[ANPPOM-Lista] A ciência no Brasil é bancada pelos pais - Revista Galileu

Jorge L. Santos jorgelsantos02 em gmail.com
Dom Ago 28 12:46:05 BRT 2016


GALILEU <http://revistagalileu.globo.com/noticia/plantao.html> REVISTA
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A ciência no Brasil é bancada pelos paisBolsas dos estudantes de mestrado e
doutorado pagam menos do que o mínimo necessário para que eles se mantenham
— a solução é pedir ajuda à família ou fazer bicos para quitar as
contas25/07/2016
- 16H07/ ATUALIZADO 17H0808 / *POR GUILHERME BRENDLER*
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 *OUÇA A REPORTAGEM*
[image: (Foto: )](FOTO: JULIA RODRIGUES)

Otorcedor da Portuguesa que acompanhou as temporadas de 2013 e 2014 não
deve saber, mas muito provavelmente comprou seu ingresso no estádio do
Canindé com um doutorando em Educação. É que, trabalhando como atendente na
bilheteria do estádio nos jogos do clube, o *sociólogo* Eduardo Carvalho,
31 anos, conseguia um dinheiro extra para não ficar no vermelho. Na época,
ele recebia apenas uma bolsa deR$ 2,2 mil mensais para trabalhar em um
projeto de pesquisa sob orientação de um professor na Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo (USP). O auxílio era pago pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a instituição que
mais distribui bolsas para mestrandos e doutorandos no país.

A tese de Carvalho, que será defendida ainda neste ano na Faculdade de
Educação da USP, é sobre o retorno da Sociologia como disciplina no
currículo do *Ensino Médio*. “Sempre tive que conciliar a *pós-graduação* com
outro tipo de trabalho. Não tem como a gente se dedicar integralmente à
pesquisa com o valor da bolsa. O custo de vida em São Paulo é muito alto.”
Carvalho fez a graduação e o mestrado em *Ciências Sociais* na Universidade
Estadual de Londrina, Paraná. Mudou-se para a capital paulista após passar
no concurso para professor do Estado, função que exerceu entre 2007 e 2013
na cidade de Ilhabela, no litoral norte. Para voltar à academia e começar o
doutorado na capital, pediu demissão.

Nesse período em que abriu mão do emprego (e de qualquer estabilidade) para
se dedicar à pesquisa, ele trabalhou como *tutor* a distância e também foi
monitor de alunos da graduação para conseguir um dinheiro extra. “Eu queria
continuar me dedicando exclusivamente à pesquisa, mas queria ter também uma
vida confortável. Pô, tenho uma filha pequena, né?."

As duas agências federais de fomento à pesquisa, *Capes* e Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (*CNPq*), consideram
as bolsas de pós-graduação um auxílio, não um salário. É possível ter outra
fonte de remuneração, desde que sejam respeitadas algumas regras: o emprego
tem que ser na área de *pesquisa* do aluno, o vínculo tem que ter surgido
após a matrícula na pós, a remuneração não pode ser superior ao valor da
bolsa e o professor orientador precisa autorizar o trabalho (veja abaixo).
[image: (Foto: )]



Menos que o mínimo


Existem hoje no Brasil pouco mais de cem mil *bolsistas* do CNPq e da Capes
de mestrado e doutorado que recebem, respectivamente, R$ 1,5 mil e R$ 2,2
mil por mês. Há ainda as bolsas de *fomento à pesquisa* financiadas pelas
agências estaduais, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp), que paga uma bolsa mensal que varia entre R$1.889,40 e
R$3.446,40 para 7.601 mestrandos e doutorandos. O valor mal dá para pagar o
*aluguel* de um apartamento nas maiores cidades brasileiras, mas nem sempre
foi assim.

Em janeiro de 1995, a bolsa de *mestrado* era de exatamente R$ 724,52. Se
tivesse sido reajustada de acordo com a inflação, estaria em R$ 3.276,74
nos valores de hoje — mas ela paga só R$ 1,5 mil. O cálculo foi feito pelo
economista André Coutinho Augustin, que foi bolsista do CNPq no mestrado em
Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O levantamento,
publicado no começo de junho no blog *Enquanto se Luta se Samba Também*,
mostra que, neste ano, as bolsas de pós-graduação atingiram o menor valor
em 20 anos.Até o começo dos anos 2000, segundo Augustin, um *corte geral
nos gastos* da educação não permitiu reajustes. “Só depois de 2004 é que
começaram a fazer algumas atualizações nos valores. Mas a prioridade era o
número de *vagas* na universidade. Até 2013 as bolsas foram corrigidas só
pela inflação, sem ganho real; em 2014 veio o ajuste fiscal e aí não houve
mais correção nenhuma”, explica. Augustin comparou também o valor das
bolsas com o salário mínimo necessário, uma estimativa que o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) faz
mensalmente para saber qual seria o *salário* ideal para uma família se
sustentar. O levantamento mostrou que, entre 1995 e 1996, a bolsa de
mestrado tinha um valor muito próximo do mínimo necessário. Hoje, ela
equivale a menos da metade do mínimo.

Por isso mesmo, para se manter como bolsista, especialmente nas grandes
cidades, é preciso algum tipo de apoio da família. Thais Kuperman, 28 anos,
é formada em Jornalismo e está concluindo o mestrado em Letras na USP sobre
o romance *Herzog*, de Saul Bellow, com uma bolsa da Fapesp. Antes de
conseguir o *auxílio financeiro*, Kuperman estava trabalhando na
organização de uma exposição de arte para se manter. Depois, conseguiu se
virar só com a bolsa. “É muito apertado e é um tipo de trabalho (o
mestrado) que demanda muita *dedicação*. Às vezes é difícil ter cabeça para
fazer outras coisas por causa do envolvimento. Existem períodos bem tensos
por causa dos *prazos*, algumas pessoas têm uma relação bem complicada com
o orientador. Sem o suporte da família é muito difícil.”
[image: (Foto: )]






Bolsa da depressão

*Capes quer que juntas médicas avaliem alunos que abandonam curso por
motivos de saúde*

Um ofício emitido pela Capes no fim de maio causou *polêmica* entre
professores e alunos. O documento informava que todos os casos de
*desistência* de curso por motivo de doença deveriam ser submetidos a uma
junta médica — mas há quem afirme que a desistência possa estar ligada à
depressão
<http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/07/jogar-pokemon-go-tem-ajudado-pessoas-com-depressao.html>
causada
pela própria bolsa.

A orientação é para que o aluno seja avaliado pelo grupo de médicos antes
de o pedido de desistência ser encaminhado à Capes. A decisão foi motivada,
segundo a agência, pela “crescente quantidade de casos de não conclusão de
curso por motivos de *saúde*”.
[image: (Foto: )](FOTO: JULIA RODRIGUES)
Minha casa, minha vida

Kuperman estava morando com uma amiga antes de saber se conseguiria ou não
a bolsa. Até que sua situação se definisse, achou mais prudente voltar para
a casa dos *pais*. Quando finalmente recebeu o resultado, foi morar com o
namorado em um apartamento cedido pela avó. “Não dá para esbanjar muito,
não dá para sair o tempo inteiro. É apertado, mas sem pagar aluguel dá para
viver.”

Ter seu próprio canto é fundamental para pós-graduandos, mas é difícil
bancar o aluguel só com a bolsa. Doutoranda em Nutrigenética na USP, Marina
Norde, 26, encontrou um refúgio a 95 km de São Paulo, em Campinas, na casa
dos pais. Três vezes na semana ela vai para São Paulo cumprir as atividades
da pesquisa que realiza com bolsa da Capes. Na capital, dorme na mesma
república em que morou durante a graduação, ao custo de R$ 30 por noite.
SAIBA MAIS

   - Brasileiros ganham bolsas de pesquisa do Google
   <http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/08/brasileiros-ganham-bolsas-de-pesquisa-do-google.html>
   - Você pode acessar as pesquisas da NASA de graça pela internet
   <http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/08/nasa-disponibiliza-suas-pesquisas-gratuitamente-na-internet.html>

No mestrado, quando não tinha atividades no l*aboratório*, Norde se mudava
para a *biblioteca* da universidade para conseguir trabalhar com
tranquilidade, já que dividia o apartamento com outras três amigas e
compartilhava o quarto com uma delas. “Quando você tem o próprio ambiente,
é você quem dita o volume ali. Quando divide a casa e o quarto, não pode
exigir que a outra pessoa não faça barulho, não converse.”

O sociólogo Eduardo Carvalho acha que morar em república tem prazo de
validade na vida de qualquer *pesquisador*. A maior parte do seu esforço
para conseguir um dinheiro extra vendendo ingressos para jogos de futebol
se deve ao fato de ele ter tido como prioridade viver na própria casa
durante o doutorado. “Nos primeiros meses, aluguei um quarto na casa de
umas amigas. Mas depois decidi morar sozinho porque vivi em república por
dez anos da minha vida. Já estava de saco cheio.”

“É apertado, mas sem pagar aluguel dá para viver”, diz Kuperman, que faz
mestrado em Letras na USP e precisou voltar para a casa dos pais antes de
se mudar para  apartamento da avó.
[image: (Foto: )](FOTO: JULIA RODRIGUES)



E o salário, ó

*Desde 2010, emprego remunerado é permitido, mas com restrições*

> A Capes e o CNPq começaram a autorizar trabalhos remunerados, desde que
sejam na área de pesquisa do estudante e com a permissão do *orientador*

> Caso o aluno consiga um emprego na área, a *remuneração* não pode ser
maior que o valor da bolsa

> Não há desconto de Imposto de Renda nem de INSS sobre a bolsa; se o
estudante quiser contribuir com a Previdência, terá de fazê-lo como autônomo

> Apesar de a bolsa não ser considerada um salário, se o bolsista tiver que
pagar pensão alimentícia, por exemplo, terá o valor descontado mensalmente
“Paitrocínio” é para quem pode

Daniel Martins, 26 anos, que foi bolsista da Capes durante o mestrado em
Relações Internacionais na Fundação San Tiago Dantas, em São Paulo, onde
estudou acordos preferenciais de comércio, chegou a procurar trabalho em
restaurantes, mas, sem ter experiência no ramo, nunca conseguiu nada.
Quando precisava, recorria aos pais, que entendiam as dificuldades da*carreira
acadêmica*.

“Nunca deixei de assistir a uma aula nem de entregar um *artigo* para fazer
trabalhos por fora”, conta. Quando concluiu o mestrado, Martins começou a
trabalhar em um site focado em Relações Internacionais, e não tem planos de
voltar para a vida acadêmica tão cedo. Ele diz que está cansado “da *vida
de estudante*” e não quer, pelo menos por enquanto, começar um doutorado.
“As pessoas costumam achar que a gente é vagabundo. É preciso bom humor e
energia para ter uma produtividade
<http://revistagalileu.globo.com/Life-Hacks/noticia/2016/05/10-formas-cientificamente-comprovadas-de-melhorar-sua-produtividade.html>
alta
com essas adversidades.”

Quem não pode contar com o “*paitrocínio*” e não quer fazer bicos de garçom
(ou de vendedor de ingressos para jogos de futebol) sempre pode tentar
encontrar uma segunda fonte de renda que se encaixe nos critérios
estabelecidos pelas bolsas. Mas, às vezes, nem isso dá certo. Fernanda
Cervenka, 36 anos, formada em Terapia Ocupacional, começou o mestrado em
Tecnologia Assistiva no programa de Ciências da Reabilitação da Faculdade
de Medicina da USP em outubro de 2015 e passou a receber a bolsa da Capes.
Em abril deste ano, foi contratada por uma residência inclusiva da
Prefeitura de São Paulo para pessoas com deficiência. Assim que conseguiu o
*emprego*, a orientanda avisou a orientadora — que, por sua vez, comunicou
à Capes. A agência de fomento pediu mais explicações à bolsista sobre o
trabalho, como carga horária, o turno em que as funções eram realizadas e o
salário que recebia.

Depois de um mês, Cervenka recebeu um documento informando que o pedido de
acúmulo havia sido negado. Ela solicitou à Capes que informasse os motivos
do indeferimento, mas até hoje não recebeu da agência detalhes sobre o
porquê de o pedido não ter sido autorizado. Cervenka se viu obrigada a
abrir mão da bolsa. Apesar disso, continua trabalhando na pesquisa
vinculada ao programa de pós-graduação.

“Tenho um ano e meio de *investimento* nesse projeto. Antes de começar a
receber a bolsa, trabalhei por meses de forma voluntária. Falta pouco mais
de um ano para eu terminar o mestrado e estou muito envolvida. Não vou
parar agora”, diz. Segundo Cervenka, o trabalho na residência é flexível,
não exige que as tarefas sejam feitas sempre nos mesmos dias da semana nem
exige cumprimento de horários. “Eu poderia facilmente conciliar meu
trabalho com a bolsa, tanto que continuo fazendo as duas coisas, só que sem
receber pela Capes”, conta.
[image: (Foto: )](FOTO: JULIA RODRIGUES)
Procuram-se pesquisadores

A baixa remuneração das bolsas é um problema também para os professores,
segundo a orientadora de Cervenka, Selma Lancman. “Às vezes até sobram
bolsas, porque nem sempre há alunos que aguentam viver só com o valor que
pagam. A pós-graduação é um trabalho ou não é? Se é um trabalho, quanto
vale a remuneração por esse trabalho?”, questiona.

Para Lancman, não é possível dizer que uma pessoa que não tenha *ajuda
financeira* dos pais não consiga viver com a bolsa. “O que acaba
acontecendo é que os jovens que pensam numa carreira universitária demoram
um pouco mais para sair de casa. Eles conseguem assumir mais tardiamente a
sua autonomia financeira.”

Se precisar ajudar nas contas de casa, segundo Lancman, o estudante nem
procura a carreira acadêmica. “Em qualquer escolha, ele vai ter que fazer
alguma coisa que dê retorno imediato. E a carreira universitária demanda
muito tempo para ter um retorno razoável”, afirma.

Pior ainda, só quando esse retorno não vem. Eduardo Carvalho, o sociólogo
que fazia *bicos* na bilheteria do estádio da Portuguesa, também trabalha
eventualmente como garçom para complementar a renda. Faz serviços
esporádicos em restaurantes da zona norte de São Paulo durante o doutorado.
“É uma segunda ocupação minha, quase a primeira”, diz. “A gente tem que
correr atrás. A condição de pesquisador é *precária*, ainda mais com a
crise que vive o Brasil. Na maior parte do tempo, consegui dinheiro extra
como monitor. Mas quando não dava, precisava fazer outra coisa.” Com o
término da bolsa, prestes a finalizar o doutorado, Carvalho está na mesma
situação que a maioria dos pós-graduandos do país, segundo ele próprio:
*desempregado*.
Ciência com fronteiras

*Ação do governo prioriza alunos da graduação — bolsas de doutorado são
apenas 3.327 das 14.437 em vigência*

O programa federal criado em 2011 já levou para fora do Brasil 92.880
pessoas. A bonança, porém, está acabando. Por causa da *crise econômica*, o
programa sofreu uma grande redução no orçamento, o que impactou diretamente
na quantidade de bolsas. No caso do CNPq, por exemplo, em 2015 foram 831
bolsas; neste ano, 12 — uma redução de 98,5%.

Segundo reportagem do jornal *Folha de S.Paulo*, bolsistas da Capes
enfrentaram problemas, em junho, para renovar as bolsas de doutorado em
universidades da Europa. Os estudantes tiveram o *benefício* interrompido
após parecer negativo da agência.

http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2016/07/ciencia-no-brasil-e-bancada-pelos-pais.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post
[image: Foto]
<http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2016/05/estudante-faz-videos-sobre-os-grandes-herois-negros-da-historia-do-brasil.html>Estudante
faz vídeos sobre os grandes heróis negros da história do Brasil
<http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2016/05/estudante-faz-videos-sobre-os-grandes-herois-negros-da-historia-do-brasil.html>[image:
Foto]
<http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2016/05/o-que-podemos-aprender-com-ocupacoes-nas-escolas-de-sao-paulo.html>O
que podemos aprender com as ocupações das escolas de São Paulo
<http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2016/05/o-que-podemos-aprender-com-ocupacoes-nas-escolas-de-sao-paulo.html>[image:
Foto]
<http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2016/05/neil-degrasse-tyson-acredita-que-precisamos-amadurecer-como-civilizacao.html>Neil
deGrasse Tyson acredita que precisamos amadurecer como civilização
<http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2016/05/neil-degrasse-tyson-acredita-que-precisamos-amadurecer-como-civilizacao.html>

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