoras idem.
>>> Mas temos também o repertório envolvido, sua dificuldade.
>>> Uma obra para orquestra tem uma certa complexidade de escrita, mas a mesma
>>> coisa se dá para um solo...ou seja, não pode ser por aí.
>>> 
>>> Por outro lado... a avaliação por pares: isto já ocorre no processo de
>>> seleção para concertos, não precisa ser refeito no qualis....aliás, o tempo
>>> de avaliação de uma banca para uma bienal é bem maior do que o do avaliador
>>> capes...o que torna sua qualificação falha.
>>> 
>>> Minha sugestão é:
>>> 1. avaliação do local de difusão (concerto, evento, editora, gravadora:
>>> internacional, nacional, local; com/sem conselho; com/sem processo seletivo
>>> por pares)
>>> 2. avaliação do grupo encarregado pela difusão (internacional, nacional,
>>> local)
>>> 3. avaliação de amadurecimento: estreia, apresentação (considerando-se
>>> distancia mínima entre apresentações e se com o mesmo ensemble ou
>>> performer, que configure retrabalho..equivalendo assim estreia e
>>> apresentação)
>>> 
>>> A coisa é simples e não devemos nunca entrar em méritos de qualidade do
>>> trabalho: isto quem qualifica é o grupo que selecionou a obra, o evento que
>>> a aceitou, a gravadora, ou a editora. Já basta ter papers esculhambado por
>>> razões de discordância teórica...isto se multiplica exponencialmente no
>>> caso de trabalhos artísticos...
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