[ANPPOM-L] Villa-Lobos e a musicologia (era VL e Ives)

Rubens Ricciardi rrrr em usp.br
Sex Ago 17 15:01:32 BRT 2007


ERRATA: onde se lê "1969", leia-se "1960", RRR

----- Original Message ----- 
From: "Rubens Ricciardi" <rrrr em usp.br>
To: "carlos palombini" <palombini em terra.com.br>; "ANPPOM lista" 
<anppom-l em iar.unicamp.br>
Sent: Friday, August 17, 2007 2:55 PM
Subject: Re: [ANPPOM-L] Villa-Lobos e a musicologia (era VL e Ives)


> meus caros,
>
> bastante oportuna e esclarecedora a lembrança do Prof. Palombini daquele 
> debate "Behague X Tarasti"...
>
> e só completando esta mesma questão do "nacionalismo", gostaria aqui de 
> lembrar ainda a concepção madura do próprio Mário de Andrade, que consta 
> já em seu "Banquete":
>
> "Não sou nacionalista. Sou simplesmente nacional.  Nacionalismo é uma 
> teoria política, mesmo em arte. Perigosa para a sociedade, precária como 
> inteligência".
>
> Esta brilhante conclusão de Mário de Andrade (redigida entre 1943 e 1945) 
> é a definitiva superação do "Ensaio" de 1928 (e infelizmente nossos 
> colegas musicólogos brasileiros se lembram sempre do Mário de Andrade nos 
> anos 20, e ignoram quase sempre o Mário dos anos 40, quando ele justamente 
> corrigiu seus erros "nacionalistas" e apontou para soluções bem mais 
> interessantes), ou mesmo está já inserida num contexto bem posterior aos 
> debates em torno dos manifestos "Pau-Brasil" (1924) e "Antropofágico" 
> (1928) de Oswald de Andrade - daí talvez a metáfora(?) de Tarasti, os 
> "irmãos" Andrade enquanto condutores das polêmicas (afinal, são os dois 
> pilares indissociáveis àquela altura da modernidade no Brasil): o Oswald 
> irreverente criava as teses e o Mário estudioso tentava argumentar em 
> torno delas...
>
> e, concluindo ainda, após o "Banquete" de Mário de Andrade, qualquer uso 
> do conceito de "nacionalismo" em música do século XX no Brasil torna-se já 
> problemático, pois este conceito foi contaminado definitivamente tanto 
> pelo fascismo italiano como pelo nazismo alemão - ambas ideologias 
> nacionalistas, e, portanto já sempre, imperialistas, belicistas, 
> totalitárias (ou seja, ditatoriais e antidemocráticas) e xenófobas. 
> Contaminaram definitivamente e de tal modo o conceito, que não se pode 
> mais empregá-lo quando referido a movimentos nas artes entre 
> aproximadamente 1920 e 1969 no Brasil, mesmo que nossa realidade artística 
> tenha sido outra, diferentemente da realidade italiana ou alemã da época - 
> não obstante haver ainda maior dificuldade nesta discussão, pois vista sob 
> outros aspectos, a própria ditadura de Getúlio Vargas tem pontos em comum 
> com aquelas ditaduras na Europa. Ainda por cima, entre outros fatores, o 
> nacionalismo romântico do século XIX teve como resultado a primeira Guerra 
> Mundial. Já o nacionalismo nazi-fascista teve como resultado a  Segunda 
> Guerra Mundial.
> Vale a pena insistir ainda neste mesmo conceito pra se falar de música????
>
> abraços a todos do Rubens Ricciardi
>
>
> ----- Original Message ----- 
> From: "carlos palombini" <palombini em terra.com.br>
> To: "ANPPOM lista" <anppom-l em iar.unicamp.br>
> Sent: Wednesday, August 15, 2007 11:10 AM
> Subject: [ANPPOM-L] Villa-Lobos e a musicologia (era VL e Ives)
>
>
>
> Paulo Renato Guérios, um antropólogo formado pelo Museu Nacional (UFRJ),
> defendeu em 2001 e publicou em 2003, pela Editora da Fundação Getúlio
> Vargas, um trabalho excelente sobre Vila Lobos, _Heitor Villa-Lobos: o
> caminho sinuoso da predestinação_, a meu ver o que de melhor se publicou
> sobre VL no Brasil.
>
> O trabalho de Tarasti é admirável pela abrangência do repertório
> analisado e pela ênfase dada ao modernismo do autor, em detrimento de
> seu nacionalismo (a tônica do Villa-Lobos de Béhague). Muito oportunas
> também são as críticas de Tarasti à musicologia brasileira. Tarasti foi
> trucidado por Béhague  numa resenha que este publicou em sua própria
> revista, a _Latin American Music Review_, que em nada contribuiu para
> sua (a de Béhague) reputação. É verdade que o trabalho de Tarasti contém
> pequenos erros que o podem tornar presa fácil de críticas malevolentes.
> Por exemplo, possivelmente por analogia com os irmãos Andada, ele fala
> dos "irmãos Andrade", atribuindo a Oswald e Mário um parentesco que deve
> ter feito o segundo cantar lundus na cova. Todavia, comparado com o de
> Tarasti, o VL de Béhague me parece excessivamente "êmico", isto é,
> excessivamente ligado às posições e pressupostos da musicologia
> brasileira. Não é à toa que o VL de Béhague se abre com a saudação de
> Mariz: "Welcome to the Villa-Lobos club of scholars!"
>
> Carlos
> <palombini em terra.com.br>
>
>
> José Luiz Martinez escreveu:
>> Colegas,
>>
>> Sobre análise da obra de Villa-Lobos, gostaria de recomendar a tese de
>> doutorado da Valerie Albright, defendida nos aureos anos do programa de
>> Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Ela trabalhou com Ives e Villa-Lobos,
>> aplicando o método de Wallace Berry. As referÊncias:
>>
>> ALBRIGHT, Valerie (2002). "Aproximações entre duas culturas americanas na
>> linguagem de Ives e Villa-Lobos", tese de doutorado não publicada. São
>> Paulo: PUC.
>>
>> E, claro, não poderia deixar de citar o livro de meu ex-orientador, Eero
>> Tarasti, repleto de análises criteriosas:
>>
>> Tarasti, Eero (1995). Heitor Villa-Lobos, the Life and Works, 1887-1959.
>> Jefferson: McFarland.
>>
>> Abraços,
>> Martinez
>>
>>
>>
>
>
> -- 
> carlos palombini (dr p)
> professor adjunto de musicologia
> universidade federal de minas gerais
> <cpalombini em gmail.com>
>
> "Revolutionär wird der sein, der sich selbst revolutionieren kann" (Ludwig 
> Wittgenstein, Vermischte Bemerkungen)
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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>
>
>
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