[ANPPOM-Lista] a função científica da música

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Sex Fev 15 06:13:03 BRST 2013


Você deseja realmente que eu faça a exegese desse *opus magnum*?

Para começar, parece que quem o escreveu tem problemas de autodefinição: o
manifesto não é nem da Anppom nem contra ela, tampouco é de membros da
Associação ou de seus dissidentes, mas "da comunidade acadêmica ligada à
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música – ANPPOM – Artes
e Humanidades". E ainda é necessário reforçar "Artes e Humanidades", para
deixar bem claro que, sim, "estamos ligados ao grupo que está ligado ao
CNPq".

Para terminar, se quem o escreveu não sabe muito bem de onde fala, se o
documento é porta-voz dos que "estão ligados aos que estão ligados", fica
claro também que não se sabe a quem se dirige, ao que tudo indica, ele vai
de si para si: "ao jornal OESP, à Comunidade: ANPPOM, professores,
estudantes de artes, filosofia e a quem mais possa interessar." O que vem
depois dos dois pontos é para especificar a "comunidade" a quem se dirige?
Ou é para especificar de onde ele vem? E no segundo caso, ele vem da Anppom
e de "quem mais possa interessar"? E se é este o caso, por que eu, que não
contribuí uma linha sequer e a quem ele não interessa, sou constrangido a
ter meu nome incluído entre seus autores, como sou constrangido a explicar
o que quero dizer com o óbvio, do mesmo modo que a diretoria da Anppom é
constrangida a assiná-lo?

O primeiro parágrafo já deixa bem claro seu caráter de pseudo-pesquisa: ele
parte de um texto mais que secundário, um editorial de grande mídia, cita a
palavra de um ministro na voz de um órgão manifestamente oposto a seu
partido, e cita decisões judiciais de fonte secundária ou terciária.
Claramente, não é para levar a sério.

O segundo parágrafo contém a frase célebre: "se a ciência começa com a
percepção sensorial, observações, medições, experimentações e hipóteses, e
termina no conhecimento intelectual como um todo." A frase está
evidentemente mal construída, pois esse "se" faz esperar uma consequência
que não vem. Mas não é este o problema, o problema é uma frase de estudante
de escola primária sobre a ciência experimental utilizada para propor a
expansão do conceito de ciência, e dar um jeito de inserir a música ali,
seja no lugar onde a ciência começa, seja no lugar onde ela termina.

O terceiro parágrafo está ali para substituir qualquer argumento efetivo em
prol da inclusão da música no programa. Se os autores não sabem quem são
nem a quem se dirigem, fica claro também que não são capazes de citar um
único trabalho dos colegas aos quais estão "ligados" que lhes sirva de
argumento. O quinto parágrafo dá um jeito nisso: a música é importante e é
ciência porque nunca se sabe a importância que possa ter tido para dois ou
três cientistas. Pela mesma lógica, se poderia justificar o caráter
filosófico do peido de Wittgenstein.

Sem mais, saudações cordiais

carlos palombini
ufmg.academia.edu/CarlosPalombini<http://www.researcherid.com/rid/F-7345-2011>
"Ici je ne tiens à charmer personne." (Paul Valéry)
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