[ANPPOM-Lista] avaliação qualitativa

Damián Keller musicoyargentino em gmail.com
Qua Maio 15 20:34:34 BRT 2013


Prezado Carlos,

Pelo visto a escolha do texto não foi afortunada. A partir dos
comentários que você coloca sobre o texto do Vitor Haase, vejo que
você não concorda com as colocações que ele faz. Para evitar
confusões, coloco as iniciais do autor antes de cada citação.

CP:
> Ambos os textos, lado a lado, o excerto do Vitor e o meu, tinham o objetivo de indicar dois eventos muito diferentes, relacionando-os enquanto associados ao problema da qualidade da pesquisa em música no Brasil.

A proposta de discutir os argumentos de pesquisadores das áreas de
humanas para o nosso caso mais específico é muito boa. Os argumentos
de VH são muito próximos aos de Sidarta Ribeiro e Suzana
Herculano-Houzel e não estão distantes da longa discussão travada no
campo da antropologia sobre os enfoques <emic> e <epic>. Do texto de
VH se desprende que ele aceita a coexistência dos dois métodos.

Levando em conta que neste momento existe um debate intenso sobre a
replicabilidade dos métodos experimentais em psicologia (Abbott 2013),
não vejo a postura dele como um caso isolado e sim como uma vertente
de pensamento que propõe o método científico como uma (>>e não a
única<<) forma de conhecimento replicável. Portanto não estou sozinho
ao generalizar o problema para a área de humanas:

CP:
> Você generaliza muito rapidamente: ele está falando de psicologia, e não de ciências humanas.

Eu acho que o uso de adjetivos como <ignorante> ou <infantil> não
ajuda a focalizar o problema. Estamos falando da qualidade nos métodos
de pesquisa nas ciências humanas em geral (e em música em particular),
como você menciona um dos problemas é a desqualificação através de
adjetivos:

CP:
> Há críticas ideológicas e criíticas ideológicas. […] Aquela da qual Vitor fala é a que dispara expletivos a torto e a direito: "indústria cultural", "essencialismo", "neopositivismo" etc.

Por outro lado, eu não acredito que VH esteja defendendo alguma forma
de reducionismo nas ciências humanas:

CP:
> Reduzir o "científico" à ciência experimental no campo da musicologia é mais uma demonstração do que chamei de infantilismo científico.

DK:
> Sinceramente, ao ler os argumentos de Vitor Haase ou de Sidarta
> Ribeiro ou de Suzana Herculano-Houzel (pesquisadores da área de
> humanas) não vejo nenhum apoio para a exclusão do método científico.
> Inclusive, eles são altamente críticos das posturas que excluem o
> método científico como ferramenta de conhecimento e sugerem (como no
> parágrafo acima) que os métodos inferenciais podem conviver com outros
> métodos.

Destaco a palavra <conviver>. Em nenhum momento foi colocado por VH ou
por mim que a única forma de conhecimento é o método inferencial e
muito menos o uso de estatística. Dados são só dados, e precisam ser
interpretados. Os métodos qualitativos são tão válidos quanto os
quantitativos. Eu acredito que o ponto de discordância está na
refutabilidade e na replicabilidade das propostas.

Abraços,
Damián


Abbott 2013.
http://www.nature.com/news/disputed-results-a-fresh-blow-for-social-psychology-1.12902



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