[ANPPOM-Lista] Pesquisa de qualidade, não de quantidade

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Qui Jul 25 11:32:21 BRT 2013


Pesquisa de qualidade, não de quantidade 25/07/2013

*Por Elton Alisson, de Recife*

*Agência FAPESP* – Depois de crescer em quantidade, a ciência brasileira
enfrenta o desafio de melhorar a qualidade e aumentar seus impactos
científico, social e econômico. Para isso, são necessárias, entre outras
medidas, mudanças nos critérios de avaliação de pesquisadores e de
instituições adotados pelas agências de fomento à pesquisa do país.

A análise foi feita por integrantes de uma mesa-redonda sobre “Impacto e
avaliação da pesquisa”, realizada na terça-feira (23/07), durante a 65ª
Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
em Recife (PE).

O encontro teve a participação de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor
científico da FAPESP, Glaucius Oliva, presidente do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Jorge Almeida Guimarães,
presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes).

De acordo com dados apresentados por Brito Cruz, desde 1980 vem aumentando
o número de artigos científicos publicados por autores do Brasil. “Isso
indica um avanço inconteste do sistema de ciência brasileiro, especialmente
se levarmos em conta que é um sistema tardio [*em comparação com países com
tradição científica*] e que ainda enfrenta grandes dificuldades”, disse
Brito Cruz.

Mas o impacto dos artigos científicos brasileiros – medido pelo número de
vezes que o trabalho é citado por outros pesquisadores – ainda é baixo. “Ao
longo de sua história, a ciência feita no Brasil, na média, tem tido pouca
repercussão internacional, atingindo 60% da média do impacto científico do
restante do mundo”, ponderou Brito Cruz.

Um dos fatores apontados pelos participantes da mesa-redonda como
responsável pelo baixo impacto da ciência feita no Brasil é a pouca
cooperação de cientistas brasileiros com pesquisadores do exterior.

Segundo dados apresentados pelo diretor científico da FAPESP, nos últimos
anos diminuiu muito a cooperação internacional dos cientistas brasileiros,
evidenciada pela queda de 40% para 27% da publicação de trabalhos em
coautoria.

“Esse é um dos menores percentuais de coautoria em artigos científicos
observado hoje em países que fazem ciência e almejam ter alguma relevância
no cenário científico mundial. É importante recuperarmos nossa capacidade
de colaboração científica porque isso ajuda a aumentar o impacto”, disse
Brito Cruz.

O Brasil publica muito mais trabalhos na área de ciências de plantas e
animais, por exemplo, do que a Coreia do Sul. O impacto científico dos
artigos científicos publicados pelos pesquisadores sul-coreanos nessa área,
no entanto, é superior ao dos trabalhos publicados por brasileiros.

Em Física – área na qual a Coreia do Sul aumentou muito nos últimos anos
sua quantidade de artigos publicados e o Brasil estacionou um pouco –, o
impacto dos trabalhos publicados por cientistas brasileiros em 2012 cresceu
mais do que o dobro da média mundial.

“Isso tem relação com a participação do Brasil nas grandes colaborações
internacionais que há na área da Física [*como os realizados no Grande
Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), da Organização Europeia para
Pesquisa Nuclear (Cern), na Suíça*]. Esses trabalhos geram artigos muito
citados na comunidade científica internacional porque têm muitas ideias
fundamentais”, disse Brito Cruz.

Guimarães, por sua vez, destacou que os outros países latino-americanos
colaboram mais com nações europeias e com os Estados Unidos do que com o
Brasil. “O Chile tem seu observatório astronômico. Por isso, todo o mundo
colabora com eles e o fator de impacto dos artigos científicos deles é mais
alto. O Brasil se descuidou da colaboração científica internacional”, disse.

As universidades brasileiras também exercem pouca influência científica em
comparação com instituições congêneres na Europa e nos Estados Unidos,
destacou Brito Cruz. “É preciso que as universidades brasileiras progridam
mais em termos de impacto científico mundial”, disse.

*Ações necessárias *

Uma das ações indicadas por Brito Cruz para aumentar o impacto da ciência
feita no Brasil é proteger o tempo do pesquisador contra tarefas
extracientíficas – como o preenchimento de relatórios para prestação de
contas. Segundo ele, há poucas universidades no Brasil com escritórios
voltados para auxiliar pesquisadores em tais tarefas, a exemplo do que
fazem os *Grants management offices* nos Estados Unidos.

“As agências que financiam a pesquisa no Brasil precisariam cobrar muito
mais das instituições de ensino e de pesquisa no momento em que se concede
financiamento a um projeto, com relação à questão da proteção do tempo do
pesquisador contra tarefas extracientíficas”, ressaltou Brito Cruz. “Não é
possível obter crescimento de impacto se não dermos aos pesquisadores
brasileiros condições similares de trabalho às que seus colegas nas
universidades de Stanford ou de Oxford, por exemplo, possuem”, frisou.

Outras medidas sugeridas são aumentar a cooperação internacional, a
visibilidade e o impacto das revistas científicas publicadas pelo Brasil –
uma vez que 33% dos artigos científicos de autores brasileiros saem em
periódicos nacionais –, e valorizar a qualidade, em detrimento da
quantidade, dos artigos científicos publicados por pesquisadores na análise
de seus projetos de pesquisa na hora de conceder financiamento ou na
promoção de cargo, entre outras situações.

A necessidade dessa mudança de critério de avaliação de pesquisadores
também foi ressaltada por Oliva. “Ao premiarmos a quantidade, em detrimento
da qualidade dos trabalhos publicados, podemos sinalizar uma direção
errada, desencaminhar os jovens pesquisadores e, eventualmente, contribuir
para acomodar cientistas seniores naquilo que aprendemos rapidamente a
fazer, que é publicar”, disse.

A mudança de critério de avaliação da qualidade dos trabalhos científicos
publicados, em vez da quantidade, não implicará na diminuição do número de
publicações, avaliou Oliva.
“Temos que superar a ideia de que quantidade e qualidade são
necessariamente opostas. É possível manter a produção científica brasileira
atual e, ao mesmo tempo, almejar mais”, afirmou. *


http://agencia.fapesp.br/17608
*
-- 
carlos palombini
pesquisador visitante, centro de letras e artes, unirio
ufmg.academia.edu/CarlosPalombini
proibidao.org
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