[ANPPOM-L] Re: [conlute] Stuart Edgar Angel Jones incomoda muita gente

Jorge Antunes antunes em unb.br
Qui Ago 17 08:45:55 BRT 2006


Companheiro Tavares:

Parabéns pela mensagem e pela iniciativa de divulgar o texto de Emir Sader.
A recuperação comercial de nossos heróis, feita pela indústria, é deplorável e você faz bem em denunciar isso.
Che Guevara tornou-se simples camiseta enquanto outros transformam-se em meros filmes. A mitificação burguesa acaba por destruir exemplos de luta para as novas gerações, em geral distorcendo verdades.
O cinema, hoje, é muito mais indústria do que arte. É por isso que o governo pró-imperialista do lula e o ministro bufão gil só abrem espaços e gordas verbas para o cinema. Música, teatro, artes plásticas, literatura, memória, etc, ficam com migalhas ou sem coisíssima alguma. A indústria cinematogrática devia se trasladar para as bandas do Ministério da Indústria e do Comércio.
Mas, como você também reconhece, não nos resta outro meio para divulgar um pouco de nossa história recente. Temos, então, que recuperar a recuperação, detalhando e difundindo verdades não expressas nos filmes, procurando ajustar a boa leitura dos conteúdos superficiais.
Entre 1987 e 1997 compus minha ópera Olga. No libreto e na música revelei a verdadeira e coerente saga revolucionária de Olga e Prestes. Mesmo depois de muita luta, não consegui encenar o espetáculo. Sete anos depois a Globo Filmes fez o filme com o mesmo tema. No filme se esconde a torpeza de Filinto Müller.
Enfim, agora em 2006, o Theatro Municipal de São Paulo programou a estréia de minha ópera Olga. Ela será apresentada em cinco récitas: dias 14, 16, 18, 20 e 22 de outubro. Convido todos para assitir.

Abraço,
Jorge Antunes



tavares wrote:

>  Onde você estava em 14 de junho de 1971?
> Onde estava você em 10 de março de 1976?
> Por C. Tavares, que também assina C Tovarich.
>
> Interessante questionamento de Emir Sader: onde você, meu leitor, estava quando Stuart Edgar Angel Jones, o filho de Zuzu Angel, foi amarrado à traseira de um jipe da Aeronáutica e arrastado pelo pátio de uma sede militar com a boca colada ao cano de descarga do veículo, o que ocasionou sua morte por asfixia e intoxicação por monóxido de carbono? Onde você, amigo, estava quando o combatente Stuart Edgar Angel Jones, nomes de guerra Henrique e Paulo, era torturado, esfolado vivo e assassinado no pátio da sede da Aeronáutica, do Exército Brasileiro, no Rio de Janeiro? Onde estava você enquanto oficiais do glorioso exército de caxias, bando armado a soldo do imperialismo ianque, torturavam e matavam Stuart Angel? E onde você estava quando os agentes do SNI perseguiram Zuzu Angel pelas ruas do Rio de Janeiro e a fizeram saltar de uma ponte para a morte?
>
> Stuart Edgar Angel Jones era militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) - nada a ver com o atual MR-8 - nascido em 11 de janeiro de 1946 na Bahia, filho de Norman Angel Jones e Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel.
>
> Estudante de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele foi seqüestrado em 1971, aos 26 anos de idade. Foi capturado no Grajaú (próximo à Av. 28 de Setembro), no Rio de Janeiro, em 14 de junho de 1971, às 9 horas da manhã, por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (CISA), para onde foi levado e torturado até a morte.
>
> Stuart Edgar Angel Jones tinha dupla cidadania, era brasileiro e filho de norte-americano, e optou por lutar pela libertação nacional do povo brasileiro do domínio imperial.
>
> Hoje, como a regra do capitalismo é transformar tudo em mercadoria, expoentes da burguesia brasileira estão ganhando dinheiro com a sua história, através de um filme do tipo roliúdiano. Na ficção da tela do cinema eles glorificam nossos heróis (tais como Guevara, Lamarca, Olga), mas na vida real continuamos escravizados e obrigados a vender nossa força de trabalho em troca de salários de fome.
>
> Mas veja o filme e conheça a historia do seu país que um dia será libertado do domínio imperial norte-ameriKKKano e desse sistema escravagista capitalista da exploração do homem pelo homem.
>
> Ousar lutar, ousar vencer!
>
> PS: com certeza um artigo com este jamais seria publicado pela podre imprensa brasileira.
>
> Reproduzido da CARTA O BERRO:
>
> Zuzu incomoda
>
> Por Emir Sader
>
> Quando o mundo volta a ter um importante cinema político, a crítica brasileira se mostra ainda insensível e incapaz de assimilar essas temáticas. Veja-se o caderno especial do Le Monde Diplomatique - "Maniére de voir" - onde se dá conta que, com o surgimento do movimento de luta por "um outro mundo possível" e com os atentados de 2001 nos EUA, surgiu uma nova onda de politização do cinema no mundo, com reconhecimento dos grandes festivais de cinema que, pela primeira vez, deram um prêmio a um filme como o de Michael Moore, além de prestigiar a vários outros.
>
> Por aqui, Olga foi abominado pela crítica, embora consagrado pelo público. Agora, Zuzu não encontrou palavras de alento da crítica, embora uma ou outra voz isolada incentive a que o filme seja visto pelo grande público.
>
> Zuzu incomoda, como a personagem real incomodou no seu tempo. Hoje, quando recorda as atrocidades da ditadura militar - seqüestros, torturas, execuções, desaparições. Quando vários personagens e órgãos da imprensa que participaram do regime ou compactuaram com ele, andam por ai, Zuzu incomoda.
>
> Vem sempre a perguntinha que os jovens alemães, quando tomaram consciência do nazismo, passaram a perguntar para seus pais: Onde estava você? Não sabia daquilo tudo? O que fez contra? Com um imenso medo e desconfiança da cumplicidade dos pais com o nazismo.
>
> Hoje nenhum órgão da imprensa fez a perguntinha a políticos, a empresários e aos próprios grandes órgãos da mídia: Onde estavam vocês? Não sabiam daquilo tudo? O que fizeram contra? Com uma desconfiança fundada da cumplicidade de todos eles.
>
> Zuzu incomoda, porque toca numa ferida que nunca cicatrizou, porque nunca foi tocada: empresas e empresários financiavam a tortura, a repressão desatada pela ditadura militar e enriqueceram durante todo esse período. Quem são? O que fizeram? Quanto ganharam? Foram anistiados também pelo decreto da ditadura militar?
>
> O papel da grande mídia também fica exposto: quando Zuzu diz que vai escrever cartas para as pessoas mais importantes do país, a caixa de envelopes deixa ver claramente quem é o primeiro da lista: Roberto Marinho. Ela vai à redação de um jornal para tentar publicar o anúncio fúnebre da morte de Stuart, recebe um rotundo não do editor que a atende. E, no final do filme, se diz que a carta que Zuzu deixou na casa de Chico Buarque, teve 22 cópias feitas por este e enviadas para os principais órgãos de imprensa da época, mas nenhum o publicou.
>
> Mas vale muito a pena ver Zuzu não apenas por razões políticas. O filme - assim como Olga - é muito bem feito, sensível, tocante, agudo.. Uma crítica estetizante, aberta para qualquer bagulho de Hollywood, demonstra uma impressionante falta de sensibilidade estética, mas também de sensibilidade política e humana. Será esta a insensibilidade da crítica pos-moderna, vazia de conteúdo, cortada do passado e do próprio presente?
>
> Recomendo: vejam Zuzu, que incomoda, por ótimas razões, a quem tem que ser incomodado e que nunca foi incomodado - pelas torturas, que geraram polpudos lucros e fortaleceram monopólios privados. A violência, o terror, a ditadura, que estiveram a serviço das grandes fortunas. Para que este passado passe, vejamos todos Zuzu, apuremos quem produziu o terror, quem ganhou com ele, quem ainda anda por aí, impunemente, às custas da dor de Stuart, de Zuzu e de todas as vítimas - a quem a democracia não fez justiça até hoje.
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