[ANPPOM-L] Alerta

Jorge Antunes antunes em unb.br
Qua Dez 27 12:05:03 BRST 2006


Car em s colegas:

Durante quatro anos o Ministério da Cultura, tendo à frente Gilberto Gil, engambelou os meios culturais com encontros, seminários, documentos, fóruns, com a justificativa de futuramente poder criar um Plano Nacional de Cultura. Foram 4 anos!
Durante os mesmos quatro anos Gil cozinhou a classe musical da área popular com promessas, audiências, aparentando abertura ao diálogo, e facilitando criação de Fórum Nacional, teleconferências, discussão, promessas de pactuação, com a justificativa de pretender colaborar na resolução de problemas da classe com novas leis voltadas à aposentadoria, ao direito autoral, à difusão, propriedade intelectual, OMB, etc.
Enquanto esse processo se arrastou no âmbito da música, a classe cinematográfica, sem muita e longa teorização, está anos-luz à frente com dezenas de leis ótimas, muita verba, muito dinheiro do poder público, com apoios totais em todas as etapas da cadeia produtiva.
Durante os quatro anos, Gil "diologou" com os colegas da área de música popular, virando as costas e fechando os ouvidos aos colegas da área de música erudita.
Recentemente, em encontro nacional de Orquestras, o ministro, que vai ser reconduzido ao cargo a partir de janeiro, pronunciou discurso anunciando que durante os próximos quatro anos vai dialogar com a classe de músicos eruditos. Ao fazer isso, anunciando o início de um diálogo, confessava tacitamente que o dito diálogo não aconteceu nos últimos quatro anos.
Se o Ministro pretender organizar mais encontros, desta vez com a área erudita, certamente vai adotar a mesma estratégia adotada com a área popular entre 2003 e 2006: seminários, encontros, diálogos, promessas. Tudo resultará na redação de muitos documentos, entre 2007 e 2010, para nenhum resultado prático.
Os problemas da música de concerto no Brasil, e suas soluções, já estão equacionados há mais de meio século.
Não é com as criações de Câmara Setorial e de recentes Fóruns, que o problema começaria a ser discutido.
Quando digo que a questão da Música Erudita brasileira está exaustivamente discutida e equacionada, estou me referindo aos documentos produzidos desde 1957, e que estão disponíveis em bibliotecas, arquivos da Funarte, biblioteca da Escola de Música da UFRJ, livros, teses, atas e arquivos das associações promotoras, etc.
A seguir listo alguns desses eventos: Encontros e debates que resultaram na criação da UMB em 1957 (Siqueira, Villa-Lobos,
Eleazar, Hélio Bloch, ...); Encontros e debates de 1959 e 1960 que resultaram na criação da OMB; Reuniões clandestinas de artistas no apartamento da Esther Scliar, na Rua Toneleros, em 1964 e 1965; Reuniões e debates no IVL, no Prédio da UNE (Praia do Flamengo, 132), em 1966 e 1967 (Edino, Airton Barbosa, Antunes, Reginaldo, Marlos, etc); I Festival de Música da Guanabara, 1968; II Festival de Música da Guanabara, 1969; Encontros Nacionais de Compositores em 1973 e 1974 (cujos documentos e manifestos
deram como resultado a criação da Funarte); Assembléias Gerais da SBMC entre 1969 e 2004; Série de debates do Festival Cantares de Brasília, I Candangão, em 1982 (palestrantes e debatedores Aylton Escobar, Rogério Duprat, Zé Rodrix, Jorge Antunes e Antonio Adolfo), promovido pela OMB-DF; Assembléias Gerais e mesas redondas da ABEM entre 1973 e 2005; Bienais de Música Contemporânea Brasileira entre 1975 e 2005; Assembléias Gerais e debates da SBM entre 1981 e 2004; Simpósio Nacional Sinapem, 1987; Congressos da Anppom entre 1988 e 2006; Encontros de Música Eletroacústica entre 1997 e 2003; Assembléias Gerais da SBME entre 1997 e 2003.
Não nos deixemos cair em tentação de falsos diálogos com o governo e com falsa, farsante e pretensa troca de idéias com o MinC. Quando a comunidade cultural fala com o ministro Gil, este fica silente, com sorrisos e balanços de cabeça fingindo concordar, mas o ouvido esquerdo do ministro sinistro recebe tudo para, depois, vomitar tudo pelo ouvido direito.
Pouquíssima gente sabe da existência de seríssimo compromisso futuro do MinC, que revelo a seguir. O governo tem escondido o assunto. Conhece-o bem quem viveu na França, quem habitualmente viaja para lá e conhece os meandros da Direction de la Musique, de la Danse, du Théatre et des Spectacles do Ministtério da Cultura da França.
A França acolheu, em 2005, o Ano do Brasil na França, com a garantia de uma contrapartida: que o governo brasileiro organize no Brasil, em 2009, o Ano da França no Brasil. O MinC não deu, à música erudita brasileira, no Ano do Brasil na França, o espaço que a França esperava fosse dado. O Brasil priorizou a música popular brasileira.
A França tem muito a oferecer no domínio da música de concerto, e da música moderna erudita, para o Ano da França no Brasil. O ministro Gilberto Gil está num mato sem cachorro, porque atraiu o ódio da classe musical erudita brasileira no período 2003-2006 e,
em especial, em 2005.
Para acolhimento dos eventos franceses em 2009, no Brasil, o MinC precisará do apoio dos músicos eruditos brasileiros e, especialmente, das Universidades em que eles estão lotados.
Assim, em seu recente discurso o dito-cujo falou que vai começar a dialogar com o meio erudito. Quando a classe musical erudita se der conta da estratégia oportunista, de enrolação, de promessas falsas, para se amaciar terreno para o 2009 francês no Brasil, a coisa vai
esquentar.
Quem viver verá.
Abraço, com votos de organização independente da classe musical, de baixo para cima, para a luta em 2007.
Jorge Antunes




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