[ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em Música da UFBA

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Sex Fev 1 14:27:54 BRST 2013


Prezados,

A discussão está interessante, permitam-me adicionar um ponto de vista.

Se a criação do mestrado profissionalizante na UFBA desperta boas perspectivas com sua criação, ocorre também porque o formato de mestrado acadêmico vigente falhou em termos de consolidar de forma satisfatória a prática musical como parte constituinte da produção essencial de Música. Se isto tivesse ocorrido de fato, não seria necessário propor um modelo profissionalizante de Mestrado. Um exemplo bizarro disso é que muitas dissertações visam a analisar o trabalho de músicos importantes, mas se estes mesmos músicos estivessem na academia, seu trabalho seria pouco valorizado. Por exemplo: Nelson Freire é um dos pianistas mais importantes da história do país, mas se o mesmo fosse professor em uma Universidade brasileira, o reconhecimento de sua produção certamente seria bem menor.

Segundo ponto: o distanciamento entre teoria e prática não advém necessariamente da existência de dois tipos de pós-graduação, mas de como nós enquanto professores, alunos e indivíduos em exercício musical aplicamos de fato em nossas atividades musicais. Há pesquisas de mestrado acadêmico de forte caráter prático, e isso não se deve à proposta do programa em si, mas à atitude de um determinado orientador e seu orientando frente ao modelo institucionalizado. Assim, este distanciamento ocorre porque muitas pessoas ainda falham em conduzir pesquisas e outros tipos de atividade que equilibrem estas duas dimensões do conhecimento musical.

Por último, reforço que é importante diversificar as opções de formação existentes. Se há mestrados profissionais e acadêmicos, será um grande ganho para a área de Música como um todo. Agora, é importante conceber que um não é melhor que o outro: eles apenas possuem propostas diferentes, assim como ocorre entre Licenciatura e Bacharelado.

Abraços,

Daniel Lemos CerqueiraCoordenador do Curso de MúsicaCoordenador do PIBID de Artes
Membro da Comissão Permanente de VestibularUniversidade Federal do Maranhão (UFMA)
http://musica.ufma.br


--- Em qua, 30/1/13, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br> escreveu:

De: luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em Música da UFBA
Para: "“anppomlist“" <anppom-l em iar.unicamp.br>, professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com, silvioferrazmello em uol.com.br
Data: Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013, 18:31

Caros Lucas, Silvio e colegas/professores, 

  Eu estava pensando há dias nesse assunto. 
  Confraternizo-me com as questões levantadas. Partamos da consideração de que 1) Um dos problemas da performance artística (e da composição experimental de vanguarda) é ter um espaço para resguardo das exigências profissionais de mercado e instituições promotoras de concertos para desenvolver pesquisa especulativa e 2) Que esse espaço tem sido suprido em parte pela pesquisa na universidade nos seus modelos que melhor reconhecem a produção artística... 
    Então quais as consequencias de um mestrado profissionalizante que, se entendi bem, propõe retirar a ênfase da reflexão teórica, resguardada para professores de cátedra e pesquisadores, e enfatizar a prática como aplicação das teorias? Ou seja, separar teoria
 de prática exatamente num momento em que cresce um movimento de integração entre essas instâncias?
   Me parece que o que está em questão aqui não é nem reduzir a importância e a presença da teoria e da reflexão, que renova e retira o gesso das práticas tecnológicamente aplicadas (frequentemente irrefletidas, que seguem se reproduzindo por que "sempre se fez assim", por que "assim funciona"), mas da manutenção do modelo de separação entre teoria e prática. Ora, as artes são justamente o território em que as duas coisas se mesclam de maneira mais exemplar! São o terreno em que a investigação histórica e a pesquisa tem maiores consequencias no desenvolvimento e aprofundamento das produções... um mestrado profissionalizante não seria a instauração de um preceito questionavel, o de que na música se dividem as pessoas entre os que pensam e ensinam e os que fazem e praticam? 
    Outro ponto é a
 vinculação da pesquisa academica a instituições de interesse. Esse modelo já solapou muitas pesquisas especulativas que não despertam interesse do mercado, mas que nem por isso são menos importantes ou tem menos consequencias para o que se faz nas diversas áreas. Me parece que a academia acaba reconhecendo o seu lugar como patrocinadora e vincula esse patrocínio a um setor de estudo, dividindo o que deveria estar integrado. Ou seja, a universidade pública casa-se com o mercado profissional no nível da pos-graduação.
    Em todo o caso, essa crítica não diminui o reconhecimento da importância da iniciativa e a torcida para que as coisas aconteçam da melhor maneira possivel. Se os professores da UFBA estão encontrando esse caminho, com certeza é por bons motivos. Só torço para que o diálogo de ideias das diversas áreas permaneça mais fluido ainda, já que estão se separando quase que
 institucionalmente.

Abraços, 

Luciano Morais


--- Em qua, 30/1/13, silvioferrazmello em uol.com.br <silvioferrazmello em uol.com.br> escreveu:

De: silvioferrazmello em uol.com.br <silvioferrazmello em uol.com.br>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em Música da UFBA
Para: "“anppomlist“" <anppom-l em iar.unicamp.br>, professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com
Data: Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013, 11:04


Caros Lucas e colegas,

A proposta da UFBA é bastante interessante, e tem de ser parabenizada.
Porém ela dá a volta sem resolver um problema fundamental: a contínua separação entre performance, criação e reflexão conceitual (ou teórica).
Tanto a produção composicional e de performance devem ser
 consideradas produções acadêmicas (aquelas que se dão na academia), não se distinguindo da conceitual, nem sendo complementares umas às outras.
Uma tese em matemática pode ter 10 linhas introdutórias e 100 páginas de cálculo, que apenas os matemáticos entendem, por que uma tese em música não pode ter 10 linhas introdutórias e 100 páginas de partitura ou 2 horas de gravação, que só os músicos entendem?
Por que a música, pelo seu flerte com as ciências humanas, tem de se submeter a mecanismos intelectuais do século XIX?

Por que não podemos assumir a posição de uma ciência a parte, um real estética (ciência do sensível) e com isto reservar lugar digno para a produção do musicólogo (esta conceitual ou história) e para a produção musical (em teses e dissertações focadas em suas práticas, nas quais os textos não necessariamente se constituam em trabalhos conceituais ou teóricos).
Claro que o texto
 clarifica uma proposta, ele introduz, apresenta uma proposta composicional ou de performance, mas ele não pode ser o único resultado esperado deixando à prática o lugar de campo de experimentação.

Mas de qq maneira, parabenizo a iniciativa, pois já coloca a prática em algum lugar na produção acadêmica.
Apenas pergunto se já não estaria na hora de assumirmos nossas produções musicais em sua íntegra.
Se não formos nós a fazer tal mudança, sem dúvida ela não será feita pelo departamento de engenharia elétrica.

abs
Silvio Ferraz
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