[ANPPOM-Lista] Nilo Batista denuncia a censura inconstitucional: A criminalização do funk

Jorge Antunes antunes em unb.br
Sex Nov 8 17:45:57 BRST 2013


Colegas:

O rap nasce na Jamaica.

The first rap record was the song ''Skaiing West,'' released in 1963 by a
group calling itself Sir Lord Comic and the Cowboys. Other rappers, such as
King Stitt the Ugly One, Uroy and Big Youth, to name a few, quickly
followed. Rapping has been firmly entrenched in Jamaican music since the
early 60's.

Fonte:
http://www.nytimes.com/1988/06/15/opinion/l-rap-music-began-on-jamaica-in-the-1960-s-659388.html



Em 8 de novembro de 2013 16:43, Lucas Eduardo <lucasgalon em gmail.com>escreveu:

> Carlos e demais, estou achando bastante divertida esta discussão; Mas
> gostaria , depois de ler todas as postagens, de perguntar, sem ironia (para
> quebrar o tom dominante...), duas coisas:
>
> Carlos, você realmente acredita que existe isomorfismo entre o Funk ou o
> Rap (por ex.) e as oralidades e tradições regionais brasileiras urbanas ou
> rurais (ou música popular e folclórica brasileira)????? - pergunto com base
> no seu comentário sobre o que disse o Alvaro;
>
> E, pegando carona no que você respondeu para o Rubens Ricciardi: você
> realmente acredita que não existe uma indústria da cultura, ou cultural, ou
> sistema que se apropriaria das manifestações populares etc. etc.
> transformando-as em produtos bastante parecidos uns com os outros????
>
> Antes de ser acusado de caricatura, esclareço que pergunto sem procurar
> fazer juízo de valores, postulando sobre o que é pior ou melhor, ou, usando
> a sua lógica, se tem ou não "vida intelectual"...etc. Apenas fiquei
> curioso...
>
> PS. Sobre o RAP nascer na Jamaica, confesso que também fiquei surpreso...
>
> abraços
>
>
> Em 7 de novembro de 2013 21:37, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>escreveu:
>
>>
>> Corrigindo:
>>
>>  O rap surgiu na Jamaica na década de 196ater mer0,
>>>
>>
>> O rap não surgiu na Jamaica, mas nos Estados Unidos, nos anos 1970. No
>> máximo, o que se poderia dizer é que existiu um proto-rap na Jamaica.
>>
>>
>>> foi levado para os Estados Unidos dez anos depois e, em seguida, se
>>> espalhou pelo mundo.
>>>
>>
>> Como não surgiu na Jamaica, mas nos Estado Unidos, não pode,
>> infelizmente, ser "levado".
>>
>> A burguesia ficou apavorada. As letras da nova manifestação artística
>>> falavam das dificuldades da vida dos habitantes de bairros pobres. O
>>> protesto social, a irreverência e a pregação da violência chegaram a
>>> amedrontar os donos do poder.
>>>
>>
>> O rap, inicialmente, não falou de qualquer problema social, ele tinha
>> caráter meramente diversivo. Quando, em *The Message*, em 1982,
>> Grandmaster Flash an the Furious Five tornaram o rap "consciente", eles o
>> fizeram por pressão da gravadora, embora achassem ridículo.
>>
>>
>>>  Mas o poder de fogo do rap começou a cair quando, na década de 1990, o
>>> gênero despertou o interesse da indústria fonográfica. Hoje, completamente
>>> recuperado, tornou-se manifestação comercial e foi absorvido pelo sistema.
>>> Dessa forma, as falas ritmadas do MC já não assustam a ninguém. Tudo se
>>> tornou banal, comercial e bom para dançar. Não são apenas os jovens pobres
>>> que dançam. As dondocas e as patricinhas também entram na onda. O rap de
>>> protesto e o funk se fazem presentes até mesmo nas novelas da TV Globo.
>>>
>>
>> Abstenho-me de me alongar. Digo apenas que o supracitado revela a
>> ignorância profunda do autor quanto ao tema.
>>
>>
>>>  Platão, em seu programa ético-musical da República, estudou as reações
>>> emotivas da massa popular. Jean-Jacques Rousseau, no século 18, detalhou
>>> alguns aspectos do fenômeno, lembrando que o intervalo de terça maior
>>> excita o sentimento de alegria, podendo chegar a imprimir ideias de furor.
>>> A terça menor, ao contrário, leva as massas à tristeza, despertando ternura
>>> e suavidade. Não é à toa que todos os hinos nacionais, além de usarem ritmo
>>> marcial, são escritos em modo maior. Observa-se, por outro lado, que quase
>>> todos os cantos religiosos e fúnebres são em modo menor. As reflexões de
>>> Platão e Rousseau se juntam a muitas outras que se seguiram, para
>>> demonstrarmos o poder de fogo que a música tem para influir nos destinos do
>>> homem e para formar mentalidades. Sou daqueles que acreditam que a vida
>>> imita a arte.
>>>
>>
>> Algumas linhas de erudição barata, com as quais se pensa ludibriar os
>> tolos.
>>
>>
>>>  Em 1966, quando a ditadura militar reprimia violentamente as
>>> manifestações estudantis na Cinelândia, no Rio de Janeiro, escrevi uma obra
>>> para orquestra de cordas e fita magnética intitulada *Dissolução*. Como
>>> eu já estudava Física, todo mundo pensava que o título de minha peça tinha
>>> conotação extra-musical com algo de científico, de Química: a “dissolução”
>>> de alguma substância em laboratório. Mas, na verdade, a conotação era
>>> política e de contestação. Na obra tento descrever, com sons, a dissolução,
>>> feita pela polícia, de uma manifestação estudantil na rua. Na fita, além de
>>> sons eletrônicos, uso ruídos dramáticos de vidraças quebradas.
>>>
>>
>> Quanto engajamento, meu deus!
>>
>>
>>>   Naquela época não era fácil se fazer música engajada politicamente.
>>> Eu conseguia fazer, mas sempre de modo velado, disfarçado. A censura e a
>>> perseguição caiam sempre sobre qualquer obra de arte que insinuasse, em seu
>>> conteúdo ou em seu título, algo referente às questões sociais e políticas.
>>> Os autores de obras daquele tipo, então consideradas subversivas, passavam
>>> a ser perseguidos pelo donos do poder e até mesmo discriminados pelos
>>> próprios colegas artistas. Quem era amigo de um subversivo, corria risco de
>>> também ser considerado subversivo.
>>>
>>>  Hoje, os historiadores são sempre limitados quando analisam a censura
>>> praticada contra a produção cultural na época do regime militar. Eles se
>>> atêm ao estudo da repressão sofrida pela imprensa, pela literatura e pela
>>> música popular. Desconhecem, totalmente, a censura que foi imposta, pelo
>>> regime militar, à música erudita brasileira.
>>>
>>> Em abril de 1964 minha canção *Cabra da Peste*, escrita para voz de
>>> barítono e piano, foi censurada pela direção da Rádio MEC do Rio de
>>> Janeiro. Para que fosse tocada no programa *Jovens Compositores do
>>> Brasil*, produzido por Dieter Lazarus, fui convidado a fazer nova
>>> gravação nos estúdios da rádio, desde que mudasse a letra da música.
>>>
>>> Não faltaram, no passado, histórias de compositores brasileiros, na área
>>> da música erudita, que viveram uma fase de ativismo político através da
>>> música. Cláudio Santoro compôs, em 1953, sua *Quinta Sinfonia*, também
>>> conhecida como *Sinfonia da Paz*, com texto da poetisa comunista
>>> Antonieta Dias de Moraes. Gilberto Mendes, que à época estudava com
>>> Santoro, também escreveu canções engajadas politicamente usando poemas da
>>> mesma autora. Da mesma época data a obra *Canto do Soldado Morto*, de
>>> Eunice Katunda, com texto do poeta comunista Rossini Camargo Guarnieri. Por
>>> volta de 1973 o compositor paulista Willy Corrêa de Oliveira passou a
>>> compor unicamente obras musicais com fins de doutrinação política,
>>> militando junto às Comunidades Eclesiais de Base. Mas essa postura foi
>>> abandonada alguns anos depois.
>>>
>>> Esses exemplos correspondem a fatos esporádicos e efêmeros, ocorridos
>>> circunstancialmente nas vidas daqueles compositores. Alguns deles, logo
>>> após aquelas experiências, voltaram a fazer arte pela arte. Outros chegaram
>>> até mesmo a virar casaca e condenar aquelas suas próprias posições do
>>> passado. Esse foi o caso, por exemplo, de Claudio Santoro. Em 1979, num
>>> debate realizado durante a Bienal de Música Contemporânea Brasileira,
>>> Santoro declarou que renegava todo aquele passado de engajamento
>>> político e que se arrependia de ter defendido ideias de esquerda e de
>>> tê-las embutido em algumas obras.
>>>
>>> Assim, são raros, no Brasil, casos de compositores de música erudita que
>>> abraçaram e nunca mais abandonaram o ativismo político por meio da música,
>>> tal como aconteceu em outros países. Podemos citar, como exemplos dessas
>>> exceções: o alemão Hanns Eisler, o inglês Cornelius Cardew, o italiano
>>> Luigi Nono, o chileno Sergio Ortega, o italiano Luca Lombardi, o austríaco
>>> Wilhelm Zobl, o grego Thanos Mikroutsikos e o norte-americano Frederick
>>> Rzewski.
>>>
>>>  Intelectuais sempre tiveram, e continuam a ter, enorme responsabilidade
>>> com relação ao presente e ao futuro da humanidade. São eles os que,
>>> detentores de credibilidade, conseguem tribunas e espaços para fazer eco às
>>> suas convicções políticas. Por essa razão acredito ser obrigação do
>>> compositor não se encerrar em uma torre de marfim. O compositor que se
>>> tranca em torre de marfim é um compositor criminoso.
>>>
>>>  A música popular, mesmo aquela de protesto, sempre foi rapidamente
>>> adotada como mercadoria pela indústria fonográfica. O rap e o funk também
>>> seguiram a mesma trajetória. Mensagens políticas construídas para a venda,
>>> não convencem a ninguém.
>>>
>>
>> Quanta ingenuidade acerca do que seja "o político". Esperemos que seja
>> bem intencionada.
>>
>>
>>>  A música erudita moderna e de vanguarda é a única vertente musical que
>>> resta, ainda hoje, não recuperada pelo sistema. Assim, ela passa a ser, ou
>>> a continuar a ser, o único suporte capaz de dar credibilidade a mensagens
>>> extra-artísticas de cunho social ou político.
>>>
>>
>> Faz-me rir.
>>
>> Abraços,
>> Carlos
>>
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