[ANPPOM-L] Plágio

fialkow fialkow em terra.com.br
Qua Dez 12 23:50:58 BRST 2007


Miriam Dauelsberg doutorou-se em Paris (Sorbonne) em 1961.

Saudações sulinas,

Ney Fialkow
De:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br

Para:reduprat em usp.br

Cópia:anppom-l em iar.unicamp.br

Data:Wed, 12 Dec 2007 15:12:04 -0200

Assunto:[Spam] Re: [ANPPOM-L] Plágio

Querido amigo Regis: 
Obrigado por sua mensagem. 
Gostei de receber essas informações importantíssimas, com relação aos doutoramentos de 1966 na UnB. 
Em meu e-mail anterior, quando falei dos doutoramentos de 1976 e 1977, tive o cuidado de iniciar minha frase com a expressão "salvo engano".  Assim, sinto-me salvo em meu engano. Foi no final dos anos 70, dez anos depois de seu doutorado, que eu e Zé Maria concluimos o doutorado em Paris. Meu orientador foi Daniel Charles e o orientador do Zé Maria foi o Jacques Chailley. 
Com relação ao plágio de que foi vítima a Márcia Taborda, creio que essas nossas manifestações estejam dando boas contribuições para a comissão da Anppom que vai discutir e elaborar uma proposta de códígo de ética. 
O plágio nos artigos científicos, nas teses e nas monografias é questão que está melhor equacionada e discutida, do que o plágio nas obras musicais. Recentemente um jovem compositor me plagiou em uma obra eletroacústica. Ele copiou um semantema (uma cascata vertiginosa de 6 segundos) de minha obra Interlude Nº 1 pour Olga. Usou o trecho como material de base. Divertiu-se com ele com retrogradações, acelerações, filtragens, reverberações e superposições. O jovem compositor, anonimamente, inscreveu a peça em um concurso em que fui membro do júri. Veja só que coincidência e que azar do jovem plagiador! 
Eu denunciei o fato aos outros membros do júri e ao organizador do concurso. Ao fazer isso, salientei minha dúvidas com relação à questão muito atual em que se pratica muito o chamado "remix", a cópia, o processameto, a citação, a mixagem de obras, tudo isso anunciado como sendo nova vertente estética. Os DJs estão fazendo isso. 
Abraço fraterno, 
Jorge Antunes 
  
  
  
  
  
  
            "Regis Duprat" <reduprat em usp.br> 
        To: 
  
Regis Duprat wrote: 
Caros Jorge Antunes e prezada Márcia Taborda
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Plágios e doutorados 
Doutorado 
Meu prezadíssimo amigo, colega e confrade Jorge Antunes. Nutro por você uma imensa admiração e respeito como compositor, acadêmico, docente e pensador. Acompanho com interesse os seus e-mails na lista porque neles sempre se encontra a voz da experiência. Sempre nos demos bem e jamais qualquer estremecimento perturbará nossas sólidas relações de amizade e respeito mútuo. 
É com essa certeza que me constrange ter que lhe revelar que fui o primeiro brasileiro a receber um título de doutor em música por uma Universidade brasileira...Isso ocorreu em junho de 1966. Na minha carreira acadêmica, que iniciei na Universidade de Brasília, onde lecionei durante quatro anos, até a rebordosa de 1968, utilizei sempre o Diploma de doutorado da UnB, registrado no MEC, e que traz a data de 20 de junho de 1966. Na Universidade de Brasília concebida por Darcy Ribeiro não havia defesa de tese com encenação. Meu orientador foi Sérgio Buarque de Holanda e a Banca Examinadora era composta pelo orientador e mais Gilbert Chase, da Universidade de Tulane, New Orleans, e Cláudio Santoro, então coordenador do Dep de Música da UnB. Possuo em meu arquivo cópia dos pareceres dos três membros da Banca Examinadora. Minha tese foi “A música na matriz e sé de São Paulo colonial”. Esse texto foi publicado no Brasil em 1968, 1970 e 1995 e nos Estados Unidos em 1975. 
O segundo doutorado em música também foi outorgado pela UnB dois anos depois, antes da demolição de 1968, para a Professora Nise Poggi Obino, também do Dep de Música; grande pianista, docente competentíssima e mestra de Nelson Freire, e que depois de Brasília lecionou na Royal University de Londres, e falecida em 1995. 
Agora vejo que tendo você defendido sua tese em 1976, os títulos outorgados pela UnB em 66 e 68 permaneceram durante dez anos os únicos títulos de doutor em música no Brasil. As vicissitudes por que passou a UnB nos tempos amargos foram responsáveis, também, pela fragmentação das tradições da instituição, com conseqüências no fluxo das informações sobre a história dela. Mas isso tudo não lhe arrebata ser detentor de um dos primeiros títulos de doutor em música, outorgados em nosso país. Meu caro Jorge, você e eu somos, dentre os vivos, os primeiros a receber o título de doutor em música neste país... Eta nós! Como diziam os modernistas de 22... não é? 
Plágios 
Mas o principal do meu mail, como para o seu, é a história do plágio contra Márcia Taborda. Vc está muito certo nas considerações gerais que tece quanto à escalada da doentia febre de titulação para o acesso aos empregos nas universidades e as conseqüências disso para a nossa vida acadêmica. É exatamente isso que vc descreveu. E tem razão quando diz que o orientador da tal figura que plagiou é mais responsável que o próprio pivete, porque devia orientar e não o fez. Mas também não falta razão à Márcia quando exige reconhecimento institucional do plágio. No Brasil de hoje não podemos mais conviver com tais canalhices, por mais que reconheçamos a fragilidade da formação da nossa área de música. Urge que os brios sejam incorporados em toda a sua extensão em nossas práticas acadêmicas. 
Nos Estados Unidos eu soube que um professor titular de Yale teria sido dispensado da sua universidade pelo fato de ter utilizado texto de outro autor sem a devida citação convencional. Naquele país é comum nos cursos de pós- graduação nas universidades, o uso e o estudo de manuais como o de John M Swales & Christine B Feak (Academic Writing for Graduate Students. Ann Arbor. The Univ of Michigan Press, 1994) que analisam com a maior seriedade os problemas do plágio e das transgressões aos direitos intelectuais de autor, já nos bancos da graduação. 
Mas o plágio não consiste apenas na cópia e reprodução de palavras e frases sem citação de autoria. O plágio é também, principalmente a cópia e apropriação indébita de idéias, a omissão proposital de trabalhos e idéias alheias anteriores devidamente registradas em bibliografia da área; é a falta de ética de toda sorte. Aliás, o plágio se identifica, grosso modo, com a falta de ética, com a desonestidade intelectual e acadêmica. Nos países evoluídos é muito comum que um acadêmico se poupe de enveredar sequer por um tema que esteja sendo estudado por outro colega. Espera-se-lhe a publicação para um revide civilizado. Isso é ética. Nós, brasileiros temos às vezes certa informalidade perniciosa nesse terreno, sobre um assunto que devia fazer parte de nossa cultura acadêmica. Plágio, enfim, como dizem os autores acima citados, é a atitude deliberada e consciente de copiar obra de outro, na parte ou no todo; sua caracterização deve se basear em que idéias e expressões originais são propriedade intelectual de seus criadores, como uma patente nas invenções. 
Eu sei o que é ser plagiado, pois sofri plágio praticado por duas pessoas diferentes; se é que podemos chamar de pessoas às cobras venenosas. Foi nos tempos em que não havia lista de Anppom pra gente botar a boca no mundo como fez agora Márcia Taborda com toda propriedade. Um dos moleques safados já foi pro beleléu, mas o segundo ainda canta de galo por aí, fantasiado de professor universitário e até de coordenador de “festivais”, apesar de não passar de um impostor e falsário que não merece sequer que se gaste 1 tostão furado com advogados para que um juiz lhe mande dar 50 chibatadas nos fundilhos. Mesmo após essas constatações vi muita gente que eu julgava adulta dando a mão à cobra pra reiterar os plágios. O pior é que eu pensava estar formando um discípulo, orientando-o e até lhe arranjando um emprego que mantém até hoje, quando na verdade acoitava uma cobra venenosa... 
Num país como o nosso, em que a justiça tarda e não se impõe, dada a fragilidade das leis dos direitos autorais, vc está arriscado a gastar uma fortuna para instituir advogado, lutar na justiça por seus direitos autorais e nunca ver os resultados; precisamos cerrar fileiras em nossa área para tornar inviável qualquer deslize que se cometa em nosso meio. Só o nosso próprio controle e vigilância poderão minimizar a ação antiética dessas pessoas sem caráter, despreparadas e sem formação adequada para atuar no nosso meio acadêmico. 
Um imenso abraço para Jorge Antunes e toda a minha solidariedade para Márcia Taborda.  
régis duprat 
----- Original Message -----
From: Jorge Antunes
To: Marcia Taborda ; anppom-l em iar.unicamp.br
Sent: Tuesday, December 11, 2007 12:51 PM
Subject: Re: [ANPPOM-L] Plágio
 Cara Márcia: 
Sou do tempo em que as titulações (mestrado e doutorado) não resultavam em aumentos salariais ou outras vantagens. 
Fiz meu doutorado em 1976. Salvo engano, foi o primeiro doutoramento em música de brasileiro. Logo em seguida o José Maria Neves terminou o dele. Na época nem existiam bolsas do CNPq. Ambos fizemos tudo com bolsas do governo francês. Quando voltei à UnB e mostrei minha tese de 664 páginas (Son nouveau, nouvelle notation) ao chefe do departamento (Moisés Mandel), ele me disse: -Pra que serve isso? Tem gente pra tudo! 
Naquela época os jovens pesquisadores tinham um projeto de pesquisa, uma tese a ser demonstrada, e então buscavam, como saída para a ansiedade de desenvolver o trabalho, o mestrado e o doutorado. 
Depois que surgiram os aumentos salariais para os que têm titulações, e a obrigatoriedade destas para o ingresso na carreira acadêmica, começou a busca desenfreada, às vezes cega e irresponsável, de se fazer um mestrado e um doutorado a todo custo. 
Começou então uma nova fase, bem surrealista. O graduado mete na cabeça que tem que fazer o mestrado e o doutorado de qualquer maneira. Não importa em qual área. Não importa em qual tema. 
Resumindo, antigamente tinha-se uma idéia, um tema, um projeto de tese, e buscava-se o curso pós-graduado na área do tema, com o orientador especialista. 
Hoje, começa-se com a peculiaridade de não se ter idéia alguma, projeto nenhum. Busca-se um orientador. Alinhava-se um projeto, com conteúdo que se encaixe no curso, que se encaixe no perfil do orientador desejado. Ao se entrar no curso, muda-se o projeto. 
A busca desesperada da titulação faz com que, por exemplo, ao invés de fazerem doutorado em Música, músicos façam doutorado em Sociologia, Antropologia, Arquitetura e outras áreas. 
Enfim, para mim, esse jovem que te plagiou, e que alega ter vivido, no momento da feitura da tese, uma "instabilidade emocional", é mais uma vítima da conjuntura cruel que promete emprego somente a quem tem titulação. Pior, abre a possibilidade a carreira acadêmica a qualquer um que tenha a titulação, pouco se importanto sobre como e onde ela foi alcançada. Basta ter o diploma. 
Códigos de ética profissional existem para serem cumpridos pelos profissionais. Muitos jovens mestrandos e doutorandos ainda não são profissionais. Muitos ainda são apenas estudantes recém-graduados que começam a, desesperadamente, buscar titulação pós-graduada. E aí, vale tudo para o pobre desorientado. Para ele vale copiar, vale plagiar, vale fazer o já feito com outro discurso, vale repetir idéias já reveladas mas pouco ou nada conhecidas pela comunidade. Para disfarçar essas estratégias, basta fazer um monte de citações de autores famosos. 
Enfim, acima eu usei a expressão "pobre desorientado", porque eu penso que o grande culpado do plágio que você relata não é o plagiador. Este já reconheceu o erro, alegou problemas psicológicos, se desculpou e, parece, vai refazer o trabalho, dessa vez citando a fonte do texto surrupiado. 
Para mim o grande vilão dessa história é o "Orientador" do rapaz. Este sim é o profissional que deve respeitar, e fazer ser respeitado, o código de ética. É ele quem deveria ser punido. Está evidente que o "orientador" não orientou coisíssima nenhuma. Não quero afirmar que o orientador devesse conhecer o teu texto e, assim, identificar o plágio durante a orientação. Quero apenas dizer que um "orientador" deve acompanhar passo a passo a pesquisa, a bibliografia, e até mesmo a redação de cada parágrafo e capítulo. Quando esse trabalho é desenvolvido criteriosamente pelo orientador, ele é capaz de reconhecer estilos de escrita e, assim, pelo menos, desconfiar de textos escritos por autores diferentes que, é óbvio, terão sempre estilos diferentes. 
Abraço, 
Jorge Antunes 
PS. Talvez essas minhas colocações acima sejam bem polêmicas, podendo encontrar, na Anppom, opositores radicais. Mas abro-me em reflexões próprias, sinceras, de experiência de vida acadêmica, para tentar contribuir com o debate, desde já dizendo que não me considero dono da verdade e que estou aberto a revisões de minhas convicções. 
  
  
  
  
Marcia Taborda wrote: 
Agradeço a todos pelas mensagens. 
Acho que o mais importante no momento 
será a revitalização dessa comissão e o desenvolvimento  junto à ANPPOM de 
um código de ética, 
que possa nos amparar em casos semelhantes; uma tomada de atitude 
institucional; 
Abraço, 
Marcia Taborda 
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