[ANPPOM-Lista] Sobre o email do Daniel que me tirou do sério

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Sáb Jun 8 20:24:52 BRT 2013


Caros colegas,

Sintetizando a ideologia proposta pelo prof. Mário Marochi, podemos extrair algumas questões importantes:

1) Por mais que seja gigantesca a riqueza de repertórios e estilos variados da Música nas mais variadas práticas culturais, um curso de graduação nunca dará conta de contemplar toda esta variedade. Ele deverá contemplar habilidades e conhecimentos básicos de pelo menos algumas propostas delimitadas (uma graduação em Violino, Violão, Flauta, Trombone ou Composição, por exemplo, já tem "trabalho suficiente" para o aluno fazer em pelo menos 4 anos). Os alunos terão que correr atrás ao iniciar sua vida musical fora da instituição - isso partindo do pressuposto que todos querem realmente fazer um curso de Música, e não apenas ter um diploma ou um vínculo universitário.

2) Manter a estrutura administrativa dos cursos de Música adequada à proposta pedagógica é essencial, e não podemos perder este espaço junto à administração universitária. A aula individual tende a ser um empecilho para o MEC justamente porque ao invés de haver 40 alunos em uma sala, há apenas um. Se fizermos uma média de um aluno para cada disciplina de 15 horas (50 minutos ou 1 hora semanal), temos 4 alunos para cada 60 horas (4 horas semanais). Logo, 20 alunos são o máximo que um professor de instrumento em regime de 40 horas pode ter (20 horas em sala, mais 20 horas de planejamento). Isso é um grande problema para o MEC, que pressiona as Universidades para ter uma média de 18 alunos por docente. A média em 2008 era de 9 alunos por docente.

3) Creio ser fundamental contemplar a ideia da Diversidade Cultural em qualquer curso de Música. Muitos formandos de cursos de Bacharelado com ênfase na Música Erudita já tocaram ou tocam Música Popular. Inclusive, foi graças ao contato com a Música Popular que vários deles se motivaram a estudar Música. Porém, ainda creio ser difícil criar cursos muito abrangentes em termos de estilos musicais, pois acabamos na limitação do próprio corpo docente. Um professor que tem ampla carreira como pianista de Jazz e Bossa Nova, por exemplo, dificilmente terá conhecimento e segurança suficiente para ensinar outros estilos (como Música Contemporânea de Concerto, por exemplo). O mesmo poderia partir de um professor de violino da Música de Concerto, que provavelmente pouco conhece sobre o repertório de Violino na Música Popular. Portanto, é essencial observar também o perfil dos professores no Projeto Pedagógico dos cursos. Além disso,
 repertório e instrumento são dois elementos intimamente ligados entre si.

A conclusão final é: as mudanças estão sendo muito rápidas, e em vários casos, estão passando por cima de muitas discussões e encaminhamentos por parte do corpo docente especializado para que as modificações ocorram de forma adequada. Com a extinção arbitrária da prova de habilidades específicas aqui, tive que criar um método de iniciação musical para quem não lê partituras, pois Piano Complementar está logo no primeiro semestre do curso (inclusive, esta cadeira tem sido um verdadeiro "front de batalha"). E o método ainda é muito fraco, pois não tive tempo de estabelecer um projeto de pesquisa para investigar qual a melhor forma de abordagem e aplicá-lo no ensino, obtendo um feedback e aprimorando-o. Além disso, objetivo da disciplina na lógica do Projeto Pedagógico se perde, pois acaba tratando de iniciação musical e passando por cima do objetivo principal, que é ensinar Teclado ou Piano funcional.

Saudações

Daniel Lemos Cerqueira 
http://musica.ufma.br

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