[ANPPOM-Lista] Festival SESC de Música de Câmara 2016

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Dom Nov 6 22:48:04 BRST 2016


Caros Amigos,

É com enorme alegria que conto a vocês: a segunda edição do *Festival SESC
de Música de Câmara* vem aí!

O primeiro concerto acontece dia 22 de novembro, no SESC Consolação, e o
último no dia 4 de dezembro. Em duas semanas de programação, 12 conjuntos
convidados apresentam 47 concertos e uma intervenção em dez unidades do
Sesc na capital e no interior, além da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte,
no centro de São Paulo, e do Museu Afro-Brasil. O Festival terá ainda dois
concertos para crianças, dez atividades paralelas, incluindo máster classes
e mesas de discussão. A programação completa está no site
*sescsp.org.br/musicadecamara
<http://sescsp.org.br/musicadecamara>*

Foi uma jornada longa, de bastante trabalho... mas é uma alegria vê-lo em
pé.

Abaixo, vocês podem ler o texto que escrevi para o catálogo e poderão saber
mais a respeito dos conjuntos que vão participar. E anexo segue um ‘flyer’
com os conjuntos e Unidades do SESC onde o Festival acontecerá.

Será uma maratona prazerosa, eu lhes asseguro.

Conto com a presença de todos vocês e peço que multipliquem esta
informação: queremos ver os teatros apinhados de gente!

Um abraço da

Claudia

*Um Festival do século XXI: em busca de novas direções*

Eric Hobsbawm, esse gigante que se ocupou tão bem da história como da
música, tinha suas próprias ideias a respeito de Festivais. Sua perspicácia
e capacidade de interpretar o mundo à sua volta lhe permitiram prever que

*‘no século XXI, os festivais, velhos e novos, que se mantiverem abertos em
novas direções podem desempenhar um papel mais importante na vida cultural
de nosso mundo globalizado, em seu estado de contínua sublevação, do que no
século passado. A rigor, levando-se em conta que praticamente só depois da
Segunda Guerra Mundial os festivais começaram a proliferar, o século XXI
pode ser considerado o verdadeiro apogeu dessa forma de experiência
cultural.’ (*)*

A segunda edição do Festival SESC de Música de Câmara pretende fazer da
afirmação de Hobsbawm uma realidade.

Fomos mais longe, desta vez, apostando em novas premissas. A primeira foi
não ter medo de incluir conjuntos formados por jovens. E eles são muitos!
Em nenhum momento tivemos receio de atribuir-lhes a responsabilidade de
interpretar grandes clássicos do repertório – caso do austríaco *Giocoso
String Quartet* e o Quarteto n.5 de Bartók ou do *Trio Appassionata* e o
Trio Op.70 n. 1 de Beethoven – ou de desbravar áreas pouco exploradas do
repertório coral – caso da música da América Colonial com o Coro Jovem do
Estado de São Paulo. A Camerata Ilumina inclui autores contemporâneos e
inova no formato do concerto tradicional, talvez porque seus jovens
integrantes já se tenham dado conta de que o futuro da música de câmara
implica em tocar com altíssimo padrão de excelência, mas abrindo os
horizontes da linguagem musical.

Outra premissa era ter vários países representados por seus intérpretes,
agrupados em diferentes tipos de formação. Assim, o norte-americano *Imani
Winds* assume a responsabilidade de fazer o repertório para o quinteto de
sopros (flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa), contemplando não só os
pilares musicais de nossos países (Carter e Villa-Lobos), mas incorporando
autores pouco tocados pelos quintetos tradicionais. Aliás, tradição não é a
praia do *Imani*: eles lideram um movimento consistente e bem sucedido pela
inclusão das minorias negras e latinas no cenário da música clássica dos
Estados Unidos. Já os cinco clarinetes do *Sujeito a Guincho*, um dos mais
longevos conjuntos de câmara do Brasil, faz do repertório popular
brasileiro o coração de seu concerto.

Os jovens britânicos do *Trio Apaches* dão a medida exata de como veem a
música de câmara hoje: se ela não pode prescindir dos autores
contemporâneos (Lindberg), também pode arriscar-se na encomenda de
adaptações do repertório sinfônico, como *La Mer*, de Debussy. O *Trio
Appassionata*, que tem um pé no Brasil e outro nos Estados Unidos, faz
companhia aos londrinos para que o público possa desfrutar mais dessa
formação que reúne violino, violoncelo e piano e para a qual foram criadas
algumas das mais impressionantes obras da história da música.

O piano aparece, mais uma vez, em mãos brasileiras e explorando
possibilidades nem sempre lembradas nas temporadas oficiais de
concertos. *Celina
Szrvinsk & Miguel Rosselini* são parceiros na música e na vida. O piano
tocado a dois consagrou-se nas mãos desses intérpretes brasileiros que, com
imaginação e talento, revivem para as plateias a forma mais prazerosa e
antiga de fazer música em casa, para pequenos grupos. As pianistas Claudia
Castelo Branco e Bianca Gismonti formam o *GisBranco* e tocam obras de
Villa- Lobos e Gismonti em seus concertos. Ao lado do violoncelista Jaques
Morelenbaum, elas nos farão mergulhar nessa híbrida música do Brasil.

O quarteto de cordas não poderia faltar num festival de música de câmara. O
austríaco *Giocoso String Quartet* integra uma onda que arrebata os palcos
internacionais, mas que, infelizmente, ainda não contaminou o meio musical
brasileiro. Inúmeros quartetos, formados por jovens de talento excepcional,
surgem no mundo todo, dando provas do vigor de sua música para plateias
muito mais amplas e diversas

Há tempos me parecia importante olhar mais atentamente para o que acontecia
com os grupos voltados à interpretação do que se convencionou chamar de
música ‘historicamente informada’. Objeto de um movimento que aprofundou
estudos musicológicos, formou intérpretes em diferentes países e deu origem
a conjuntos extraordinários, a música de antes do período clássico foi
revisitada, reinterpretada sem o ranço dos românticos e inundou as salas de
concerto. Pouco a pouco, porém, mais e mais intérpretes decidiram despir-se
de um figurino estrito e foram em busca de aproximações com a música
tradicional, outrora chamada de folclórica, feita por comunidades que a
mantiveram viva ou por grupos que nem sempre estão no centro das atenções
da cultura de massa.

Foi assim que L’Arpeggiata e Pera Ensemble apareceram como candidatos
naturais a compor o elenco de convidados estrangeiros do Festival.
Christina Pluhar fundou um conjunto que, partindo dos primeiros passos do
Barroco, explora e mistura gêneros e tradições para nos fazer ver a
permanência da linguagem musical, independentemente do tempo e, muitas
vezes, da vontade dos criadores da música culta. Ela ousa ao criar seus
espetáculos e ‘Mediterrâneo’ é prova disso.

O *Pera Ensemble,* liderado por Mehmet Yesilcay, reúne músicos de formação
europeia a intérpretes da tradição musical turca. Seus integrantes,
sem-cerimônia, mas com domínio musical apurado, tocam repertório das duas
culturas para nos contar como foi que a Europa se dobrou, fascinada, ao
‘café’ e a tudo que a Turquia havia construído em matéria de arte.

E se o entrecruzamento de culturas era o mote, não era possível deixar a
ibero-americana de fora. Assim surgiu o convite ao *Coro Jovem do Estado de
São Paulo* e a seus diretores Marília Vargas e Tiago Pinheiro para que
fizessem a música dos dois mundos no período colonial o centro de seus
concertos. Agregar Arianna Savall pareceu a todos nós mais do que próprio e
uma forma de unir pessoas que habitam com desenvoltura mundos culturais
diferentes, incorporam tradições e sentem-se à vontade ao explorar o
desconhecido.

O Vox Luminis fecha o grupo e, interpretando um repertório escolhido para
as festas cristãs do final do ano, nos fará ouvir a música da outra Europa,
mais austera, e que se prepara para ver surgir o apogeu do Barroco. A
qualidade vocal e o esmero de suas interpretações são admirados em toda
parte e, espero, nos inspirarão a querer ouvir com mais frequência a música
coral, hoje pouquíssimo praticada entre nós, mas que fizemos tão bem e em
grande quantidade em passado bem recente.

Nossos convidados nos abrem novos horizontes musicais e reafirmam a vontade
de arriscar e de ampliar as oportunidades para que o público expanda seus
repertórios, ouse, não se imponha limites de escuta e tenha grande prazer
ao transpor fronteiras culturais e estéticas.

Que cada um aproveite e faça do Festival uma jornada de esperança, num ano
que marcou de forma severa a vida cultural e política do Brasil.

Claudia Toni
Curadora
Outubro de 1016

(*) Eric Hobsbawm, *Tempos Fraturados* (Companhia das Letras, 2013), p. 60.

-- 
carlos palombini, ph.d. (dunelm)
professor de musicologia ufmg
professor colaborador ppgm-unirio
ufmg.academia.edu/CarlosPalombini <http://goo.gl/KMV98I>
www.researchgate.net/profile/Carlos_Palombini2


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