[ANPPOM-Lista] Pela Memória de Mayara Amaral, pelas vidas das mulheres na música e no mundo: #NenhumaAMenos

Camila Durães Zerbinatti camiladuze em gmail.com
Qui Jul 27 10:49:55 BRT 2017


Olá,


Compartilho texto em memória de Mayara Amaral, da Rede Sonora - músicas e
feminismos.

Expresso aqui meu profundo pesar à família e amigas/os de Mayara, e dedico
meus sentimentos e minha solidariedade.

Que vocês possam encontrar conforto e superar essa perda. Que Mayara possa
descansar em paz.


Saudações tristes,

Camila.






*Pela Memória de Mayara Amaral, pelas vidas das mulheres na música e no
mundo: #NenhumaAMenos. *



É com profundo pesar que nós, da Rede Sonora - músicas e feminismos,
escrevemos esse texto pela memória de Mayara Amaral, violonista,
pesquisadora e professora de música. Escrevemos pelas vidas das mulheres na
música e no mundo todo. Lamentavelmente Mayara Amaral (1989 - 2017) foi
brutalmente assassinada em Campo Grande – MS, em um crime que contou com a
participação central de outro músico - um baterista que já tinha tocado e
trabalhado com Mayara e que de acordo com as notícias locais, tinha um
relacionamento com ela. [1]



À família e às/aos amigas/os e conhecidas/os de Mayara, expressamos nossos
sentimentos e nossa solidariedade. À essas pessoas pedimos desculpas e
licença para falar do que aconteceu com Mayara nesse texto que chega em um
momento tão grave e de tão indizível dor. Para vocês, nesse momento,
dedicamos nossa total e irrestrita solidariedade, nosso apoio e nossas
condolências - estamos com vocês.



Nós, mulheres da Rede Sonora - músicas e feminismos, criada em abril de
2015, [2], escrevemos esse texto movidas por nosso compromisso e vontade de
honrar a memória e a vida de Mayara Amaral, homenageando e reconhecendo sua
trajetória e suas contribuições para a música, mesmo que postumamente.



Mayara Amaral era violonista, formada pelo curso de música da UFMS
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), onde também foi professora.
Em Campo Grande ela havia integrado o quarteto Pétalas de Pixe, formado
apenas por mulheres e dedicado à produção de pop-rock regional. Sua
dissertação de mestrado em Música pela UFG (Universidade Federal de Goiás),
“A mulher compositora e o violão na década de 1970: vertentes analíticas e
contextualização histórico-­estilística” [3], defendida recentemente, é
fruto de sua pesquisa sobre obras de compositoras brasileiras para violão
compostas na década de 1970.



Mayara tinha dois trabalhos aprovados para o XXVII CONGRESSO DA
ANPPOM Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, [4], o
maior congresso da Área de Música no Brasil, que acontecerá na Unicamp no
fim de agosto, e havia comemorado a aprovação de seus trabalhos neste
congresso. Ela iria apresentar a comunicação de seu artigo “Aspectos
idiomáticos do Estudo n. 1 para violão de Esther Scliar”, em co-autoria com
Eduardo Meirinhos, como pesquisadora, e, iria fazer sua apresentação
artística “A mulher compositora e o violão na década de 1970”, como
violonista.



Ela era uma dedicada intérprete [5], pesquisadora e professora em formação,
começando a ser reconhecida por suas/eus pares, desenvolvendo importantes e
inéditas contribuições para a música e para a pesquisa brasileira.



Entendemos que o que aconteceu com Mayara Amaral diz respeito à todas/os/es
nós na música, e atinge infelizmente à todas as pessoas da música, sem
exceção. O que aconteceu com ela é uma tragédia pessoal para quem era
próximo dela, e por isso queremos nos solidarizar à Mayara, à família e
amigos/as dela, com ações em defesa da memória dela.



Mas, o assassinato de Mayara é também uma tragédia coletiva, o que nos leva
a ver a necessidade de visibilizar essa notícia, endossando a denúncia do
crime que ceifou sua vida – mais um que aumenta as estatísticas de nosso
país. O último Atlas da Violência do Brasil, de 2014, [6], apontava que 13
mulheres são assassinadas por dia no Brasil. O estado do Mato Grosso do Sul
já era, então, um dos 8 estados brasileiros com taxa de mortalidade por
homicídio de mulheres que estavam acima da média nacional (4,6) por grupo
de 100 mil mulheres: a taxa desse estado já era de (6,4) em 2014. Segundo o
Atlas, *“Embora esses dados sejam alarmantes, o debate em torno da
violência contra a mulher por vezes fica invisibilizado diante dos ainda
maiores números da violência letal entre homens, ou mesmo pela resistência
em reconhecer este tema como um problema de política pública.”*



Como mulheres da música, pensamos que também são importantes e urgentes, em
especial nesse momento, ações que possam ajudar a alertar e conscientizar
os mundos da música (assim como o mundo em geral) sobre os riscos aos quais
mulheres estão expostas na música, assim como na nossa sociedade; sobre as
diversas violências contra as mulheres; e, sobre a necessidade de ações de
prevenção - de educação, formação e conscientização - para que isso não se
repita com mais nenhuma mulher, seja de onde ela for, onde lá ela estiver.



Todas/os/es nós precisamos, enfim, darmos o primeiro passo para que isso
seja possível, e o primeiro passo é vencer a “*resistência em reconhecer
este tema como um problema de política pública”*, como um problema de toda
a nossa sociedade.



Nós, mulheres da Rede Sonora - músicas e feminismos, manifestamos aqui
nosso repúdio ao crime brutal que tirou a vida de Mayara Amaral.



Mayara saiu de sua casa na última segunda-feira para ir a um ensaio e não
mais voltou. Mayara era uma de nós, mulheres na música, mulheres no mundo.
O que aconteceu com ela podia ter acontecido com qualquer uma de nós. Por
Mayara, #NenhumaAMenos!





Rede Sonora – músicas e feminismos.





*Links:*

*[1] *Mayara foi morta em motel e depois jogada no Inferninho, diz polícia:
https://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/mayara-foi-morta-em-motel-e-depois-jogada-no-inferninho-diz-policia

Baterista e comparsa mataram Mayara a marteladas em motel para roubar
carro:
http://www.midiamax.com.br/policia/baterista-comparsa-mataram-mayara-marteladas-motel-rouba-la-348729



*[2] *Rede Sonora – músicas e feminismos:  http://www.sonora.me/



*[3] *Dissertação de Mestrado de Mayara Amaral:
https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/7348



*[4] *Anppom: http://www.anppom.com.br/



*[5] *Canal no Youtube de Mayara Amaral:
https://www.youtube.com/channel/UCMoniUgqFA6QwaOk1kv-4Tw



*[6] *Atlas da Violência 2016:
http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-content/uploads/2016/03/atlas_da_violencia_2016_finalizado.pdf




​Texto publicado no Portal Catarinas:​
http://catarinas.info/pela-memoria-de-mayara-amaral-pelas-vidas-das-mulheres-na-musica-e-no-mundo-nenhumaamenos/


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