[ANPPOM-Lista] Hélio Laurindo da Silva (mestre-sala Delegado) 1922-2012

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Seg Nov 12 19:36:43 BRST 2012


Sambista estava internado na Clínica Santa Branca, em Duque de Caxias, com
câncer de próstata

Pablo Rebello<http://oglobo.globo.com/rio/morre-grande-mestre-sala-delegado-da-mangueira-6704824#>

Aydano Andre Motta<http://oglobo.globo.com/rio/morre-grande-mestre-sala-delegado-da-mangueira-6704824#>
 Publicado: 12/11/12 - 14h02
 Atualizado: 12/11/12 - 17h37
  [image: Mestre Delegado em ensaio na quadra da Mangueira em 30/09/2010
Foto: Gustavo Pellizzon / O Globo]

Mestre Delegado em ensaio na quadra da Mangueira em 30/09/2010 Gustavo
Pellizzon / O Globo

RIO — Morreu na manhã desta segunda-feira, aos 90 anos, o mais famoso
mestre-sala do carnaval carioca. Hélio Laurindo da Silva, conhecido como
Delegado (por “prender” as cabrochas na conversa), era presidente de honra
da Mangueira e estava internado na Clínica Santa Branca, em Duque de
Caxias, com câncer. A notícia foi confirmada pelo presidente da escola de
samba, Ivo Meirelles, em seu blog e na página que mantém no Facebook.

“Lamento, profundamente, informar que acaba de falecer o maior mestre-sala
de todos os tempos e nosso presidente de honra, Mestre Delegado! (...) E
que Deus possa receber em paz a alma deste que, para mim, foi o mais
mangueirense dentre todos os mangueirenses”, escreveu Ivo Meirelles.

O corpo do mestre-sala será velado a partir das 19h desta segunda-feira, na
quadra da Mangueira, na Rua Visconde de Niterói 1072. Delegado será
sepultado nesta terça-feira, às 10h, no Memorial do Carmo, no Caju, Zona
Portuária do Rio.

Em entrevista, no início da tarde desta segunda-feira, Ivo disse que a
Mangueira perdeu seu mais ilustre ícone vivo, e que a escola vai preparar
uma grande homenagem para seu velório:

- Que todos venham vestidos a caráter, com as cores da Mangueira, para
reverenciar essa lenda. Ele era a maior referência dessa escola. A
Mangueira perdeu seu pai, e todos nós aqui ficamos órfãos com a morte do
Delegado. Ele era o maior dançarino de todos os tempos da escola. Sempre
dançou por amor, numa época em que não havia dinheiro. Delegado era o maior
baluarte da escola vivo. Não havia ninguém com a história dele. Lembro do
Nelson Cavaquinho, quando falava sobre o enorme talento de dançarino do
Delegado, que nunca tirou nota abaixo de 10 nos desfiles da agremiação. Nos
últimos três anos, mesmo lutando contra um câncer, ele participava de todos
os eventos da Verde e Rosa.

Atual mestre-sala da Mangueira, Raphael Rodrigues, de 28 anos, disse que
sempre teve grande admiração por Delegado, com quem teve o primeiro contato
há dez anos, época em que tinha aulas de dança no Projeto Mestre Dionísio.
Mas foi no fim de 2009, quando foi chamado para atuar como mestre-sala na
Verde e Rosa, que Raphael estreitou os laços de amizade com Delegado.

- Delegado era um ícone do carnaval. Posso garantir que 80% do solo que
apresento nos desfiles é feito com base nos passos de Delegado - disse
Raphael, que esteve com seu mestre pela última vez no sábado, dia 3, na
quadra da Mangueira.

O jovem discípulo de Delegado lembra que, naquela noite, o mestre-sala
permaneceu sentado a maior parte do ensaio e, contrariando o que sempre
fazia, não evoluiu com a porta-bandeira Marcella Alves.

- Sempre que ele chegava à quadra, como forma de reverência, nós o
puxávamos para o meio da quadra. Naquela noite, ele disse que estava com
dores nas pernas e não poderia evoluir como sempre fez. Estou muito triste
com a morte dele - lamentou.

Para a porta-bandeira da Beija Flor de Nilópolis, Selminha Sorriso,
Delegado era um embaixador do samba, um apaixonado por sua arte e um grande
mestre de todos os mestres-salas que atuam hoje:

- Todos, sem exceção, tinham em Delegado um exemplo, todos tiveram
inspiração nele e copiam seus passos, como o carrapeta, voleio, curupira e
tantos outros. Sempre que eu tinha oportunidade de estar perto dele,
aproveitava para aprender algo sobre a história e a inspiração de passos
que ele criou. Graças a figuras como Delegado, Neide, Vilma e outros ícones
do carnaval, que hoje somos tratados como artistas, recebemos convites para
apresentações no exterior. Sempre que eu o encontrava não tinha como não
reverenciá-lo. A arte fica, e o artista nunca morre. Ele criou, inovou e
deixou sua arte para todos os apaixonados pelo samba e pelas escolas de
samba.

*Nasceu sabendo*

Filho de um dançarino de valsa e de uma doceira, ele teve um irmão
ritmista, responsável pelo surdo (instrumento-chave da bateria) e uma irmã,
Suluca, da ala das baianas. Entre Cartola, Carlos Cachaça, Balalaica, Chico
Porrão e outros mangueirenses que fizeram a história da escola, construiu a
mais sólida amizade com Waldomiro, fundador e primeiro presidente da
bateria Surdo 1, a orquestra verde e rosa.

Chegou a flertar com a ala — mangueirense que se preze é cevado no ritmo
vigoroso dos tambores —, mas, ainda adolescente, passou a observar Jorge
Rasgado, o mestre-sala da época, até se enfeitiçar por completo. Imitava os
passos, caía, levantava, repetia. Estreou dia 8 de fevereiro de 1948, na
Praça Onze, a Sapucaí de então. A Mangueira cantou o Vale do São Francisco
(samba de Cartola e Carlos Cachaça) e ficou em quarto lugar no carnaval,
vencido pelo Império Serrano. Delegado e Nininha, seu primeiro par,
ganharam nota 10. Nascia a lenda.

O primeiro dos oito títulos no posto veio no ano seguinte, início de uma
saga interrompida apenas por doença, como a contraída numa viagem à França,
em pleno inverno. Não prestou.

— Aquela friagem me derrubou. Muito ruim — reclamou, em entrevista à
Revista O GLOBO, publicada em 7 de agosto de 2011.

Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, Delegado dez
parte do Bloco Carnavalesco Unidos da Mangueira, que mais tarde, junto a
outros blocos do morro, veio a formar a escola de samba Mangueira. Na
escola fez parte da bateria tocando surdo e mais tarde chegou a diretor de
harmonia e de bateria. Como mestre-sala fez dupla com as porta-bandeiras
Neide e Mocinha, além de Mocinha, com as quais recebeu por 36 vezes a nota
máxima nos desfiles da escola.

O último ano como mestre-sala foi o predileto: 1984, inauguração do
Sambódromo, do enredo "Yes, nós temos Braguinha". Foi também o primeiro
desfile em dois dias (a Portela venceu domingo, e a Mangueira, segunda). No
sábado seguinte, veio o desempate, e a verde e rosa acabou supercampeã, com
a suprema apoteose de voltar pela Avenida, delírio jamais repetido na
história da festa.

— Achei que era a hora. Minhas porta-bandeiras estavam se aposentando, não
fazia mais sentido — contou Delegado, no melhor modelo sambista, a sábia
decisão de, como Seinfeld, os Beatles e mais uns poucos, parar no auge.

Nos últimos desfiles, ele saía no carro dos baluartes, o mais esperado no
sempre visceral desfile mangueirense, ao lado de bambas como Nelson
Sargento, Ed Miranda, Raymundo de Castro. Mas ia aos ensaios técnicos de
todas as escolas na Passarela, para curtir o samba e vigiar, com olho
clínico, os casais da bandeira.
http://oglobo.globo.com/rio/morre-grande-mestre-sala-delegado-da-mangueira-6704824#ixzz2C2wjUE6X

-- 
carlos palombini
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