[ANPPOM-Lista] estreias de aylton escobar, rogério vasconcelos e sérgio rodrigo

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Ter Maio 13 08:47:12 BRT 2014


*Leminski: quatro dizeres e uma sombra*, de Aylton Escobar, *Fluxo e
declinação*, de Rogério Vasconcelos, e *Amuleto*, de Sérgio Rodrigo,
estreiam hoje, terça-feira 13, na Fundação de Educação Artística, às 20:30,
executadas por Berenice Menegale e Eladio Pérez-González, a primeira, e por
Alice Belém, a segunda e a terceira.

As composições foram encomendadas pelo Segundo Festival de Maio para o
concerto de homenagem a Berenice Menegale, criadora e diretora da Fundação
de Educação Artística.

Abaixo, uma pequena resenha dos concertos até a noite de ontem, quando
ouvimos Kazuhito Yamashita.

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Segundo Festival de Maio, 2014



Dois anos faz, num mês de maio, um grupo de alunos e ex-alunos da pianista
Celina Szirvinsk deslocou-se de diferentes pontos do Brasil para
homenageá-la na data de seu aniversário sob forma de um recital festivo na
Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais. “Ao receber, o
solo grato produz abundante colheita”, diz o poeta inglês William Blake em
um de seus “Provérbios do Inferno”, e Celina passou a retribuir com a série
anual dos Festivais de Maio: eventos festivos nos quais, entre amigos,
colegas de trabalho e conhecidos (ou desconhecidos), musicistas deslocam-se
para Belo Horizonte a fim de participar de uma série de aulas públicas e
apresentações. As aulas são públicas em toda a extensão do termo: não há
processo de seleção para as *master classes* e as inscrições se encerram
quando as vagas são preenchidas.



Celina é conhecida nos palcos por apresentações com o violoncelista Antonio
Meneses, em diferentes formações, e por execuções no duo de piano
Rosselini/Szrvinsk. Em Belo Horizonte ela organiza várias séries de
concertos, e nesse papel a cidade lhe deve, entre outras, sua apresentação
à estelar Anna Malikova, que desde então passou a visitar-nos regularmente.



Na opinião de um dos inscritos, “nenhum festival de música no Brasil tem um
elenco de professores de piano como este”. Em ordem alfabética: Francisca
Aquino, Junia Canton, Ricardo Castro, Fernando Corvisier, Berenice
Menegale, Eduardo Monteiro, Miguel Rosselini, Luiz Senise e Celina
Szrvinsk. Este ano os cursos abarcam cordas e piano. Em cordas vieram:
Cláudio Cruz e Adonhiran Reis, para violino; Emerson di Biaggi e Gabriel
Marin, para viola; Antonio Meneses e Alceu Reis, para violoncelo; e Ricardo
Vasconcellos, para contrabaixo.



A ideia que alimenta os Festivais de Maio é a do compartilhamento de
experiências entre gerações. Ricardo Castro — primeiro lugar no Concurso de
Leeds, duo com Maria João Pires — chega de Lausanne para o concerto de
abertura, no qual executa as sonatas Waldstein e “Marcha Turca” seguidas
pela Sonata para Violino e Piano, de César Franck, com a jovem Angelica
Olivo. Angelica iniciou seus estudos em 2002 no El Sistema venezuelano,
modelo de educação musical pública com acesso gratuito e livre para
crianças e jovens adultos de todas as camadas sociais. Quem tenha estado
presente terá podido avaliar se, o quanto, e como tal intercâmbio foi de
mútuo benefício.



Quem quer que diga que “o ritual do concerto está esgotado” não terá ouvido
ontem Kazuhito Yamashita na Fundação de Educação Artística. A acústica da
FEA, obra de Conrado Silva, é perfeita: as confidências do casal na
primeira fila são audíveis na última, e a trajetória de uma mosca é
sensível (diferentemente do grande teatro do Palácio das Artes, onde um
morcego voeja para ser visto sem ser ouvido). O público foi avisado de que
ao toque do primeiro celular Yamashita daria por encerrado o evento.
Quando, após a *Suite compostelana*, o palco ficou vazio de modo
interminável, suspeitou-se que, de fato, ele houvesse desistido: o demônio
das tosses irritantes nos momentos inoportunos havia circulado pela sala e
suscitado até um latido. Enviado ao camarim em missão diplomática, escuto:
“Eu gostaria de falar com a diretora.” “O que o Senhor desejaria dela?”,
pergunto. “Que desligue o ar condicionado.” A “Chaconne” viu seu ré final
extinguir-se em demorado silêncio, que escutamos atônitos por longo tempo,
antes de qualquer um ter o desejo de interrompê-lo em aplauso. Depois de um
intervalo de vários cigarros, seguiu-se uma espera preocupada na sala
fechada, apenas o foco na cadeira do palco aceso. Não se sabe de onde, os
sons do violão de Yamashita começaram a chegar à plateia. E foi assim,
dedilhando seu instrumento, que ele entrou em cena, sentou-se, e continuou
por bom tempo, antes de dar início à Sinfonia Novo Mundo.

-- 
carlos palombini
professor de musicologia ufmg
professor colaborador ppgm-unirio
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