[ANPPOM-Lista] o villa-lobos de guérios

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Ter Jan 7 10:48:41 BRST 2014


Mas o artigo é excelente! Pontua o que deseja pontuar e o faz com categoria. Penso que seria exagero usar o texto para "culpar" Villa-Lobos por seguir uma moda, não havia meios de um artista se impor se não fazendo as concessões ao status quo, barreira estética que ele tem que agradar para entrar para a história. Isso é parte do modo de existência social de toda a arte. Descortinar essas relações de poder e de influencia não estética, mas econômica, cultural e política faz deste artigo um presente de início de ano. Guérios responde a dúvidas que apareciam na minha geração nos anos de formação, mas que a gente preferia deixar pra depois, aceitando o discurso essencialista. Isso não diminui Villa-Lobos, a música. É que diluir um ídolo na sua conjuntura social e histórica é sempre bom.
Obrigado, Carlos.
Abraço, 
Luciano




Em Terça-feira, 7 de Janeiro de 2014 10:17, Gabriel Moreira <gfmoreira em ymail.com> escreveu:
 

Olá prof.Rubens.


Em plena concordância com o que você diz já respondo às demandas do Palombini.
De fato, quando digo que Villa-lobos assumiu o discurso nacionalista o faço com base em textos escritos de punho pelo compositor, arquivados no museu Villa-Lobos, e não em material musical extraído de suas obras em minhas análises ou de qualquer outro musicólogo. É. Um discurso político, não necessariamente realizado  em música, a não ser como uma relação secundária. Por exemplo : o partido nos obriga a fazer música neofolclórica como parte de sua orientação nacionalista. Obedecer a tal orientação aponta o direcionamento nacionalista do compositor (um resumão do jdanovismo). Entretanto, se num universo paralelo, determinada nação oficializa o dodecafonismo como música do regime, a mesma relação permanece, evidenciando a pouca substância de uma análise baseada em nacionalismo como elemento hermenêutico da linguagem musical, assim reforçando todas imprecações apresentadas pelo professor com relação ao termo, do ponto
 de vista musical (o ponto de vista político do nacionalismo do séc.XX já é/foi bastante criticado, ainda assim alguns de nós nos preendemos aguerridamente a essa visão como se dela pudéssemos tirar algo de novo sobre a música, fazendo uma nova musicologia às avessas, com "muito" "conteúdo" "crítico" e sem música alguma).

 A criação da série Choros está desvinculada da intenção nacionalista, no mínimo, pelos seguintes pontos:1) foi escrita tendo como portfólio de Villa-Lobos para os Franceses, ávidos pelo exótico na música, sob o vácuo do primitivismo stravinskyiano, uma vez que o compositor russo negava esse elemento tendo em vista sua empreitada neoclássica iniciada aos anos 20. 2) A própria descrição dos Choros dada por Villa-Lobos em epígrafes das partituras se prende em aspectos composicionais, onde o elemento folclórico é a maneira de emoldurar os procedimentos composicionais de Villa-lobos. Abaixo a citação:

"O choro representa uma nova forma de composição musical, na qual fiquem sintetizadas várias modalidades da nossa música selvagem e popular, tendo como principais elementos o ritmo e qualquer melodia típica e popularizada, que aparece de quando em quando, acidentalmente, sempre modificada segundo a personalidade do autor. Os processos harmônicos são também quase uma estilização completa do próprio original (VILLA-LOBOS,  epígrafe do Choros 10, 1928)"

Com relação às datas dos manuscritos de Uirapuru, existem controvérsias, mas independente delas, o elemento dito 'nacional, - não nacionalista - já estava presente, no mínimo nas obras que eu citei. O que acontece em 23 e Guérios aponta como "tornar-se um músico brasileiro" é a assimilação da linguagem dos Les Six por Villa-Lobos e o investimento marketeiro na figura de "compositor brasileiro" na procura pelo seu lugar ao sol na Crítica artística parisiense. Apenas com total desconhecimento do repertório villalobiano podemos levar ao pé da letra o título do artigo do Guérios.

Com relação à bibliografia que citei, lembro especialmente de Lisa Peppercorn, Tarasti, Anais Fletcher, que fizeram trabalhos muito dedicados na construção da biografia de Villa-Lobos, partindo de diferentes perspectivas. Peppercorn comenta que já em 1915 Villa-Lobos visitava o Museu Nacional, acompanhado de sua esposa, ouvindo os fonogramas de Roquete-Pinto. Manoel Correia do Lago também salienta a amizade existente entre Roquete-Pinto e Villa-Lobos. Enfim...
Abraços.


Em segunda-feira, 6 de janeiro de 2014, Carlos Palombini escreveu:

Realmente, Guérios se abstém de provar muito do que diz, mas o argumento dele é bem menos simplista que o seu, que não faz senão reiterar o que diz "boa parte da bibliografia", precisamente, a parte que não é boa.
>
>2014/1/6 Gabriel Moreira <gfmoreira em ymail.com>
>
>A francofonia em Villa-Lobos diz respeito aos Choros, não à presença de elementos nacionais. Desde os anos 10 o compositor já assumia a música popular em seu repertório, e na mesma época pesquisava música indígena, segundo boa parte da bibliografia.
>>O artigo do Guérios é bem escrito, mas peca pelo simplismo e especialmente por prescindir de uma boa discussão a esse respeito.
>>Abraços
>>
>>
>> 
>>Prof. Gabriel Ferrão Moreira
>>Professor de Música, Áudio e Tecnologia - Produtor musicalMestre em Música pela Universidade do Estado de Santa Catarina
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>>
>>
>>Em 31 de dezembro de 2013 10:45, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com> escreveu:
>>
>>
>>>Um ótimo artigo de Paulo Guérios, no qual ele mostra que o nacionalismo modernista (cf. Béhague) ou o modernismo nacionalista (cf. Tarasti) de Villa-Lobos não é brasileiro, mas francês:
>>>
>>>"O fato de Villa-Lobos ter começado a compor 
músicas brasileiras a partir de 1923 deveu-se não à descoberta de que 
ele teria uma essência brasileira, mas sim a um processo de transformação que foi colocado em marcha por uma série de mecanismos sociais de atribuição de valor. O papel da Semana de 22 em sua 
trajetória foi exagerado por seus biógrafos e estudiosos, que atribuíram a esse evento papel decisivo na transformação de Villa-Lobos em um 
compositor preocupado com a música brasileira."
>>>
>>>Heitor Villa-Lobos e o ambiente artístico parisiense: convertendo-se em um músico brasileiro
>>>
>>>http://ref.scielo.org/5rr6g7
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>>>carlos palombini
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>>>scholar.google.com.br/citations?user=YLmXN7AAAAA
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