[ANPPOM-Lista] uma descoberta que vai mudar "a história do contrabaixo no mundo"

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Qua Maio 22 19:05:56 BRT 2013


O contrabaixo de D. João VI Grupo de pesquisa da Escola de Música apresenta
método brasileiro de ensino do instrumento elaborado na primeira metade do
século 19

Itamar Rigueira Jr.
  Isabella Lucas/UFMG  [image: Fausto Borém (no alto, à esquerda) vai
liderar grupo de pesquisa em convenção nos
EUA]<https://www.ufmg.br/boletim/bol1821/img/7_1_g.jpg>  Fausto
Borém (no alto, à esquerda) vai liderar grupo de pesquisa em convenção nos
EUA

O segundo mais antigo método de ensino de contrabaixo no mundo, escrito em
1838 por um músico carioca de origem pobre e recém-descoberto no Rio de
Janeiro, será o tema de mais uma participação do professor Fausto Borém, da
Escola de Música da UFMG, na Convenção Mundial de Contrabaixistas, entre 3
e 8 de junho. O evento, bianual e considerado o maior do gênero do mundo,
vai reunir mais de mil instrumentistas na Eastman School of Music da
Universidade de Rochester, no estado de Nova York (EUA).

Borém e outros oito pesquisadores do Projeto “Pérolas” e “Pepinos” da
Performance Musical farão recital-palestra sobre o Methodo de Lino José
Nunes, garimpado entre preciosidades da Biblioteca Alberto Nepomuceno,
vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Há cerca de dois
anos, Fausto Borém e o professor André Cardoso (UFRJ) publicaram artigo
sobre o achado nos anais do principal congresso de pós-graduação em música
no Brasil, com abordagem histórica e musicológica. As partituras estão
sendo restauradas e estarão disponíveis ao público em breve, possivelmente
na revista Per Musi, que terá um número especial sobre música antiga.
Editado por Borém, é o único periódico de música no Brasil com
classificação Qualis A1 da Capes.

“Contrabaixista, cantor, professor e compositor, Lino usa em seu método
harmonias sofisticadas para a época, passando por tons distantes, com
paralelo em obras como O cravo bem temperado, de Bach, e o Réquiem, de
Mozart”, destaca Fausto Borém, que é pós-doutor em contrabaixo pela UFMG e
tem títulos de mestre e doutor pelas universidades de Iowa e Georgia, nos
Estados Unidos.
Linguagem vocal no contrabaixo

Segundo o pesquisador, parte do método é composta por lições que são
músicas próprias para recitais. “Lino traz o mundo da ópera italiana, das
marchas militares (foi D. João VI quem trouxe as bandas de retreta para o
Brasil), das modinhas, das síncopes, com criatividade incomum para
compositores brasileiros da época. Há mesmo uma referência à sincopa
brasileira do lundu afro-brasileiro”. Borém observa ainda que o autor, que
era cantor, utiliza a linguagem vocal, inovando na tradição do contrabaixo,
que era mais utilizado como instrumento de acompanhamento na música
sinfônica feita na primeira fase do período imperial brasileiro.

Lino José Nunes foi um dos alunos que mais se destacaram na escola de
música gratuita do padre José Maurício Nunes ­Garcia, um dos indícios de
sua origem humilde. Em 1825, foi empregado pela Capela Real, um dos
símbolos da atividade cultural da corte de D. João VI, onde trabalhou até
sua morte, em 1847 – não se sabe a sua data de nascimento.

Lino não chegou a concluir o manuscrito, e uma das razões seria o fato de o
dedicatário, que aprendia contrabaixo com Lino, ter interrompido seus
estudos musicais para seguir carreira como médico. Além disso, com a volta
de D. João VI a Portugal, houve desestímulo para os músicos profissionais
no Rio de Janeiro.
Netuno 2013

O grupo “Pérolas” e “Pepinos” da Performance Musical não viaja apenas com a
missão de apresentar pela primeira vez no exterior o manuscrito de 1838. O
grupo leva na bagagem, para a Convenção Mundial de Contrabaixistas, um
contrabaixo recém-construído que vai disputar o Concurso Internacional de
Luteria.

Produto da arte do luthier Gianfranco Fiorini e de colaboração com o grupo
da Escola de Música, o Contrabaixo Netuno, baseado em motivos marinhos,
apresenta inovações como alterações estruturais que facilitam seu manuseio,
mudanças na escala para incluir mais notas musicais na região aguda e
mecanismos como a extensão mecânica da região grave e o braço desmontável
para facilitar o transporte. Gianfranco Fiorini, que foi artista-visitante
da UFMG – e premiado no mesmo concurso, em 2006 – faz as adaptações em seus
projetos de contrabaixo com base na experimentação de músicos como Fausto
Borém.

O professor da UFMG vai aos Estados Unidos acompanhado do aluno de mestrado
Giordano Cícero, dos graduandos Alfredo Ribeiro, Evaristo Bergamini, João
Paulo Campos, Gustavo Neves e Rodrigo Olivarez (este chileno, em mobilidade
internacional), e do ex-aluno Leonardo Lopes.
https://www.ufmg.br/boletim/bol1821/7.shtml

-- 
carlos palombini
pesquisador visitante, centro de letras e artes, unirio
ufmg.academia.edu/CarlosPalombini
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