[ANPPOM-L] sobre CDs independentes (era Lista de CDs)

Marcelo Gomes redani em uol.com.br
Qui Ago 23 23:12:48 BRT 2007


Sem querer me meter na discussão de dois Carlos, mas já me metendo, o fato
da noção de "independente" ter muitos significados e ser ainda
re-significada por diferentes interlocutores,  não compromete o fato de que
"independente" quer dizer: não produzido e/ou distribuido pelas cinco majors
do planeta.

mas o fato que me parece fundamental, e isso sim poderíamos pensar numa
maneira de discutir e propor novos parâmetros, como pesquisadores e
produtores de conteúdos artísticos, é que o próprio conceito de "direito
autoral" vai ter de ser re-discutido, re-pensado e re-dimensionado.

e isso me parece urgente!

abraços a todos,
marcelo gomes


----- Original Message -----
From: "carlos palombini" <palombini em terra.com.br>
To: "ANPPOM" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Sent: Thursday, August 23, 2007 10:30 PM
Subject: [ANPPOM-L] sobre CDs independentes (era Lista de CDs)



Carlos,

Fiquei pensando se poderia colaborar, mas esbarrei no problema de
entender o que sejam "CDs independentes". Esta designação me parece tão
carregada de conotações (ou mesmo denotações) ideológicas! Num universo
fonográfico extraordinariamente segmentado, que parece ter desenvolvido
tantos nichos de produção e distribuição à margem dos três ou quatro
grandes coglomerados, a idéia de um "CD independente" me leva de volta
ao passado. Tenho convivido regularmente com a cena de produção musical
popular belo-horizontina e acho interessante observar que o rótulo "CD
independente" não parece muito relevante para as partes destes segmentos
nas quais estou mais interessado.

Há aqui um produção significativa de música eletrônica experimental que
tem poucos locais de execução e um público local restrito, mas é
reconhecida nacional e, sobretudo, internacionalmente. Dois dos três ou
quatro grupos principais (sou fã de um deles) gravaram pelo selo alemão
Gigolo Records, o que equivaleria, para um músico "erudito" --- devo
frisar, todos os artista que conheço desta vertente tem formação
superior e são particularmente bem informados --- a ser um artista da
Deustche Gramophon nos anos 70. A idéia de gravar pela EMI, a Sony ou a
BMG não lhes passa pela cabeça, a não ser com ironia. A consagração
desta música, cujo valor simbólico está associado a sua visibilidade
restrita na grande mídia, se realiza plenamente no lançamento por um
selo especializado alemão e um fã clube seleto que se estende de
Florianópolis a Moscou. A NYU consideraria o álbum que o Digitaria
lançou pela Gigolo Records no ano passado um "CD independente de música
brasileira"?

Há um segmento da produção local para o qual o rótulo "CD independente"
carrega um enorme valor simbólico. O hip-hop brasileiro desenvolveu um
discurso de denúncia que nem sempre soa muito diferente da canção de
protesto dos anos 60-70 (e, a meus ouvidos, raramente mais convincente).
Este discurso é supostamente muito conscientizado e, sobretudo,
conscientizante, mas, freqüentemente, quase religioso em sua orientação
para o dogma (os 4 elementos) e os mistérios (o quinto elemento e
infindáveis e circulares exegeses acerca de seu verdadeiro significado).
Aqui sim, o termo CD independente brasileiro adquire toda a sua força, é
um valor desta cultura. Ter um CD independente significa mostrar que
somos discriminados (o que é um eixo desta cultura) e que estamos
lutando contra esta discriminação e mostrando nossos valores (reais ou
dramatizados) para uma sociedade que vai aprender a nos entender (e um
dia, talvez, nos incorpore) à força (e ao preço, alto) de nossa
virtuosidade verbal e manual (nas pick-ups). Porque este grupo é
verbalmente bem articulado, estes CDs independentes existem.

Quanto aos funkeiros ("cariocas") locais (i.e. belo-horizontinos), acho
que tudo o que eles queriam é serem lançados por uma grande gravadora,
mas terminam, em troca do sonho da popularidade, impiedosamente
explorados por produtores de equipes que detêm o meios de produção e
circulação, mesmo que suas origens sejam as mesmas dos artistas --- um
cenário macabro de exploração do explorado pelo explorado, análogo às
guerras intestinas entre facções. Para eles, um "CD independente" é
tanto um sonho quanto um pis-aller. Sentir-se-ão recompensados se
descobrirem que suas gravações chegaram às estantes improvisadas dos
camelôs irregulares.

Isto tudo é só pra perguntar: o que é um CD independente de música
brasileira para a NYU?

Um abraço,

Carlos

Carlos Sandroni escreveu:
> A Biblioteca da New York University está interessada em mapear CDs
> independentes de música brasileira para eventual compra. Quem tiver
> indicações a fazer, com as devidas referências para encontrar, por
> favor mande um email para:

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