[ANPPOM-Lista] Nilo Batista denuncia a censura inconstitucional: A criminalização do funk

Jorge Antunes antunes em unb.br
Sex Nov 8 10:16:53 BRST 2013


Prezado Prof. Carlos:

Sem argumentos, e com meras insinuações com frases telegráficas, o senhor
tenta desqualificar meu texto.
Os seus breves comentários revelam apenas mágoas e ressentimentos
represados, com motivações inconfessáveis.
Sugiro que contenha-se, pois o vazio de suas colocações escancaram suas
recônditas pretensões aos olhos de qualquer arguto leitor.
Cordialmente,
Jorge Antunes

PS. The first rap record was the song ''Skaiing West,'' released in 1963 by
a group calling itself Sir Lord Comic and the Cowboys. Other rappers, such
as King Stitt the Ugly One, Uroy and Big Youth, to name a few, quickly
followed. Rapping has been firmly entrenched in Jamaican music since the
early 60's.
Fonte:
http://www.nytimes.com/1988/06/15/opinion/l-rap-music-began-on-jamaica-in-the-1960-s-659388.html


Em 7 de novembro de 2013 21:37, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>escreveu:

>
> Corrigindo:
>
> O rap surgiu na Jamaica na década de 196ater mer0,
>>
>
> O rap não surgiu na Jamaica, mas nos Estados Unidos, nos anos 1970. No
> máximo, o que se poderia dizer é que existiu um proto-rap na Jamaica.
>
>
>> foi levado para os Estados Unidos dez anos depois e, em seguida, se
>> espalhou pelo mundo.
>>
>
> Como não surgiu na Jamaica, mas nos Estado Unidos, não pode, infelizmente,
> ser "levado".
>
> A burguesia ficou apavorada. As letras da nova manifestação artística
>> falavam das dificuldades da vida dos habitantes de bairros pobres. O
>> protesto social, a irreverência e a pregação da violência chegaram a
>> amedrontar os donos do poder.
>>
>
> O rap, inicialmente, não falou de qualquer problema social, ele tinha
> caráter meramente diversivo. Quando, em *The Message*, em 1982,
> Grandmaster Flash an the Furious Five tornaram o rap "consciente", eles o
> fizeram por pressão da gravadora, embora achassem ridículo.
>
>
>>  Mas o poder de fogo do rap começou a cair quando, na década de 1990, o
>> gênero despertou o interesse da indústria fonográfica. Hoje, completamente
>> recuperado, tornou-se manifestação comercial e foi absorvido pelo sistema.
>> Dessa forma, as falas ritmadas do MC já não assustam a ninguém. Tudo se
>> tornou banal, comercial e bom para dançar. Não são apenas os jovens pobres
>> que dançam. As dondocas e as patricinhas também entram na onda. O rap de
>> protesto e o funk se fazem presentes até mesmo nas novelas da TV Globo.
>>
>
> Abstenho-me de me alongar. Digo apenas que o supracitado revela a
> ignorância profunda do autor quanto ao tema.
>
>
>>  Platão, em seu programa ético-musical da República, estudou as reações
>> emotivas da massa popular. Jean-Jacques Rousseau, no século 18, detalhou
>> alguns aspectos do fenômeno, lembrando que o intervalo de terça maior
>> excita o sentimento de alegria, podendo chegar a imprimir ideias de furor.
>> A terça menor, ao contrário, leva as massas à tristeza, despertando ternura
>> e suavidade. Não é à toa que todos os hinos nacionais, além de usarem ritmo
>> marcial, são escritos em modo maior. Observa-se, por outro lado, que quase
>> todos os cantos religiosos e fúnebres são em modo menor. As reflexões de
>> Platão e Rousseau se juntam a muitas outras que se seguiram, para
>> demonstrarmos o poder de fogo que a música tem para influir nos destinos do
>> homem e para formar mentalidades. Sou daqueles que acreditam que a vida
>> imita a arte.
>>
>
> Algumas linhas de erudição barata, com as quais se pensa ludibriar os
> tolos.
>
>
>>  Em 1966, quando a ditadura militar reprimia violentamente as
>> manifestações estudantis na Cinelândia, no Rio de Janeiro, escrevi uma obra
>> para orquestra de cordas e fita magnética intitulada *Dissolução*. Como
>> eu já estudava Física, todo mundo pensava que o título de minha peça tinha
>> conotação extra-musical com algo de científico, de Química: a “dissolução”
>> de alguma substância em laboratório. Mas, na verdade, a conotação era
>> política e de contestação. Na obra tento descrever, com sons, a dissolução,
>> feita pela polícia, de uma manifestação estudantil na rua. Na fita, além de
>> sons eletrônicos, uso ruídos dramáticos de vidraças quebradas.
>>
>
> Quanto engajamento, meu deus!
>
>
>>   Naquela época não era fácil se fazer música engajada politicamente. Eu
>> conseguia fazer, mas sempre de modo velado, disfarçado. A censura e a
>> perseguição caiam sempre sobre qualquer obra de arte que insinuasse, em seu
>> conteúdo ou em seu título, algo referente às questões sociais e políticas.
>> Os autores de obras daquele tipo, então consideradas subversivas, passavam
>> a ser perseguidos pelo donos do poder e até mesmo discriminados pelos
>> próprios colegas artistas. Quem era amigo de um subversivo, corria risco de
>> também ser considerado subversivo.
>>
>>  Hoje, os historiadores são sempre limitados quando analisam a censura
>> praticada contra a produção cultural na época do regime militar. Eles se
>> atêm ao estudo da repressão sofrida pela imprensa, pela literatura e pela
>> música popular. Desconhecem, totalmente, a censura que foi imposta, pelo
>> regime militar, à música erudita brasileira.
>>
>> Em abril de 1964 minha canção *Cabra da Peste*, escrita para voz de
>> barítono e piano, foi censurada pela direção da Rádio MEC do Rio de
>> Janeiro. Para que fosse tocada no programa *Jovens Compositores do
>> Brasil*, produzido por Dieter Lazarus, fui convidado a fazer nova
>> gravação nos estúdios da rádio, desde que mudasse a letra da música.
>>
>> Não faltaram, no passado, histórias de compositores brasileiros, na área
>> da música erudita, que viveram uma fase de ativismo político através da
>> música. Cláudio Santoro compôs, em 1953, sua *Quinta Sinfonia*, também
>> conhecida como *Sinfonia da Paz*, com texto da poetisa comunista
>> Antonieta Dias de Moraes. Gilberto Mendes, que à época estudava com
>> Santoro, também escreveu canções engajadas politicamente usando poemas da
>> mesma autora. Da mesma época data a obra *Canto do Soldado Morto*, de
>> Eunice Katunda, com texto do poeta comunista Rossini Camargo Guarnieri. Por
>> volta de 1973 o compositor paulista Willy Corrêa de Oliveira passou a
>> compor unicamente obras musicais com fins de doutrinação política,
>> militando junto às Comunidades Eclesiais de Base. Mas essa postura foi
>> abandonada alguns anos depois.
>>
>> Esses exemplos correspondem a fatos esporádicos e efêmeros, ocorridos
>> circunstancialmente nas vidas daqueles compositores. Alguns deles, logo
>> após aquelas experiências, voltaram a fazer arte pela arte. Outros chegaram
>> até mesmo a virar casaca e condenar aquelas suas próprias posições do
>> passado. Esse foi o caso, por exemplo, de Claudio Santoro. Em 1979, num
>> debate realizado durante a Bienal de Música Contemporânea Brasileira,
>> Santoro declarou que renegava todo aquele passado de engajamento
>> político e que se arrependia de ter defendido ideias de esquerda e de
>> tê-las embutido em algumas obras.
>>
>> Assim, são raros, no Brasil, casos de compositores de música erudita que
>> abraçaram e nunca mais abandonaram o ativismo político por meio da música,
>> tal como aconteceu em outros países. Podemos citar, como exemplos dessas
>> exceções: o alemão Hanns Eisler, o inglês Cornelius Cardew, o italiano
>> Luigi Nono, o chileno Sergio Ortega, o italiano Luca Lombardi, o austríaco
>> Wilhelm Zobl, o grego Thanos Mikroutsikos e o norte-americano Frederick
>> Rzewski.
>>
>>  Intelectuais sempre tiveram, e continuam a ter, enorme responsabilidade
>> com relação ao presente e ao futuro da humanidade. São eles os que,
>> detentores de credibilidade, conseguem tribunas e espaços para fazer eco às
>> suas convicções políticas. Por essa razão acredito ser obrigação do
>> compositor não se encerrar em uma torre de marfim. O compositor que se
>> tranca em torre de marfim é um compositor criminoso.
>>
>>  A música popular, mesmo aquela de protesto, sempre foi rapidamente
>> adotada como mercadoria pela indústria fonográfica. O rap e o funk também
>> seguiram a mesma trajetória. Mensagens políticas construídas para a venda,
>> não convencem a ninguém.
>>
>
> Quanta ingenuidade acerca do que seja "o político". Esperemos que seja bem
> intencionada.
>
>
>>  A música erudita moderna e de vanguarda é a única vertente musical que
>> resta, ainda hoje, não recuperada pelo sistema. Assim, ela passa a ser, ou
>> a continuar a ser, o único suporte capaz de dar credibilidade a mensagens
>> extra-artísticas de cunho social ou político.
>>
>
> Faz-me rir.
>
> Abraços,
> Carlos
>
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