[ANPPOM-Lista] o globo defende o fim da universidade pública

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Qua Jul 27 12:26:48 BRT 2016


Caro professor Marcos, 

   Obrigado pelo respaldo... e sim, pode compartilhar onde achar melhor! Aliás, estou em um debate com um professor de história da Unesp (aparentemente, do mesmo tipo espantoso que é encarnado pelo Marco Antonio Villa) de nome Jean Marcel França. É um caso escabroso de professor de instituição pública a favor da privatização, que ele chama, carinhosamente, de "modernização", como se o estado isentando ICMS de 16 frigoríficos (incluindo a Friboi, que não tem ações do filho do Lula, mas do ministro Henrique Meirelles) precisasse buscar fontes "modernas" (isto é: privadas) de financiamento. O texto dele está aqui: http://www.unesp.br/portal#!/debate-academico/o-ensino-sequestrado/
E aqui, minha resposta: http://www.unesp.br/portal#!/debate-academico/o-ensino-do-sequestro/
Aqui, outra resposta ao Jean, escrita por Ricardo Consolo dos Santos, ex-aluno Unesp (FCL) e agora jornalista: http://www.esquerdadiario.com.br/Ensino-sequestrado-por-quem

    O texto do Jean é tão chocante, que merece ser decorado. Acho importante falarmos mais, e divulgarmos nossas falas, para enriquecer o debate, dando mais respaldo a uma maior participatividade e cobrança da coisa pública, não sua eliminação. Acho que nem a direita pretende, de fato, o enxugamento do espaço público, o que ela quer é se apropriar dele. O caso da fundação de nossa querida USP é exemplar, mas poderia ser qualquer outra...
Um abraço forte!Luciano
 

    Em Quarta-feira, 27 de Julho de 2016 8:58, "mcamara em usp.br" <mcamara em usp.br> escreveu:
 

 #yiv1237926157 p {margin:0;}Bom dia, Luciano,
Mais uma vez, parabéns pelo seu e-mail, esclarecedor (é que já enviei um comentário para a lista e deve demorar um pouco). Posso compartilhá-lho no Facebook, a título de divulgação das informações nele contidas?
Obrigado e um abraço,Marcos


De: "luciano cesar" <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
Para: "Camila Zerbinatti" <camiladuze em gmail.com>, "Carlos Palombini" <cpalombini em gmail.com>
Cc: "etnomusicologiabr" <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>, anppom-l em iar.unicamp.br
Enviadas: Terça-feira, 26 de Julho de 2016 10:37:00
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] o globo defende o fim da universidade pública

Camila, fecho contigo, muito obrigado por seu comentário.
   Sugiro, no entanto, um olhar mais aterrorizante: 
   A universidade "pública" brasileira, nunca foi pública. A USP, por exemplo, nasceu de uma doação (do espólio dos barões do café, doação feita pela famíglia de Armando Salles) daquele terreno gigante, com o intuito de abrigar alguns institutos (dentre eles, a Escola Politécnica, de engenharia, onde o próprio Armando se graduou) e criar a USP. Alguns humanistas estruturalistas da França "(i)lustraram" o empreendimento, que começou em 1930. 1930, atenção! Foi o ano seguinte ao da quebra da Bolsa, início de uma crise maior do que a de 2008, que impediu a classe dirigente de São Paulo de enviar seus filhos para estudarem fora, o que sempre foi feito antes, enquanto a exploração do Brasil e dos brasileiros continuava com critérios coloniais. 
    A USP foi, portanto, um projeto privado, que visava abrigar a formação superior dos descendentes da classe patrimonialista, dirigente e abastada. Armando Salles era sócio do jornal O Estado de São Paulo, e amigo de Julio de Mesquita Filho. A "dinastia" tem uns casamentos cruzados com os Marinho e com os Frias, da Folha de São Paulo, a mesma que, em setembro de 2014, divulgou meu salário de professor substituto e o de todos os colegas das estaduais paulistas como sendo de 7 mil e poucos reais, quando o valor em edital é de 1.560,00. O superfaturamento foi comparável em todas as categorias salariais.    Bem, as universidades federais, então... basta dizer que se proliferaram nos tempos da ditadura, em campus de Minas, Goiás, concorrentes simbólicos e econômicos clássicos da classe dirigente de São Paulo. 
   Ou seja, nunca houve uma campanha para privatizar o ensino. A campanha é para publicizá-lo.   Isso me arrepia a nuca.   Alguém topa se manifestar contra esse editorial? Se não fizermos algum barulho, o discurso se acomoda...

   Antes que se levantem as vozes fáusticas: o editorial do Globo tem dados errados, mesmo se analisados sob uma ótica neoliberal: qualquer país desenvolvido tem uma relação maior de imposto como componente do PIB. Os 35 por cento do Brasil estão abaixo dos 50 por cento de toda a Europa "desenvolvida", Suécia, Suíça, Alemanha (que recentemente ESTATIZOU todo o seu ensino superior). E Dilma foi tirada sem que analisasse o real impacto da criação de uma CPMF (imposto progressivo que resolveria o problema do défict de 90 bi em uma só tacada se consequências para a classe baixa, que movimenta pouca grana por banco. Temer pediu défict de 170 e até agora ninguém reclamou. Gente como o professor de história da Unesp Jean Marcel França aplaudem o impeachment de Dilma, mesmo que isso signifique substituí-la por um projeto não eleito...).    Ou seja, mesmo do ponto de vista econômico, sem levar em conta escolhas políticas, democráticas, ideológicas ou humanistas, o enxugamento do Estado é um erro crasso.
Um abraço, 

Luciano
    


    Em Segunda-feira, 25 de Julho de 2016 20:07, Camila Zerbinatti <camiladuze em gmail.com> escreveu:
 

 Olá professor Palombini, 

Muito obrigada por trazer esta discussão também aqui para a lista da ANPPOM, o que faz muito e total sentido, afinal, a imensa e esmagadora maioria de integrantes da ANPPOM está diretamente relacionada à educação pública superior do Brasil de alguma forma (seja por serem ou terem sido alunos/as de graduação e pós-graduação da educação pública, por receberem ou terem recebido, em algum momento de suas trajetórias, bolsas públicas de financiamento de cursos, pesquisas, formação, eventos, seja por serem eles/as mesmos/as docentes da/na educação pública superior brasileira). A própria realização anual dos congressos da Anppom (como de tantos outros) depende diretamente de investimentos e recursos públicos para acontecer.
Eu sinceramente me pergunto sobre toda esta gigante e notória (e "estranha") coincidência dos ataques diretos e indiretos que a Educação Brasileira -e em especial a Educação Pública- está sofrendo, sendo tão bombardeada e atacada, com tanta força e descaramento, justo neste momento em que vivemos um Golpe de Estado Parlamentar, ataques às instituições brasileiras, à Democracia e ao Estado de Direitos. Precarização acentuada de condições e salários no ensino Fundamental e Médio (ataques aos fundos de pensão dos/as professores/as, precarização das merendas, superlotação de salas, fim do piso nacional da educação e de seu reajuste, projetos de privatização dos sistemas estaduais de educação pública, criminalização [ilegal] dos movimentos de resistência dos/as estudantes secundaristas, criminalização, perseguição e censura de professores/as e de estudantes [contra os quais até a ONU e a UNESCO já começam a se manifestar]...), ~Escola Sem Partido~(sic!) e, agora, esta campanha midiática e aberta pelo fim do Ensino Superior Público e gratuito. É estranha, e muito estranha, no mínimo, tantas "coincidências". Me pergunto: quem se beneficia com isto? a quem interessa tudo isso?  Uma amiga me escreveu hoje: "A agenda da privatização da educação superior é mais antiga do que o governo do PT. Estejamos atentos, com certeza. Chumbo grosso vindo por aí." Quem se lembra do estado das universidades públicas em 2002, por exemplo, sabe, e bem.

Sobre este editorial privatista que ataca a Educação Superior Pública e gratuita, compartilho dois textos:
- Caneta Desmanipuladora: https://www.facebook.com/canetadesmanipuladora/photos/a.245804172452703.1073741828.245795719120215/279562565743530/?type=3&theater


-Jean Wyllys: https://www.facebook.com/jean.wyllys/posts/1135364183178254:0



Saudações cordiais, Camila.

Em 24 de julho de 2016 15:43, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com> escreveu:


Crise força o fim do injusto ensino superior gratuito

Os alunos de renda mais alta conseguem ocupar a maior parte das vagas nos estabelecimentos públicos, enquanto aos pobres restam as faculdades pagas
por EDITORIAL24/07/2016 0:00/Atualizado 24/07/2016 14:40Numa abordagem mais ampla dos efeitos da maior crise fiscal de que se tem notícia na história republicana do país, em qualquer discussão sobre alternativas a lógica aconselha a que se busquem opções para financiar serviços prestados pelo Estado. Considerando-se que a principal fórmula usada desde o início da redemocratização, em 1985, para irrigar o Tesouro — a criação e aumento de impostos — é uma via esgotada.Mesmo quando a economia vier a se recuperar, será necessário reformar o próprio Estado, diante da impossibilidade de se manter uma carga tributária nos píncaros de mais de 35% do PIB, o índice mais elevado entre economias emergentes, comparável ao de países desenvolvidos, em que os serviços públicos são de boa qualidade. Ao contrário dos do Brasil.Para combater uma crise nunca vista, necessita-se de ideias nunca aplicadas. Neste sentido, por que não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito, também um mecanismo de injustiça social? Pagará quem puder, receberá bolsa quem não tiver condições para tal. Funciona assim, e bem, no ensino privado. E em países avançados, com muito mais centros de excelência universitária que o Brasil.Tome-se a maior universidade nacional e mais bem colocada em rankings internacionais, a de São Paulo, a USP — também um monumento à incúria administrativa, nos últimos anos às voltas com crônica falta de dinheiro, mesmo recebendo cerca de 5% do ICMS paulista, a maior arrecadação estadual do país.Ao conjunto dos estabelecimentos de ensino superior público do estado de São Paulo — além da USP, a Unicamp e a Unifesp — são destinados 9,5% do ICMS paulista. Se antes da crise econômica, a USP, por exemplo, já tinha dificuldades para pagar as contas, com a retração das receitas tributárias o quadro se degradou. A mesma dificuldade se abate sobre a Uerj, no Rio de Janeiro, com o aperto no caixa fluminense.Circula muito dinheiro no setor. Na USP, em que a folha de salários ultrapassa todo o orçamento da universidade, há uma reserva, calculada no final do ano passado em R$ 1, 3 bilhão. Mas já foi de R$ 3,61 bilhões. Está em queda, para tapar rombos na instituição. Tende a zero.O momento é oportuno para se debater a sério o ensino superior público pago. Até porque é entre os mecanismos do Estado concentradores de renda que está a universidade pública gratuita. Pois ela favorece apenas os ricos, de melhor formação educacional, donos das primeiras colocações nos vestibulares.Já o pobre, com formação educacional mais frágil, precisa pagar a faculdade privada, onde o ensino, salvo exceções, é de mais baixa qualidade. Assim, completa-se uma gritante injustiça social, nunca denunciada por sindicatos de servidores e centros acadêmicos.Levantamento feito pela “Folha de S.Paulo”, há dois anos, constatou que 60% dos alunos da USP poderiam pagar mensalidades na faixa das cobradas por estabelecimentos privados. Quanto aos estudantes de famílias de renda baixa, receberiam bolsas.Além de corrigir uma distorção social, a medida ajudaria a equilibrar os orçamentos deficitários das universidades, e contribuiria para o reequilíbrio das contas públicas.http://goo.gl/B7Q0HE

-- 
carlos palombini, ph.d. (dunelm)
professor de musicologia ufmg
professor colaborador ppgm-unirio
www.proibidao.org
ufmg.academia.edu/CarlosPalombini
www.researchgate.net/profile/Carlos_Palombini2
scholar.google.com.br/citations?user=YLmXN7AAAAAJ

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Prof. Dr. Marcos Câmara de Castro
Departamento de MúsicaFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo
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http://portal.ffclrp.usp.br/sites/camaradecastro 
http://lattes.cnpq.br/8866596468646798 
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