[ANPPOM-Lista] O "Ciência sem Fronteiras": Editorial O Estado de S.Paulo

Luciano César lucianocesar78 em yahoo.com.br
Seg Jan 28 10:14:13 BRST 2013


Ok, colegas, o exemplo do físico brasileiro que também pintava é oportuno, agradecemos ao Jorge Antunes. 
Vou incluir o exemplo e reenvio o documento hoje a tarde. Há mais lembretes, observações, sugestões?

Abraço!
Luciano

Em 28/01/2013, às 06:57, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br> escreveu:

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> 
> Caros colegas,
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> Parabenizo-os pelo manifesto, e dou pleno apoio. Irei ajudar a encaminhá-lo pela internet. Espero que possa ecoar o suficiente para mostrar esta verdadeira aberração que é o programa "Ciências sem fronteiras", que nada mais faz além de aumentar o desequilíbrio o que se observa no cotidiano acadêmico: áreas de exatas e biomédicas ganhando maiores recursos por serem "ciências legitimadas" pelo capitalismo.
> 
> A quem receber, por favor ajude a encaminhá-lo.
> 
> Daniel Lemos Cerqueira
> 
> Coordenador do Curso de Música
> 
> Coordenador do PIBID de Artes
> 
> Membro da Comissão Permanente de Vestibular
> 
> Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
> 
> http://musica.ufma.br
> 
> 
> Manifesto da comunidade acadêmica ligada às Artes e Humanidades; Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música; etc.
> 
>  
> 
> Nós, abaixo assinados artistas, estudantes e professores universitários manifestamos nosso desagravo e crítica para com as ideias publicadas no editorial publicado neste jornal, apresentando as posições do Tribunal Federal do Ceará e do Sr. Ministro Aloizio Mercadante a respeito das iniciativas para o avanço da ciência. O editorial acaba tratando também das respectivas discordâncias e atitudes forçadas de demais áreas que, sendo também ciência, lutam pela viabilidade de suas pesquisas: os 20 cursos de ciências humanas e sociais (incluindo letras, sociologia, artes, publicidade e comunicação) que procuraram amparo nos recursos do programa Ciência Sem Fronteiras. O nome do programa se apresenta hoje em contradição, já que lida com fronteiras conceituais muito claras. O discurso que questiona essas fronteiras foi silenciado de maneira violenta e imponderada, razão pela qual julgamos necessária uma manifestação.
> 
> Embora o conceito de ciência seja amplo e multifacetado, o editorial apresenta uma visão limitada que poderá ser responsável pela continuação do extraordinário desequilíbrio no desenvolvimento intelectual de uma sociedade gigantesca como é a brasileira. Desenvolvimento desequilibrado não é desenvolvimento, como temos podido experimentar durante séculos de história no Brasil. Nossa discordância representa a indignação para com a visão restritiva por parte de pessoas que comandam as ações oficiais do Estado Brasileiro e o apoio da imprensa para com tal ignorância.
> 
> O primeiro aspecto a ser observado é o equilíbrio de ações de financiamento e estratégias abrangentes que equalizem os recursos públicos. Nesse sentido, não é verdade que “... nas humanidades, o Brasil já tem uma expressão bastante grande", como alega o Ministro Mercadante. Essa avaliação prescinde de consulta aos acadêmicos das diversas áreas e acaba justificando um investimento muito maior em pesquisa das engenharias, cuja prioridade não é consenso fora dos interesses (corporativos, por que não, neste caso?) dessas áreas específicas. A afirmação em questão, além de desautorizar a opinião dos especialistas ligados às humanidades, também acaba desautorizando a autonomia acadêmica, ao permitir que uma decisão de fomento sofra intervenção de um tribunal de justiça. Tal avaliação cabe aos próprios acadêmicos e profissionais das áreas e os responsáveis diretos pela administração dos recursos. Além disto, não foi citada como área de “ciências humanas” outras disciplinas de Filosofia, Geografia, História, Sociologia ou Linguística, Letras e Artes. Há uma redução como área de prioridade em Ciências Humanas a Administração de Empresas. Trata-se de um campo de interesse direto da iniciativa privada, cujo aplauso parece ser o maior critério para aprovar políticas de financiamento. Porém, administrar se refere a lucro e a funcionalidade de estratégias de auto-gestão monetária. O próprio conceito de “conhecimento” em Administração é definido em termos de utilidade para a viabilidade pecuniária das iniciativas empresariais. Dar por resolvida a questão por ser o programa elogiado “pela iniciativa privada” sem uma consideração dos interesses desse setor é aceitar um corporativismo no mínimo equivalente ao que acusa o autor do editorial do Estado de São Paulo. É desconsiderar valor e propósito do pensamento que inclua, supere e critique os modelos de gestão de capital, que podem ou não ter a ver com cultura e conhecimento. As pressões das diversas comunidades acadêmicas são tão legítimas quanto as de qualquer outra instância da sociedade.
> 
> Optar por um lado, nesse caso, confirma o velho senso comum que afirma não interessar ao governo ter cidadãos pensantes e críticos, mas operadores servis e ignorantes dóceis às manobras políticas e – estas sim – corporativistas dos setores com mais poder dentro da difícil relação governo-setores privados.
> 
> É sabido que um país desenvolvido é um país com forte atividade cultural e amplo debate de intelectuais nos diversos setores sociais. Físicos como Heisenberg e Einstein tocavam, respectivamente, órgão e violino e é bastante questionável pensar se teriam sido tão geniais em suas áreas se não tivessem tido acesso ao patrimônio cultural e intelectual disponível em seu tempo. O que possibilitou esse acesso foi uma estrutura de interesse coletivo e equilibrado, distribuído entre orquestras, músicos, pintores, escritores, filósofos, professores, arquitetos, ao lado dos engenheiros, administradores, agentes ferroviários, marceneiros, metalúrgicos, garis e todos os demais setores, visando um crescimento em conjunto. As descobertas desses físicos foram usadas para fomentar a guerra e a morte em massa justamente por militares e estrategistas que compreendiam pouco do que significa a herança cultural e humana. No entanto, é esse desequilíbrio que o governo pretende sustentar, com o aval da grande imprensa representada por este jornal.
> 
>             O governo não “acertou ao lançar um programa que reduz a distância entre as universidades brasileiras e as estrangeiras mais conceituadas nas áreas de conhecimento estratégicas para o desenvolvimento do País”, ele simplesmente privilegiou um setor. Não repudiamos esse apoio. Urge, no entanto, repensar essa postura para com as outras áreas do conhecimento produtivo: artes, filosofia, história, comunicação, ciências sociais são tão ou mais importantes para o desenvolvimento intelectual de uma nação quanto matemática ou engenharia. E esse desenvolvimento intelectual é o que realmente nos distinguiria de escravos, máquinas ou animais.
> 
>             Lamentamos a atitude de desclassificar as vozes em desacordo como “pressões corporativistas”. Ora, qual é a diferença entre desacordo democrático, argumentação participativa e interesse corporativo? Não poderíamos acusar os setores de engenharia e “ciências”, que estão sendo cada vez mais beneficiados, como corporativos? O que faz com que eles sejam tratados como prioritários e os outros como chorões e interesseiros? A resposta tem que ser dada ao esclarecer a ênfase que o governo pretende estabelecer e ao tipo de desenvolvimento a ser privilegiado.
> 
> Acreditamos ser necessário que o fomento seja equilibrado na direção das demais ciências humanas e das artes. Acusar essa posição de corporativismo é defender uma política manca, míope e restritiva sobre o que significa desenvolvimento, é expor a própria ignorância, é compactuar com o obscurantismo que nos mantem distantes dos demais países desenvolvidos TAMBÉM em áreas como cultura, escolarização. Acreditamos que essas distâncias sejam tão grandes, ou até maiores, do que as existentes nas áreas privilegiadas pela declaração unilateral deste editorial.
> 
>  
> 
> Comunidade, ANPPOM, professores, estudantes de artes, filosofia e a quem mais possa interessar.
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