[ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em Música da UFBA

Alvaro Henrique alvaroguitar em gmail.com
Sáb Fev 2 23:28:32 BRST 2013


Concordo especialmente com sua última frase, Daniel. Acho um equívoco essa
noção "socialista" que a educação tem no Brasil. Acredito que cursos com
propostas diferentes, em cidades diferentes, tendem a ser uma solução
melhor que todo mundo ensinando o mesmo do mesmo jeito.

Abraços,
Alvaro Henrique
www.alvarohenrique.com
----
http://www.youtube.com/watch?v=44Kf0yBMgKU


Em 1 de fevereiro de 2013 14:27, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>escreveu:

>
> Prezados,
>
> A discussão está interessante, permitam-me adicionar um ponto de vista.
>
> Se a criação do mestrado profissionalizante na UFBA desperta boas
> perspectivas com sua criação, ocorre também porque o formato de mestrado
> acadêmico vigente falhou em termos de consolidar de forma satisfatória a
> prática musical como parte constituinte da produção essencial de Música. Se
> isto tivesse ocorrido de fato, não seria necessário propor um modelo
> profissionalizante de Mestrado. Um exemplo bizarro disso é que muitas
> dissertações visam a analisar o trabalho de músicos importantes, mas se
> estes mesmos músicos estivessem na academia, seu trabalho seria pouco
> valorizado. Por exemplo: Nelson Freire é um dos pianistas mais importantes
> da história do país, mas se o mesmo fosse professor em uma Universidade
> brasileira, o reconhecimento de sua produção certamente seria bem menor.
>
> Segundo ponto: o distanciamento entre teoria e prática não advém
> necessariamente da existência de dois tipos de pós-graduação, mas de como
> *nós enquanto professores, alunos e indivíduos em exercício musical
> aplicamos de fato em nossas atividades musicais*. Há pesquisas de
> mestrado acadêmico de forte caráter prático, e isso não se deve à proposta
> do programa em si, mas à atitude de um determinado orientador e seu
> orientando frente ao modelo institucionalizado. Assim, este distanciamento
> ocorre porque muitas pessoas ainda falham em conduzir pesquisas e outros
> tipos de atividade que equilibrem estas duas dimensões do conhecimento
> musical.
>
> Por último, reforço que é importante diversificar as opções de formação
> existentes. Se há mestrados profissionais e acadêmicos, será um grande
> ganho para a área de Música como um todo. Agora, é importante conceber que
> um não é melhor que o outro: eles apenas possuem propostas diferentes,
> assim como ocorre entre Licenciatura e Bacharelado.
>
> Abraços,
>
>
> Daniel Lemos Cerqueira
>
> Coordenador do Curso de Música
>
> Coordenador do PIBID de Artes
>
> Membro da Comissão Permanente de Vestibular
>
> Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
> http://musica.ufma.br <http://musica.ufma.br>
>
>
> --- Em *qua, 30/1/13, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>*escreveu:
>
>
> De: luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em
> Música da UFBA
> Para: "“anppomlist“" <anppom-l em iar.unicamp.br>,
> professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com, silvioferrazmello em uol.com.br
> Data: Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013, 18:31
>
> Caros Lucas, Silvio e colegas/professores,
>
>   Eu estava pensando há dias nesse assunto.
>   Confraternizo-me com as questões levantadas. Partamos da consideração de
> que 1) Um dos problemas da performance artística (e da composição
> experimental de vanguarda) é ter um espaço para resguardo das exigências
> profissionais de mercado e instituições promotoras de concertos para
> desenvolver pesquisa especulativa e 2) Que esse espaço tem sido suprido em
> parte pela pesquisa na universidade nos seus modelos que melhor reconhecem
> a produção artística...
>     Então quais as consequencias de um mestrado profissionalizante que, se
> entendi bem, propõe retirar a ênfase da reflexão teórica, resguardada para
> professores de cátedra e pesquisadores, e enfatizar a prática como
> aplicação das teorias? Ou seja, separar teoria de prática exatamente num
> momento em que cresce um movimento de integração entre essas instâncias?
>    Me parece que o que está em questão aqui não é nem reduzir a
> importância e a presença da teoria e da reflexão, que renova e retira o
> gesso das práticas tecnológicamente aplicadas (frequentemente irrefletidas,
> que seguem se reproduzindo por que "sempre se fez assim", por que "assim
> funciona"), mas da manutenção do modelo de separação entre teoria e
> prática. Ora, as artes são justamente o território em que as duas coisas se
> mesclam de maneira mais exemplar! São o terreno em que a investigação
> histórica e a pesquisa tem maiores consequencias no desenvolvimento e
> aprofundamento das produções... um mestrado profissionalizante não seria a
> instauração de um preceito questionavel, o de que na música se dividem as
> pessoas entre os que pensam e ensinam e os que fazem e praticam?
>     Outro ponto é a vinculação da pesquisa academica a instituições de
> interesse. Esse modelo já solapou muitas pesquisas especulativas que não
> despertam interesse do mercado, mas que nem por isso são menos importantes
> ou tem menos consequencias para o que se faz nas diversas áreas. Me parece
> que a academia acaba reconhecendo o seu lugar como patrocinadora e vincula
> esse patrocínio a um setor de estudo, dividindo o que deveria estar
> integrado. Ou seja, a universidade pública casa-se com o mercado
> profissional no nível da pos-graduação.
>     Em todo o caso, essa crítica não diminui o reconhecimento da
> importância da iniciativa e a torcida para que as coisas aconteçam da
> melhor maneira possivel. Se os professores da UFBA estão encontrando esse
> caminho, com certeza é por bons motivos. Só torço para que o diálogo de
> ideias das diversas áreas permaneça mais fluido ainda, já que estão se
> separando quase que institucionalmente.
>
> Abraços,
>
> Luciano Morais
>
>
> --- Em *qua, 30/1/13, silvioferrazmello em uol.com.br <
> silvioferrazmello em uol.com.br>* escreveu:
>
>
> De: silvioferrazmello em uol.com.br <silvioferrazmello em uol.com.br>
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em
> Música da UFBA
> Para: "“anppomlist“" <anppom-l em iar.unicamp.br>,
> professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com
> Data: Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013, 11:04
>
>
> Caros Lucas e colegas,
>
> A proposta da UFBA é bastante interessante, e tem de ser parabenizada.
> Porém ela dá a volta sem resolver um problema fundamental: a contínua
> separação entre performance, criação e reflexão conceitual (ou teórica).
> Tanto a produção composicional e de performance devem ser consideradas
> produções acadêmicas (aquelas que se dão na academia), não se distinguindo
> da conceitual, nem sendo complementares umas às outras.
> Uma tese em matemática pode ter 10 linhas introdutórias e 100 páginas de
> cálculo, que apenas os matemáticos entendem, por que uma tese em música não
> pode ter 10 linhas introdutórias e 100 páginas de partitura ou 2 horas de
> gravação, que só os músicos entendem?
> Por que a música, pelo seu flerte com as ciências humanas, tem de se
> submeter a mecanismos intelectuais do século XIX?
>
> Por que não podemos assumir a posição de uma ciência a parte, um real
> estética (ciência do sensível) e com isto reservar lugar digno para a
> produção do musicólogo (esta conceitual ou história) e para a produção
> musical (em teses e dissertações focadas em suas práticas, nas quais os
> textos não necessariamente se constituam em trabalhos conceituais ou
> teóricos).
> Claro que o texto clarifica uma proposta, ele introduz, apresenta uma
> proposta composicional ou de performance, mas ele não pode ser o único
> resultado esperado deixando à prática o lugar de campo de experimentação.
>
> Mas de qq maneira, parabenizo a iniciativa, pois já coloca a prática em
> algum lugar na produção acadêmica.
> Apenas pergunto se já não estaria na hora de assumirmos nossas produções
> musicais em sua íntegra.
> Se não formos nós a fazer tal mudança, sem dúvida ela não será feita pelo
> departamento de engenharia elétrica.
>
> abs
> Silvio Ferraz
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