[ANPPOM-Lista] o villa-lobos de guérios

Gabriel Moreira gfmoreira em ymail.com
Ter Jan 7 07:43:54 BRST 2014


Olá prof.Rubens.

Em plena concordância com o que você diz já respondo às demandas do
Palombini.
De fato, quando digo que Villa-lobos assumiu o discurso nacionalista o faço
com base em textos escritos de punho pelo compositor, arquivados no museu
Villa-Lobos, e não em material musical extraído de suas obras em minhas
análises ou de qualquer outro musicólogo. É. Um discurso político, não
necessariamente realizado  em música, a não ser como uma relação
secundária. Por exemplo : o partido nos obriga a fazer música neofolclórica
como parte de sua orientação nacionalista. Obedecer a tal orientação aponta
o direcionamento nacionalista do compositor (um resumão do
jdanovismo). Entretanto, se num universo paralelo, determinada nação
oficializa o dodecafonismo como música do regime, a mesma relação
permanece, evidenciando a pouca substância de uma análise baseada em
nacionalismo como elemento hermenêutico da linguagem musical, assim
reforçando todas imprecações apresentadas pelo professor com relação ao
termo, do ponto de vista musical (o ponto de vista político do nacionalismo
do séc.XX já é/foi bastante criticado, ainda assim alguns de nós nos
preendemos aguerridamente a essa visão como se dela pudéssemos tirar algo
de novo sobre a música, fazendo uma nova musicologia às avessas, com
"muito" "conteúdo" "crítico" e sem música alguma).

 A criação da série Choros está desvinculada da intenção nacionalista, no
mínimo, pelos seguintes pontos:1) foi escrita tendo como portfólio de
Villa-Lobos para os Franceses, ávidos pelo exótico na música, sob o vácuo
do primitivismo stravinskyiano, uma vez que o compositor russo negava esse
elemento tendo em vista sua empreitada neoclássica iniciada aos anos 20. 2)
A própria descrição dos Choros dada por Villa-Lobos em epígrafes das
partituras se prende em aspectos composicionais, onde o elemento folclórico
é a maneira de emoldurar os procedimentos composicionais de Villa-lobos.
Abaixo a citação:

"O choro representa uma nova forma de composição musical, na qual fiquem
sintetizadas várias modalidades da nossa música selvagem e popular, tendo
como principais elementos o ritmo e qualquer melodia típica e popularizada,
que aparece de quando em quando, acidentalmente, sempre modificada segundo
a personalidade do autor. Os processos harmônicos são também quase uma
estilização completa do próprio original (VILLA-LOBOS,  epígrafe do Choros
10, 1928)"

Com relação às datas dos manuscritos de Uirapuru, existem controvérsias,
mas independente delas, o elemento dito 'nacional, - não nacionalista - já
estava presente, no mínimo nas obras que eu citei. O que acontece em 23 e
Guérios aponta como "tornar-se um músico brasileiro" é a assimilação da
linguagem dos Les Six por Villa-Lobos e o investimento marketeiro na figura
de "compositor brasileiro" na procura pelo seu lugar ao sol na Crítica
artística parisiense. Apenas com total desconhecimento do repertório
villalobiano podemos levar ao pé da letra o título do artigo do Guérios.

Com relação à bibliografia que citei, lembro especialmente de Lisa
Peppercorn, Tarasti, Anais Fletcher, que fizeram trabalhos muito dedicados
na construção da biografia de Villa-Lobos, partindo de
diferentes perspectivas. Peppercorn comenta que já em 1915 Villa-Lobos
visitava o Museu Nacional, acompanhado de sua esposa, ouvindo os fonogramas
de Roquete-Pinto. Manoel Correia do Lago também salienta a amizade
existente entre Roquete-Pinto e Villa-Lobos. Enfim...
Abraços.



Em segunda-feira, 6 de janeiro de 2014, Carlos Palombini escreveu:

> Realmente, Guérios se abstém de provar muito do que diz, mas o argumento
> dele é bem menos simplista que o seu, que não faz senão reiterar o que diz
> "boa parte da bibliografia", precisamente, a parte que não é boa.
>
> 2014/1/6 Gabriel Moreira <gfmoreira em ymail.com>
>
>> A francofonia em Villa-Lobos diz respeito aos Choros, não à presença de
>> elementos nacionais. Desde os anos 10 o compositor já assumia a música
>> popular em seu repertório, e na mesma época pesquisava música indígena,
>> segundo boa parte da bibliografia.
>> O artigo do Guérios é bem escrito, mas peca pelo simplismo e
>> especialmente por prescindir de uma boa discussão a esse respeito.
>> Abraços
>>
>>
>> *Prof. Gabriel Ferrão Moreira*
>> Professor de Música, Áudio e Tecnologia - Produtor musical
>> *Mestre em Música pela Universidade do Estado de Santa Catarina
>> Doutorando em Música pela Universidade do Estado de São PauloTelefones:
>> (48) 9911-6629 <%2848%29%209911-6629>; (48) 4009-3855
>> <%2848%29%204009-3855> *
>>
>>
>> *Portal Sunrays Music <http://www.youtube.com//sunraysmusic> *
>>
>>
>> Em 31 de dezembro de 2013 10:45, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>escreveu:
>>
>>>
>>> Um ótimo artigo de Paulo Guérios, no qual ele mostra que o nacionalismo
>>> modernista (cf. Béhague) ou o modernismo nacionalista (cf. Tarasti) de
>>> Villa-Lobos não é brasileiro, mas francês:
>>>
>>> "O fato de Villa-Lobos ter começado a compor músicas brasileiras a
>>> partir de 1923 deveu-se não à descoberta de que ele teria uma essência
>>> brasileira, mas sim a um processo de transformação que foi colocado em
>>> marcha por uma série de mecanismos sociais de atribuição de valor. O papel
>>> da Semana de 22 em sua trajetória foi exagerado por seus biógrafos e
>>> estudiosos, que atribuíram a esse evento papel decisivo na transformação de
>>> Villa-Lobos em um compositor preocupado com a música brasileira."
>>>
>>> Heitor Villa-Lobos e o ambiente artístico parisiense: convertendo-se em
>>> um músico brasileiro
>>>
>>> http://ref.scielo.org/5rr6g7
>>>
>>> --
>>> carlos palombini
>>> professor de musicologia ufmg
>>> proibidao.org
>>> ufmg.academia.edu/CarlosPalombini
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*Prof. Gabriel Ferrão Moreira*
Professor de Música, Áudio e Tecnologia - Produtor musical
*Mestre em Música pela Universidade do Estado de Santa CatarinaDoutorando
em Música pela Universidade do Estado de São PauloTelefones: (48)
9911-6629; (48) 4009-3855*


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