[ANPPOM-Lista] Vincent na Chatuba

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Dom Dez 28 10:58:54 BRST 2014


Na tarde de terça-feira, 9 de dezembro de 2014, o fotógrafo Vincent
Rosenblatt, que acabara de chegar de Miami, concedeu esta entrevista,
entrecortada por baforadas de cigarros Nat Sherman, na área de serviço do
apartamento em Copacabana, enquanto preparava o ateliê para, à noite,
receber colecionadores e marchands.

C.P. — A pergunta é da Adriana Facina: o que tornava o Baile da Chatuba
> especial?
>
> V.R. — Você chegava na Chatuba, era outro país. A gente não estava mais no
> Rio de Janeiro, no Brasil. Era um espaço, não sei como explicar. Seria a
> alegria particular do povo da Penha? Era um caldo de vários fatores que
> dava certo. Uma incubadora de MCs que estourariam depois: Smith, Max,
> Orelha, outros. Excelentes DJs: o Napô — DJ Napô da Pitbull — e o Byano,
> que estourava todos os sucessos, produzidos para o baile e nele testados.
> Talvez a personalidade dos bandidos do momento, muito festeiros. A mistura
> da favela com globais: às vezes esta atriz, aquele ator. Jogadores de
> futebol: o Adriano, que morava perto e não deixava de se divertir. A pessoa
> sabia que podia ir e jamais alguém mexeria com ela. E o povão funkeiro, pra
> dançar até se acabar. O baile ficava *muito* lotado, a quadra parecia
> pequena, e nunca uma briga! Havia uma harmonia coletiva no caos organizado.
>
> E havia rituais. Em dado momento do baile Byano lançava uma paródia funk
> da música do Silvio Santos, “Quem quer ganhar dinheiro?”, e todos os
> olhares do povo da Chatuba convergiam para o camarote. Durante a música o
> [...] e os outros jogavam notas de cinquenta, de cem, *muitas*, para o
> povo. Essa chuva de dinheiro era o momento de alegria coletiva. Todos
> pulavam, tentavam agarrar uma nota.
>
> A Chatuba era uma grande festa de certa generosidade, sem opressão, com
> muita alegria, muito respeito, e uma energia coletiva inacreditável. Era o
> condado da Penha, o condado do Complexo, era o principado. Você está na
> França e vai entrar em Mônaco ou passa para Luxemburgo. Era um paraíso, não
> fiscal, mas emanava uma energia em contrapartida à opressão que pode reinar
> nas comunidades ou na cidade. Era um espaço de liberdade de expressão, de
> dança. Era uma coisa particular, uma aura que raramente vi em outro lugar.
> Hoje o baile já não existe. Parte dos protagonistas morreu ou está presa.
> Espero que consiga reinventar-se em tempo de UPP, mas não sabemos.
>

A transcrição é livre. Quem prefira a autenticidade oral à ficção do estilo
poderá saltar diretamente para o registro da conversa, ao final do texto,
com os beeps de praxe, requisitados pelo entrevistado em vista da situação
por ele descrita.

http://goo.gl/oTYIXA

A publicação da entrevista coincide com o lançamento da página do website
Proibidão.org <http://www.proibidao.org> no Facebook.​

https://www.facebook.com/proibidao.org

-- 
carlos palombini
professor de musicologia ufmg
professor colaborador ppgm-unirio
ufmg.academia.edu/CarlosPalombini <http://goo.gl/KMV98I>
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