[ANPPOM-Lista] Nilo Batista denuncia a censura inconstitucional: A criminalização do funk

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Qui Nov 7 21:37:05 BRST 2013


Corrigindo:

O rap surgiu na Jamaica na década de 196ater mer0,
>

O rap não surgiu na Jamaica, mas nos Estados Unidos, nos anos 1970. No
máximo, o que se poderia dizer é que existiu um proto-rap na Jamaica.


> foi levado para os Estados Unidos dez anos depois e, em seguida, se
> espalhou pelo mundo.
>

Como não surgiu na Jamaica, mas nos Estado Unidos, não pode, infelizmente,
ser "levado".

A burguesia ficou apavorada. As letras da nova manifestação artística
> falavam das dificuldades da vida dos habitantes de bairros pobres. O
> protesto social, a irreverência e a pregação da violência chegaram a
> amedrontar os donos do poder.
>

O rap, inicialmente, não falou de qualquer problema social, ele tinha
caráter meramente diversivo. Quando, em *The Message*, em 1982, Grandmaster
Flash an the Furious Five tornaram o rap "consciente", eles o fizeram por
pressão da gravadora, embora achassem ridículo.


>  Mas o poder de fogo do rap começou a cair quando, na década de 1990, o
> gênero despertou o interesse da indústria fonográfica. Hoje, completamente
> recuperado, tornou-se manifestação comercial e foi absorvido pelo sistema.
> Dessa forma, as falas ritmadas do MC já não assustam a ninguém. Tudo se
> tornou banal, comercial e bom para dançar. Não são apenas os jovens pobres
> que dançam. As dondocas e as patricinhas também entram na onda. O rap de
> protesto e o funk se fazem presentes até mesmo nas novelas da TV Globo.
>

Abstenho-me de me alongar. Digo apenas que o supracitado revela a
ignorância profunda do autor quanto ao tema.


>  Platão, em seu programa ético-musical da República, estudou as reações
> emotivas da massa popular. Jean-Jacques Rousseau, no século 18, detalhou
> alguns aspectos do fenômeno, lembrando que o intervalo de terça maior
> excita o sentimento de alegria, podendo chegar a imprimir ideias de furor.
> A terça menor, ao contrário, leva as massas à tristeza, despertando ternura
> e suavidade. Não é à toa que todos os hinos nacionais, além de usarem ritmo
> marcial, são escritos em modo maior. Observa-se, por outro lado, que quase
> todos os cantos religiosos e fúnebres são em modo menor. As reflexões de
> Platão e Rousseau se juntam a muitas outras que se seguiram, para
> demonstrarmos o poder de fogo que a música tem para influir nos destinos do
> homem e para formar mentalidades. Sou daqueles que acreditam que a vida
> imita a arte.
>

Algumas linhas de erudição barata, com as quais se pensa ludibriar os tolos.


>  Em 1966, quando a ditadura militar reprimia violentamente as
> manifestações estudantis na Cinelândia, no Rio de Janeiro, escrevi uma obra
> para orquestra de cordas e fita magnética intitulada *Dissolução*. Como
> eu já estudava Física, todo mundo pensava que o título de minha peça tinha
> conotação extra-musical com algo de científico, de Química: a “dissolução”
> de alguma substância em laboratório. Mas, na verdade, a conotação era
> política e de contestação. Na obra tento descrever, com sons, a dissolução,
> feita pela polícia, de uma manifestação estudantil na rua. Na fita, além de
> sons eletrônicos, uso ruídos dramáticos de vidraças quebradas.
>

Quanto engajamento, meu deus!


>  Naquela época não era fácil se fazer música engajada politicamente. Eu
> conseguia fazer, mas sempre de modo velado, disfarçado. A censura e a
> perseguição caiam sempre sobre qualquer obra de arte que insinuasse, em seu
> conteúdo ou em seu título, algo referente às questões sociais e políticas.
> Os autores de obras daquele tipo, então consideradas subversivas, passavam
> a ser perseguidos pelo donos do poder e até mesmo discriminados pelos
> próprios colegas artistas. Quem era amigo de um subversivo, corria risco de
> também ser considerado subversivo.
>
>  Hoje, os historiadores são sempre limitados quando analisam a censura
> praticada contra a produção cultural na época do regime militar. Eles se
> atêm ao estudo da repressão sofrida pela imprensa, pela literatura e pela
> música popular. Desconhecem, totalmente, a censura que foi imposta, pelo
> regime militar, à música erudita brasileira.
>
> Em abril de 1964 minha canção *Cabra da Peste*, escrita para voz de
> barítono e piano, foi censurada pela direção da Rádio MEC do Rio de
> Janeiro. Para que fosse tocada no programa *Jovens Compositores do Brasil*,
> produzido por Dieter Lazarus, fui convidado a fazer nova gravação nos
> estúdios da rádio, desde que mudasse a letra da música.
>
> Não faltaram, no passado, histórias de compositores brasileiros, na área
> da música erudita, que viveram uma fase de ativismo político através da
> música. Cláudio Santoro compôs, em 1953, sua *Quinta Sinfonia*, também
> conhecida como *Sinfonia da Paz*, com texto da poetisa comunista
> Antonieta Dias de Moraes. Gilberto Mendes, que à época estudava com
> Santoro, também escreveu canções engajadas politicamente usando poemas da
> mesma autora. Da mesma época data a obra *Canto do Soldado Morto*, de
> Eunice Katunda, com texto do poeta comunista Rossini Camargo Guarnieri. Por
> volta de 1973 o compositor paulista Willy Corrêa de Oliveira passou a
> compor unicamente obras musicais com fins de doutrinação política,
> militando junto às Comunidades Eclesiais de Base. Mas essa postura foi
> abandonada alguns anos depois.
>
> Esses exemplos correspondem a fatos esporádicos e efêmeros, ocorridos
> circunstancialmente nas vidas daqueles compositores. Alguns deles, logo
> após aquelas experiências, voltaram a fazer arte pela arte. Outros chegaram
> até mesmo a virar casaca e condenar aquelas suas próprias posições do
> passado. Esse foi o caso, por exemplo, de Claudio Santoro. Em 1979, num
> debate realizado durante a Bienal de Música Contemporânea Brasileira,
> Santoro declarou que renegava todo aquele passado de engajamento político
> e que se arrependia de ter defendido ideias de esquerda e de tê-las
> embutido em algumas obras.
>
> Assim, são raros, no Brasil, casos de compositores de música erudita que
> abraçaram e nunca mais abandonaram o ativismo político por meio da música,
> tal como aconteceu em outros países. Podemos citar, como exemplos dessas
> exceções: o alemão Hanns Eisler, o inglês Cornelius Cardew, o italiano
> Luigi Nono, o chileno Sergio Ortega, o italiano Luca Lombardi, o austríaco
> Wilhelm Zobl, o grego Thanos Mikroutsikos e o norte-americano Frederick
> Rzewski.
>
>  Intelectuais sempre tiveram, e continuam a ter, enorme responsabilidade
> com relação ao presente e ao futuro da humanidade. São eles os que,
> detentores de credibilidade, conseguem tribunas e espaços para fazer eco às
> suas convicções políticas. Por essa razão acredito ser obrigação do
> compositor não se encerrar em uma torre de marfim. O compositor que se
> tranca em torre de marfim é um compositor criminoso.
>
>  A música popular, mesmo aquela de protesto, sempre foi rapidamente
> adotada como mercadoria pela indústria fonográfica. O rap e o funk também
> seguiram a mesma trajetória. Mensagens políticas construídas para a venda,
> não convencem a ninguém.
>

Quanta ingenuidade acerca do que seja "o político". Esperemos que seja bem
intencionada.


>  A música erudita moderna e de vanguarda é a única vertente musical que
> resta, ainda hoje, não recuperada pelo sistema. Assim, ela passa a ser, ou
> a continuar a ser, o único suporte capaz de dar credibilidade a mensagens
> extra-artísticas de cunho social ou político.
>

Faz-me rir.

Abraços,
Carlos
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