[ANPPOM-Lista] Para refletir!

João Paulo Nascimento jpcn em yahoo.com.br
Qui Mar 13 10:44:49 BRT 2014


Para apontar apenas um critério que considero problemático no texto do Alexandre de Barros: qual a pertinência de se considerar o Prêmio Nobel como um critério importante de avaliação para o ingresso de um pesquisador em uma universidade? Em qual contexto de de vida acadêmica este critério se instaura, mesmo que só por orientação, mesmo que não de forma determinante? Que tipo de imaginário a respeito da produção e valoração de conhecimento ele nos convida a entrar? Acabei de ver que a mesma academia sueca do Nobel fornece um prêmio de filosofia e lógica, de matemática, de artes visuais e de música. No de filosofia e "lógica", parece-me que a orientação acadêmica dos últimos ganhadores é bem determinada. Em geral, ou são oriundos da lógica e filosofia analítica, ou são filósofos comprometidos com o liberalismo político e econômico. Longe de deslegitimar essas tendências, podemos considerar que elas são apenas parte do
 universo de diversidade de tendências que deveriam orientar a construção de conhecimento e saberes. Será que essa constatação do autor do texto, Alexandre Barros, não evidência uma determinada limitação das universidades americanas? Um determinado comprometimento específico com um setor específico da vida?
São perguntas apenas…

Abraços aos que leem!

João Paulo Nascimento



Em Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014 13:45, Ale Fenerich <fenerich em gmail.com> escreveu:
 
Só posso concordar com Daniel Puig e Carlos Palombini: não se faz mestrado e doutorado para ter acesso a linhas de fomento; faz-se para desenvolver uma pesquisa em música de cunho pessoal, e para transmitir esta pesquisa. Ter acesso a esses meios de fomento não é um privilégio, mas acessá-los é um dever do pesquisador. Mas este procurará as agências de acordo com as pesquisas que realiza. Não entender essa dinâmica é revelar uma enorme distorção e total cegueira institucional...

A universidade não formar bons instrumentistas (e isso é uma mentira, pois forma muitos bons instrumentistas) não significa que deva excluir a pesquisa em música nas suas diversas áreas. A diversidade e a intensidade deveriam ser a marca dessa pesquisa. É problemas diferente se não há bons instrumentistas na Universidade: não é o pesquisador que deveria suprir esta lacuna, mas a instituição como um todo. Eu não sei quanto ao colega, mas não me considero nem filósofo nem butequeiro no meu trabalho enquanto artista, professor e pesquisador em música. E por isso mesmo valorizo meu trabalho de pesquisador na sua especificidade e nas necessidades que levanta, tanto materiais quanto humanas.

---

O artigo em questão não analisa a universidade brasileira no que ela tem de esquizo: num mesmo curso pretende-se formar técnicos e pesquisadores acadêmicos. A falta de clareza para o estudante e o próprio corpo docente de qual foco deva tomar, a meu ver, é uma das principais razões pela qual a pesquisa em música não tem a dimensão que gostaríamos, e a prática, idem. No meu caso e no de inúmeros colegas, ministramos disciplinas demais, em naturezas opostas, sendo também cobrados pela instituição para que sejamos produtivos enquanto artistas e pesquisadores - atividades que exigem um mínimo de foco. Não analisar este aspecto é tapar o sol com a peneira.

Mas não concordo absolutamente nem que, apesar de tudo, formemos apenas maus instrumentistas ou compositores, nem que a pesquisa em música no Brasil seja totalmente incipiente. Basta olharmos em volta.


Um abraço.





Em 27 de fevereiro de 2014 05:42, <rrrr em usp.br> escreveu:

vamos recapitular o texto do tal Alexandre Barros (muito bem lembrado pelo Prof. Mario Marçal Jr), realmente vale a pena ler:
>
>
>http://ordemlivre.org/posts/sem-doutorado-entao-fora?fb_action_ids=10151995942207712&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1389838204606209%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D
>
>
>portanto, diz com bom humor que nas academias do Brasil de hoje ha mais burocracia que merito... so isso... 
>
>
>abs a todos os colegas da ANPPOM,
>
>
>Rubens R. Ricciardi
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>>________________________________
>
>De: "Diósnio Machado Neto" <diosnio em gmail.com>
>>Para: "Fernando" <corvisier em usp.br>
>>
>>Cc: "Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Anppom CADASTRO" <anppomcadastro em gmail.com>
>>Enviadas: Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014 2:05:06
>>
>>Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>>
>>
>>Caros colegas,
>>
>>
>>Acho que insistir na discussão do mérito sobre ter ou não ter o artista sem titulação dentro da universidade brasileira não é a questão. Acredito que o importante é como se ensina instrumento no Brasil e quais são as reais condições em que ocorre este ensino, ou mesmo como se forma o processo de aprendizado, desde a infra estrutura até a "superiorização" deste ensino. Planteado assim não há cabimento cruzamentos e transportes de realidades. É sintoma do colonialismo impresso nos gens que nos faz olhar para os Estados Unidos, ou mesmo para o Piauí desde São Paulo; ou de Tatuí para Maceió...
>>Assim sendo, e sempre considerando que o ofício da música é tão importante como a ciência da música, e portanto um título não definiria a contenda, me permitam apenas apimentar a discussão considerando que a insistência na questão do título serve como um torniquete, que de tanto virar se esquece do fator primordial da exigência do título, que é dar condições de acesso às políticas de financiamento das agências, ampliando a capacidade de montagem de infra estruturas nos núcleos de ensino superior público. E a realidade é que esta ideia não tem prosperado, porque até onde percebo há poucos projetos de infra estrutura para ensino de instrumento financiados pelas agências de pesquisa. Não sei se isto é tão agudo como vejo e pergunto para quem sabe se assim é? E se isto for verdade, o processo de titulação torna-se inócuo. Logo seria melhor pensar em outras alternativas que deem mais impulso ao ensino de instrumento. E é
 neste ponto que quero me dispor e expor minha visão. 
>>Primeiro quero dizer que, apesar dos muitos avanços, significativos e do tamanho e méritos das notas de avaliação que vemos, por exemplo, na UFRGS, mudar a forma de ingresso do professor na universidade na nossa realidade é tanto mais difícil do que parece ser entender, e usar, as possibilidades de articulação que estão disponíveis dentro do próprio sistema. Para mim, o que aponta o Rodolfo poderia ser sanado se as instituições superiores de ensino técnico, como no caso das Fatecs paulistas, assumissem o que é difícil para a universidade, ou seja, montar a imensa estrutura que é necessária para capacitar o jovem no aprendizado de um instrumento. Pode parecer simplista, mas o que vejo hoje no Brasil é o aluno que quer ser um instrumentista privado de ambientes fundamentais para seu desenvolvimento, simplesmente porque a universidade tem protocolos de contratação e gastos que não são condizentes com o que necessita o instrumentista
 para se desenvolver; pergunto onde no Brasil há um orquestra-disciplina que dê oportunidade para o instrumentista aprender a tocar um repertório que vai de Mozart a Mahler? Isto pode se desdobrar para música de câmara, e tantas outras áreas do aprendizado do instrumento.  É só imaginar que boa parte dos músicos de orquestra em São Paulo, por exemplo, tiveram seu treinamento na Orquestra Experimental de Repertório (e aqui fica minha homenagem ao Jamil Maluf) e não numa disciplina regular e nos corpos musicais nas diversas escolas de música espalhadas em três universidades públicas!!!!!
>>Em suma, o problema está além de ter ou não o professor artista. Está nas possibilidades, reais, de infraestrutura de ensino e, também, na formação de uma mentalidade do professor titulado em buscar as vias de financiamento que lhe permite o título. E isto articula-se também por definir melhor uma política institucional sobre a música na universidade, pois parece que queremos tudo, mas podemos bem pouco! Esta condição que nos fragiliza ao requerer paridade do artista com o cientista (e por favor me poupem de explicação da natureza de um e de outro, pois ambos formam o arabesco do saber e sentir humano)
>>Logo, mesmo que sem expor outros argumentos, acho que o problema como exposto parece ser mais uma questão de reconhecimento do artista diante do saber científico (que é filosófico e butequeiro ao mesmo tempo) do que a disposição de criar estruturas competentes para o desenvolvimento do jovem instrumentista, que o título permite (e até acho justo bradar contra isto, mas aí é outro departamento).
>>Atenciosamente,
>>Diósnio Neto
>>
>>
>>
>>No dia 26 de Fevereiro de 2014 às 09:24, <corvisier em usp.br> escreveu:
>>
>>Caro Rodolfo,
>>> 
>>>Acho que você se enganou. Existem sim professores artistas,
sem doutorado, lecionando em tempo integral  nas universidades estatais americanas. Posso citar um exemplo do meu ex-professor
de piano  e um notável artista Abbey
Simon, que apesar dos seus 91 anos,  ainda leciona em tempo integral na
Universidade de Houston. 
>>>
>>>
>>>Fernando Corvisier
>>>>>>________________________________
>>>
>>>De: rcoelho em usp.br
>>>>Para: "Mario Marçal Jr" <mariomarcaljr em gmail.com>
>>>>Cc: "Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Anppom CADASTRO" <anppomcadastro em gmail.com>
>>>>Enviadas: Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2014 18:04:03
>>>>Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>>>>
>>>>
>>>>
>>>>Meu caro Mario,
>>>>Nem tão bom assim. Quem
conheceu de perto a vida universitária americana (fiz doutorado e pós-doc por lá) sabe que esse artigo é
falacioso.
>>>>O primeiro aspecto a
considerar é que as universidades americanas mencionadas são privadas. E mesmo
quando (parcialmente) estatais tem uma autonomia muito maior do que as nossas
públicas. Lembre-se que as universidades brasileiras privadas também podem
contratar (e contratam) professores sem doutorados e mestrados. Às vezes até
despedem um professor quando ele completa uma titulação porque o salário deveria
aumentar (conheço colegas que viveram essa experiência).
>>>>Na prática, na área de
música, nunca conheci um professor de universidade norte-americana sem titulação
acadêmica: doutorado para as áreas teóricas, ou mestrado para as cadeiras de
ensino de instrumento. Havia (e há tempos atrás com mais frequência) a prática
de contratar grandes artistas sem titulação, mas de grande reputação. Eleazar
de Carvalho, por exemplo, foi professor de Yale. Mas não o era em tempo
integral. Regia a OSESP durante o ano e reservava alguns meses das férias no
Brasil (que coincidem com um período letivo no hemisfério norte) para dar aulas
de regência por lá. Era uma espécie de professor honorário. Quem “carregava o
piano” no resto do ano era outro professor menos conhecido, mas portador de
titulação.  E esse tipo de contrato é cada fez menos frequente.
>>>>Os doutorados, aqui e
lá, são essenciais para a formação de um pesquisador e de um docente. Grandes
profissionais (ou artistas, no nosso caso) não são necessariamente bons pesquisadores
e nem mesmo bons professores. São carreiras e competências diversas.
>>>>Creio que na nossa área
o problema é outro, e bem mais específico. A universidade pública brasileira
fez uma mistura dos modelos universitários europeus e americanos, mas engessou
as flexibilidades que porventura tais modelos tivessem. Tempos atrás podíamos
contratar mestres. Isso está se tornando cada vez mais raro. A USP, onde
trabalho, não o permite mais, em nenhuma hipótese. Isso dificulta muito a
contratação de professores de instrumento. Os cursos de música que pretendem
oferecer bacharelados em instrumento sofrem pela escassez de profissionais
competentes com titulação de doutor. Esse tipo de profissional não tem vocação
e nem interesse pela pesquisa acadêmica. Aliás, não se deveria esperar que
tivessem, pois não é a natureza de sua profissão. Por isso as universidades americanas
contratam regularmente portadores de títulos de mestres para essas cadeiras (e
não exigem que eles façam pesquisa) e as europeias contratam esses professores
nos conservatórios e não nas universidades. Por outro lado projetos em cursos
de música de nossas universidades que pretendam se voltar para uma formação fortemente
teórica, como para as carreiras de musicólogos, professores de teoria, e mesmo
educadores e compositores, principalmente os que se dedicam às novas
tecnologias, continuam a sofrer uma forte resistência dos colegas, por razões
que tem a ver com disputas de mercado de trabalho e não com a natureza do
trabalho que realizam, que é perfeitamente adequado ao perfil de um conhecimento
universitário.
>>>>Lembremos que a
universidade não é apenas um local de formação profissional. É o espaço do
saber, profissionalizante ou não. Nem é a universidade o único local de
formação profissional. Por exemplo, a escolinha de futebol do Santos F.C. tem formado
profissionais muito bem sucedidos. Quem não gostaria de ganhar o salário do Neymar? 
>>>>Não apenas por isso, mas
também por isso, vira e mexe ressurgem as críticas do teor desse texto aos
professores titulados, como se eles representassem uma reserva de mercado. Criar
critérios de seleção não é fazer reserva de mercado, é cuidar do resultado da
contratação para os fins pretendidos.
>>>>O que a universidade
brasileira deveria reconhecer é a natureza diversa dos diferentes professores que
são necessários para se montar um curso de música e colocar exigências de
concurso, modelos de contrato e planos de carreiras diferenciados para as
diferentes situações. Muita disputa interna desnecessária seria evitada com
isso. Mas parece que isso é um ovo que nem Colombo conseguiria colocar em pé.
>>>>Rodolfo Coelho de Souza
>>>>>>>>________________________________
>>>>
>>>>De: "Mario Marçal Jr" <mariomarcaljr em gmail.com>
>>>>>Para: "Anppom CADASTRO" <anppomcadastro em gmail.com>, "Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>
>>>>>Enviadas: Domingo, 23 de Fevereiro de 2014 13:18:20
>>>>>Assunto: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>>>>>
>>>>>
>>>>>Olá Caríssimos Colegas!!!
>>>>>Um excelente texto para nossa reflexão! !!
>>>>>http://ordemlivre.org/posts/sem-doutorado-entao-fora?fb_action_ids=10151995942207712&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1389838204606209%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D
>>>>>Grande abraço
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>>Diósnio Machado Neto
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