[ANPPOM-Lista] Evolução da educação básica e superior no Brasil
cristovam augusto de carvalho sobrinho augusto
caviolao em yahoo.com.br
Qui Nov 15 17:35:59 BRST 2012
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Att.
O novo imbecil coletivo
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 30 de outubro de 2012
Quando entre os anos 80 e 90 comecei a redigir as notas que viriam a compor O Imbecil Coletivo,
os personagens a que ali eu me referia eram indivíduos inteligentes,
razoavelmente cultos, apenas corrompidos pela auto-intoxicação
ideológica e por um corporativismo de partido que, alçando-os a posições
muito superiores aos seus méritos, deformavam completamente sua visão
do universo e de si mesmos. Foi por isso que os defini como “um grupo de
pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem com a
finalidade de imbecilizar-se umas às outras”.
Essa definição já não se aplica aos novos tagarelas e opinadores, que atuam sobretudo através da internete
que hoje estão entre os vinte e os quarenta anos de idade. Tal como
seus antecessores, são pessoas de inteligência normal ou superior
separadas do pleno uso de seus dons pela intervenção de forças sociais e
culturais. A diferença é que essas forças os atacaram numa idade mais
tenra e já não são bem as mesmas que lesaram os seus antecessores.
Até os anos 70, os brasileiros recebiam
no primário e no ginásio uma educação normal, deficiente o quanto fosse.
Só vinham a corromper-se quando chegavam à universidade e, em vez de
uma abertura efetiva para o mundo da alta cultura, recebiam doses
maciças de doutrinação comunista, oferecida sob o pretexto, àquela
altura bastante verossímil, da luta pela restauração das liberdades
democráticas. A pressão do ambiente, a imposição do vocabulário e o
controle altamente seletivo dos temas e da bibliografia faziam com que a
aquisição do status de brasileiro culto se identificasse, na
mente de cada estudante, com a absorção do estilo esquerdista de pensar,
de sentir e de ser – na verdade, nada mais que um conjunto de cacoetes
mentais.
O trabalho dos professores-doutrinadores
era complementado pela grande mídia, que, então já amplamente dominada
por ativistas e simpatizantes de esquerda, envolvia os intelectuais e
artistas de sua preferência ideológica numa aura de prestígio sublime,
ao mesmo tempo que jogava na lata de lixo do esquecimento os escritores e
pensadores considerados inconvenientes, exceto quando podia explorá-los
como exceções que por sua própria raridade e exotismo confirmavam a
regra.
Criada e mantida pelas universidades,
pelo movimento editorial e pela mídia impressa, a atmosfera de
imbecilização ideológica era, por assim dizer, um produto de luxo, só
acessível às classes média e alta, deixando intacta a massa popular.
A partir dos anos 80, a elite
esquerdista tomou posse da educação pública, aí introduzindo o sistema
de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos
esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para
implantar na mente infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o
desenvolvimento mais ou menos espontâneo de uma cosmovisão socialista,
praticamente sem necessidade de “doutrinação” explícita.
Do ponto de vista do aprendizado, do
rendimento escolar dos alunos, e sobretudo da alfabetização, os
resultados foram catastróficos.
Não há espaço aqui para explicar a coisa
toda, mas, em resumidas contas, é o seguinte. Todo idioma compõe-se de
uma parte mais ou menos fechada, estável e mecânica – o alfabeto, a
ortografia, a lista de fonemas e suas combinações, as regras básicas da
morfologia e da sintaxe -- e de uma parte aberta, movente e fluida: o
universo inteiro dos significados, dos valores, das nuances e das
intenções de discurso. A primeira aprende-se eminentemente por
memorização e exercícios repetitivos. A segunda, pelo
auto-enriquecimento intelectual permanente, pelo acesso aos bens de alta
cultura, pelo uso da inteligência comparativa, crítica e analítica e, last not least,
pelo exercício das habilidades pessoais de comunicação e expressão. Sem
o domínio adequado da primeira parte, é impossível orientar-se na
segunda. Seria como saltar e dançar antes de ter aprendido a andar. É
exatamente essa inversão que o socio
construtivismo impõe aos alunos, pretendendo que participem ativamente –
e até criativamente – do “universo da cultura” antes de ter os
instrumentos de base necessários à articulação verbal de seus
pensamentos, percepções e estados interiores.
O socioconstrutivismo mistura a
alfabetização com a aquisição de conteúdos, com a socialização e até com
o exercício da reflexão crítica, tornando o processo enormemente
complicado e, no caminho, negligenciando a aquisição das habilidades
fonético-silábicas elementares sem as quais ninguém pode chegar a um
domínio suficiente da linguagem.
O produto dessa monstruosidade
pedagógica são estudantes que chegam ao mestrado e ao doutorado sem
conhecimentos mínimos de ortografia e com uma reduzida capacidade de
articular experiência e linguagem. Na universidade aprendem a macaquear o
jargão de uma ou várias especialidades acadêmicas que, na falta de um
domínio razoável da língua geral e literária, compreendem de maneira
coisificada, quase fetichista, permanecendo quase sempre insensíveis às
nuances de sentido e incapazes de apreender, na prática, a diferença
entre um conceito e uma figura de linguagem. Em geral não têm sequer o
senso da “forma”, seja no que lêem, seja no que escrevem.
Aplicado em escala nacional, o
socioconstrutivismo resultou numa espetacular democratização da inépcia,
que hoje se distribui mais ou menos equitativamente entre todos os
jovens brasileiros estudantes ou diplomados, sem distinções de credo ou
de ideologia. O novo imbecil coletivo, ao contrário do antigo, não tem
carteirinha de partido.
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