[ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia noturna’ dos bailes funk no Rio

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Sex Nov 2 14:22:31 BRST 2012


Vincent Rosenblatt mergulhou no universo dos bailes há sete anos e criou
site para exibir as imagens dessa coleção

http://oglobo.globo.com/cultura/fotografo-frances-traca-geografia-noturna-dos-bailes-funk-no-rio-6613037#ixzz2B5CDvYEq

 Fabiano Moreira<http://oglobo.globo.com/cultura/fotografo-frances-traca-geografia-noturna-dos-bailes-funk-no-rio-6613037#>
 Publicado: 2/11/12 - 7h00
 Atualizado: 2/11/12 - 7h00
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<http://oglobo.globo.com/cultura/fotografo-frances-traca-geografia-noturna-dos-bailes-funk-no-rio-6613037#>
  [image: Fotos de mais de cem lugares registrados em 300 noites compõem o
portfólio de Rosenblatt Foto: Reprodução de site]

Fotos de mais de cem lugares registrados em 300 noites compõem o portfólio
de Rosenblatt

RIO — Um desavisado pode entrar no riobaile
funk.net<http://www.riobailefunk.net/>e achar que está em uma espécie
de ‘I Hate Flash’ (site com fotos da noite
carioca) da favela. Só que os bailes retratados ali pelo fotógrafo francês
Vincent Rosenblatt não aconteceram no último fim de semana, muito menos na
Zona Sul da cidade. E a maioria deles não existe mais após a entrada das
UPPs nas comunidades cariocas.

As imagens, de rara sensibilidade, são apenas 10% de um acervo construído
durante sete anos, em 300 noites, em mais de cem lugares diferentes, às
vezes de carona com algum MC que fazia cinco bailes de uma vez, na
tentativa de desenhar um mapa do funk e traçar a “geografia noturna do
Grande Rio, mostrando uma cidade negra que dança contra a proibição e o
desprezo das elites”. As fotos foram expostas na Maison Européenne de La
Photographie, em Paris, mas ainda são pouco conhecidas aqui, por isso a
ideia do site, que também reúne textos sobre o ritmo.

Vincent veio para o Brasil por meio de uma bolsa de estudos de seu curso na
Escola Superior de Belas Artes de Paris, há 12 anos, mas só há sete sentiu
o que chama de “espécie de epifania”.

— Meu primeiro baile funk, no Castelo das Pedras, teve um sentido quase
religioso. Ali estava a cidade como ela é, não como ela se sonha e idealiza
— conta o fotógrafo, que ouviu o chamado do funk quando sentiu as paredes
de seu apartamento, na época em Santa Teresa, vibrarem com o batidão do
Morro Santo Amaro. — Eu não sabia como chegar lá. Quando comprei os CDs, vi
que aquilo era poesia pura, mesmo a mais bruta, que fala do Brasil, de uma
realidade. Não gosto da MPB cordial, charmosa, que fala de seu
coraçãozinho, sua dorzinha, desconectada da realidade social.

No site, dá para refazer parte do trajeto de Vincent, em noitadas que
consumiam até R$ 150 de táxi para chegar aos locais mais distantes. Estão
lá os extintos bailes de Andaraí, Gambá, Austin, Santa Marta e Morro dos
Prazeres, além dos que ainda acontecem, como o do Castelo das Pedras, o de
Olaria, e o do Fazenda, em São João de Meriti.

— Não tem coisa mais linda do que o baile do Cantagalo — ele diz.

E recomenda:

— Quem quiser ir a um baile fácil de acesso e de acompanhar a música, pode
ir ao Castelo das Pedras, ao Boqueirão, ao Emoções, na Rocinha... Mas não
aponto os bailes nas comunidades porque a midiatização pode atrair
perseguição e proibição. Na Penha, o quartel general da UPP agora fica na
quadra onde se dançava. Em alguns bailes, não se pode mais tirar a camisa,
proibição de comandantes. Para mim, isso é uma questão de direitos humanos.
E o Rio, sem baile funk, é um tremendo tédio.

As fotos feitas nas comunidades são exibidas, depois, em sessões nos
próprios bailes, que ele mesmo organiza, com laptop, projetor e a
solidariedade que tem encontrado nos morros.

— As pessoas se veem retratadas ali no auge do gesto, da dança, da
expressão. Conhecem os outros bailes funk e percebem que fazem parte de
algo muito maior e bonito — diz.

Vincent tem sua própria agência de fotografia, a Olhares, que representa
alguns fotógrafos no Brasil e que o ajuda a vender suas fotos para agências
em Paris, Hamburgo e Inglaterra. No Brasil, ele ainda desenvolveu o projeto
Olhares do Morro, estimulando jovens da Santa Marta, da Rocinha e do
Vidigal, entre outras comunidades, a atuar como correspondentes de suas
favelas, mostrando seus olhares sobre o cotidiano. O projeto rendeu
exposição no Oi Futuro e na sede da Unesco, em Paris.

Enquanto fala ao telefone, Vincent se distrai:

— Tem um DJ, no Facebook, me chamando para um baile numa comunidade em que
eu nunca fui. Nenhum baile é igual a outro, não se dança igual, as músicas
mudam, é sempre único, tem nuances e modismos. Cada comunidade desenvolve
uma arte diferente.
-- 
carlos palombini
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