[ANPPOM-Lista] "Precisamos dizer quem está lucrando"

Angela Lÿfffffchning angela_luehning em yahoo.com.br
Sáb Fev 27 10:12:50 BRT 2016


Cara Camila, sou grata pelo encaminhamento do texto da Rosana Pinheiro-Machado que chegou quase simultaneamente pela lista da UFBA. Mas, além do texto vc encaminhou em seguida ainda o discurso interessantíssimo do Marcelo Caetano, mais uma contribuição importante que não conhecia ainda. Fui atrás e acho que vale a pena conferir a sua trajetória http://www.revistaforum.com.br/osentendidos/2016/02/26/negro-e-trans-conheca-o-autor-de-discurso-arrasador-na-formatura-pela-unb/ Tomara que tudo isso sejam sinais de que mudanças são possíveis e que continua tendo engajamento no mundo acadêmico, além dele próprio, possibilitando contínuas discussões e busca de novos caminhos conceituais/formatos de ação. Todo esse rico material tão recente que levanta questões tão importantes já vai para discussão com meus alunos em sala de aula. Grata pela sua contribuição e seu posicionamento   Angela LühningUFBA 

    Em Sábado, 27 de Fevereiro de 2016 3:05, Guilherme Sauerbronn <guisauer em gmail.com> escreveu:
 

 Parabéns Camila,
pela coragem e lucidez.São alunos como você que mudarão este cenário.
abração
Guilherme

Em 26 de fevereiro de 2016 11:25, Camila Zerbinatti <camiladuze em gmail.com> escreveu:

"Precisamos dizer quem está lucrando" tanto quanto "Precisamos falar sobre a vaidade na vida acadêmica e artística", na medida em que os sistemas de opressão operam de maneiras diversas mas igualmente nocivas e prejudiciais para quem paga as contas (monetárias, morais, éticas, humanas, emocionais, profissionais).
Saudações cordias, Camila.
Em 26 de fevereiro de 2016 11:04, Camila Zerbinatti <camiladuze em gmail.com> escreveu:

Caro Professor Damián, 
Agradeço muito tua observação. Entendo o que você coloca e também vejo o que você diz, que é inegável.Mas, apesar de também discordar da autora neste ponto, como você, vejo que ela levanta outras questões urgentes no texto. Questões que são discutidas e debatidas por muitas alunas e muitos alunos nas universidades públicas e privadas mas que, até então, não víamos serem levantadas por professoras e professores.Neste sentido, das questões que ela aponta antes de traçar este cenário fantasioso, e na direção que você aponta ao abordar a comercialização do ensino superior custeada por impostos, acho muito válido compartilhar aqui o recente discurso de formatura de Marcelo Caetano, cientista político graduado pela UnB, homem trans e homem negro brasileiro, o primeiro aluno formado pela UnB que conquistou o direito de usar seu nome social naquela Universidade: (envio a transcrição e o link para o vídeo)
"querida academiado alto dos seus títulos
daí de onde você vê
a universidade é pra quê?
pra caber quem?
dentro da sua sala
você se esconde
pra não ver lá fora
ou pra quem tá lá fora não te ver?
o conhecimento que você produz
é pro povo ou pro cnpq?
pra sociedade ou pra enfeitar teu lattes?
se quem tá dentro
não vê os muros em volta
quem vê de fora
não enxerga nada além da muralha
se no meio da aula
você diz que eu tô todo errado
eu te digo que pra chegar até aqui
atravessei cerca de arame farpado
você escreve
artigo, livro, capítulo
resumo, paper, ensaio
fala da gente
sem nem lembrar
de olhar no olho da nossa gente
alcança seus índices de produtividade
no dia seguinte,
não sabe nossa cara,
nosso nome, desconhece nossa identidade
nossa cor é objeto de pesquisa
nosso sexo, etnografia
nossas casas são seu campo
e seu olhar
branco, macho, eurocentrado
justifica-se como metodologia

na sua nota da capes
o que conta mais:
seus pontos ou nossa voz?
sua tese ou nossa história?
o que vale mais:
suas oito páginas de referência
ou a nossa ancestral experiência?

e não pense que entramos aqui por favor
que não merecemos
ou que qualquer coisa aqui nos foi dada
cotas não são presente
são só um pequeno pedaço do que nos devem
chegamos aqui forjados
pelos que nos precederam
não se esqueçam:
nossos passos vêm de longe
se estou aqui hoje
é só porque tantos outros já vieram
erguer muros não vai nos impedir de entrar
se precisar,
nós vamos derrubar
tomar de assalto o que é nosso
e não queremos só um lugar à mesa
queremos interromper o jantar
e começar tudo de novo
reerguer uma universidade que seja do povo e para o povo
onde não apenas se fale sobre o outro
mas onde o outro se torna um nós que é capaz de falar sobre si mesmo
não criem a ilusão 
de que tudo que se diz na academia é a verdade
mas lembrem-se: é sempre poder
inclusive, o poder de dizer
o que é a verdade
como cientistas políticos
termos lugar para dizer o que é a democracia
vivemos em uma, nossos professores vão dizer
Estado Democrático de Direito é o seu nome
Será mesmo?
pois vamos aos fatos:

Planaltina, Distrito Federal, 26 de Maio de 2013. Antonio Pereira de Araújo, auxiliar de serviços gerais, é detido em abordagem padrão. Conduzido à delegacia, nunca mais foi visto.
Rocinha, Rio de Janeiro, 14 de Julho de 2014. Amarildo Dias de Souza, pedreiro, limpava peixe na porta de casa quando policias que conduziam a operação “Paz Armada” o abordaram. Nunca mais foi visto.

Grajaú, São Paulo, 16 de Outubro de 2015. Yago Pedrosa Araújo, estudante de 16 anos, é parado em mais uma abordagem daquelas: padrão! 4 dias depois é encontrado morto, executado. Nunca mais foi visto vivo.

Infelizmente, a lista poderia continuar: Cláudia Ferreira da Silva, Cristian do Carmo, Rafael de Souza Paulino, Roberto de Souza Penha, Carlos Eduardo da Silva de Souza, Wilton Domingos Junior, Cleiton Correa de Souza e tantos outros.

Os mortos da democracia se acumulam
Já não se escondem mais nos porões
Mas ficam expostos, em plena luz do dia
Nas vielas de uma quebrada qualquer
Se a Democracia existe, ela não é para todos
Mas hoje, saímos daqui com o poder de dizer o que é a democracia
É nossa a responsabilidade de combater esse genocídio
Um genocídio que começa aqui dentro
Quando são brancos todos os nossos professores
Quando é branca e masculina toda a nossa bibliografia
Se a ciência pensa que tem todas as verdades
Digo-lhe agora que não
Que não sabe o que é caminhar com a cabeça na mira de uma HK
Que não sabe o que é ter o corpo vendido por séculos
Ter a mente diminuída, ver todo um povo destruído
Essa ciência que trabalha com hipóteses
E esquece que o que chama de objeto é feito da carne viva
Ainda aguardamos pelo dia
Em que o preto estará no rosto
Mais do que nas becas
Em que as travestis estarão na escola
Mais do que na esquina
Se esse dia não chega, a gente toma!
Nada nunca foi dado, porque agora seria?
mas ainda vai chegar o dia
Em que outros tantos como eu
Estarão aqui e poderão dizer
Tudo nosso, nada deles!" Marcelo Caetano 
https://www.youtube.com/watch?v=sfZ2E7pR0ko


Ao ouvir e ler Marcelo Caetano, não há como não lembrar das pesquisas do professor Carlos Palombini (e das professoras Adriana Facina e Mariana Vedder quando ele aponta o quanto "o funk carioca e o hip-hop paulista tensionam a produção da cultura popular." No discurso de Caetano, arrisco dizer, a expressão do hip-hop tensiona também a produção acadêmica e científica.

Saudações cordiais, Camila.
Em 25 de fevereiro de 2016 12:38, Dr. K <musicoyargentino em gmail.com> escreveu:

Cara Camila,

Obviamente essa colega desconhece totalmente a realidade econômica brasileira: "Hoje, o Brasil tem um dos cenários mais animadores do mundo. Há uma nova geração de cotistas ou bolsistas Prouni e Fies, que veem a universidade com olhos críticos, que desafiam a supremacia das camadas médias brancas que se perpetuavam nas universidades e desconstroem os paradigmas da meritocracia."
Enquanto ela idealiza alunos que entram pela porta dos fundos ao sistema de ensino superior, a empresa Kroton e seus associados tem o maior rendimento do mundo de um conglomerado educacional, sustentado pelos nossos impostos.
Dr. Damián Keller | ccrma.stanford.edu/~dkeller
NAP | sites.google.com/site/napmusica 
Message: 2
Date: Wed, 24 Feb 2016 11:48:10 -0300
From: Camila Zerbinatti <camiladuze em gmail.com>
To: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>, Ppgmus Udesc
        <ppgmus.udesc em gmail.com>, Melita Bona <melitab em yahoo.com.br>
Subject: [ANPPOM-Lista] "Precisamos falar sobre a vaidade na vida
        acadêmica [e artística]"
Message-ID:
        <CAGiY0jThZ7_Yt6WAjxSjnBOUDmqUosRDXd820QJbWRiSGVvVwA em mail.gmail.com>
Content-Type: text/plain; charset="utf-8"

Olá para todas e todos,


Compartilho aqui um texto que, para mim, é no mínimo muito corajoso,
lúcido, urgente e transformador, ao abordar com franqueza situações
recorrentes em nosso cotidiano artístico e acadêmico brasileiro. O texto
"Precisamos falar sobre a vaidade na vida acadêmica", de Rosana
Pinheiro-Machado, cientista social e antropóloga, professora do
departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford,
foi publicado hoje na revista Carta Capital. Poderia ou deveria, penso eu,
estar também em muitas revistas/ periódicos/ boletins/ informativos
acadêmicos.

*"Seria automático reproduzir os mecanismos que me podaram. É a vingança do
oprimido. A única forma de cortamos isso é por meio da autocrítica
constante. É preciso apontar superficialidade, mas isso deve ser um convite
ao aprofundamento. Esquece-se facilmente que, em uma universidade, o
compromisso primordial do professor é pedagógico com seus alunos, e não
narcisista consigo mesmo.Quais os valores que imperam na academia?
Precisamos menos de enrolação, frases de efeitos, jogo de palavras, textos
longos e desconexos, frases imensas, ?donos de Foucault? [e de tantas
outras coisas]. Se quisermos que o conhecimento seja um caminho à
autonomia, precisamos de mais liberdade, criatividade, objetividade,
simplicidade, solidariedade e humildade. (...) Tudo depende em quem
queremos nos espelhar. A perversidade dos pequenos poderes é apenas uma
parte da história. (...)" Rosana Pinheiro-Machado*

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/precisamos-falar-sobre-a-vaidade-na-vida-academica

Saudações cordiais*,
Camila Durães Zerbinatti




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