[ANPPOM-Lista] Bahiano, “O Fr(anc)esco”, 1907–1912

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Qua Ago 27 03:06:37 BRT 2014


Coloquei em meu canal do Soundcloud “O Fresco” ou “O Francesco”, disco
Odeon 108.533 da Casa Edison, Rio de Janeiro, pelo Bahiano, cuja datação
estimativa da *Discografia brasileira 78 RPM 1902–1964* é 1907–1912. A
música descreve um jovem prostituto no Largo do Rocio. Minha transcrição é
tentativa. Se alguém tiver uma ideia melhor, por favor, me ajude.

“A praça Tiradentes, em 1901, se não é mais aquelle logradouro melancolico
que a gente póde ver na estampa de Debret, ainda conserva certos aspectos
dos velhos tempos coloniaes. O quadro do casario, em torno, por exemplo, um
casario desornado e feio, com seus telhados rugosos e encardidos pela acção
do tempo, alguns delles, até, armados em sotéa e onde, não raro, se chega a
ver a corda com a roupa que branqueja ao sol, esse quadro molesto ainda não
mudou. Ao centro, o jardim, um jardim á Luiz de Vasconcellos e Souza,
bosque selvagem e hirsuto, sem grandes perspectivas, todo elle um espesso
tapavistas de folhagem, com ruasinhas de macadame mal varridas, e por onde
passeiam, depois de oito horas da noite, moços de ares feminis, que falam
em falsete, mordem lencinhos de cambraia, e põem olhos acarneirados na
figura varonil e guapa do senhor Pedro I, em estatua. De S. M. dizer-lhes,
do alto de seu cavallo, como a outros já disse, figuradamente, em certa
revista do anno:

— Meninos, olhem que sou de bronze...” (Luiz Edmundo, *O Rio de Janeiro de
meu tempo*, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1938, vol. 1, 151–152).

http://soundcloud.com/carlos-palombini/bahiano-o-francesco-19071912

Aqui estou eu que sou faceiro e bem macio,
Bem vestidinho, ando sempre por detrás.
Sou morador aqui no Largo do Rocio,
Meus bons senhores, aqui estou pra tudo o mais.

Ai, que frescuras, que luxúrias, já se vê,
Sou bonitinho, faceirinho como o quê!
Lá no Rocio em tom macio sei falar.
Depois das onze ganho meu bronze até fartar.

Bonitinho, bem vestido, em boa roda,
Flor no peito, bengalinha, assim, na mão,
Chapeu de palha, paletó curtinho, à moda,
Faço nos homens tremeliques e sensação.

Ai, que luxúrias, que frescuras, já se vê,
Sou bonitinho, faceirinho como o quê!
Lá no Rocio em tom macio sei falar.
Depois das onze ganho meu bronze até fartar.

Com pó-de-arroz aqui na face, sou finório,
Um cortinado tenho até no meu chatô,
Onde eu recebo muitas vezes o… gório,
Amigo meu que lá já foi e que gostou.

Ai, que luxúrias, que frescuras, já se vê,
Sou bonitinho e apertadinho como o quê!
Lá no Rocio em tom macio sei falar.
Depois das onze ganho meu bronze até fartar.

Enquanto que ali no Largo é um sucesso,
eu só ouço, "bonitinho, venha cá!"
Não levo […] porque logo […]
Pois sem arame o tubarão não entrará.

Ai, que luxúrias, que frescuras, já se vê,
Sou bonitinho, faceirinho como o quê!
Lá no Rocio em tom macio sei falar.
Depois das onze ganho meu bronze até fartar.

É que o famoso peixe-espada é arriscado,
E por isso eu não vou no arrastão.
Tenho medo de ficar todo engasgado
E me estragarem a panela do feijão.

Ai, que luxúrias, que frescuras, já se vê,
Sou bonitinho e apertadinho como o quê!
Lá no Rocio em tom macio sei falar.
Depois das onze ganho meu bronze até fartar.
-- 
carlos palombini
professor de musicologia ufmg
professor colaborador ppgm-unirio
orcid.org/0000-0002-4365-7673
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