[ANPPOM-Lista] Digest Anppom-L, volume 100, assunto 36

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Qua Out 30 00:50:12 BRST 2013


Caro Ernesto,

Parabenizo-lhe por mais uma brilhante colocação. A alteração nos recursos humanos e na programação da Rádio MEC, se for mesmo concretizada - ainda mais de forma silenciosa - certamente é um ato a ser repudiado. Primeiro, porque ela é um dos poucos veículos de mídia massiva que não está sob o controle de empresários e da indústria cultural (basta analisar as políticas culturais no Brasil para deduzir que Adorno não descansa em paz...). Segundo, porque tudo o que o governo muda é sempre pra pior, com exceção dos salários dos congressistas. Terceiro, porque ter fortes argumentos para defender uma coisa ou outra não fazem a menor diferença para as decisões em fóruns criados por governos pseudo-democráticos.

Obviamente, as lutas pela Música de Concerto dificilmente serão abraçadas por antropólogos, historiadores ou "os etnos" defensores da cultura dita "popular" - cujas fronteiras, na prática, são cada vez menores em relação à cultura europeia ou erudita. O fato é que todos estão confortáveis com a grande atenção que as empresas e o governo dão para a cultura popular, mas tem sido incapazes de enxergar - ou reconhecer - um lado importante e maquiavélico que há nessas políticas:

1) O artista popular "nasce sabendo", então, ele muito raramente irá exigir acesso a uma formação ou aprimoramento artístico (se ele estudar, pode até correr o risco de se "tornar erudito"; esta é uma boa discussão...);

2) O artista popular trabalha com os recursos que estão à sua disposição no momento, sendo assim, não exige do governo e das empresas investimentos em recursos ou infraestrutura - fato totalmente diferente das artes clássicas;

3) A arte popular já atinge, naturalmente, grandes públicos no Brasil. Isso implica em publicidade para as empresas, e votos para o governo.


Está aí a receita para dizimar a cultura de um país.

Daniel Lemos





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