[ANPPOM-L] Sobre o espet á culo "Luar Trovado", baseado em "Pierrot Lunaire" de Schoenberg

Jos=?ISO-8859-1?B?6SA=?=Luiz Martinez rudrasena em uol.com.br
Seg Jun 11 22:51:43 BRT 2007


Caros colegas,

Eu e o Fernando Iazzetta assistimos o espetáculo "Luar Trovado", baseado em
"Pierrot Lunaire" de Schoenberg, sábado passado. O espetáculo aconteceu no
teatro do Sesc Pinheiros, em São Paulo. A direção cênica é assinada por
Gerald Thomas e a direção musical é de Lívio Tratenberg.

Embora eu e o Fernando não tenhamos nos encontrado no teatro, concordamos
sobre o resultado. Repasso agora para as listas onde foi realizada (alguns
dias antes do espetáculo) uma proveitosa discussão sobre Pierrot, Deise
Tigrona, bizarrices, etc. as mensagens trocadas hoje entre eu, o Fernando e
mais alguns colegas.

Confesso que toda a nossa discussão na lista da Anppom e na Musikeion foi me
instigando. Eu estava curioso para ver o "Luar Trovado". Afinal, o
espetáculo portava boas promessas como a obra de Schoenberg com tradução de
Augusto de Campos e diversos convidados que no mínimo garantiriam algo de
bizarro. A partitura de "Pierrot Lunaire" foi executada corretamente. Mas,
infelizmente, o espetáculo foi decepcionante. Valeu apenas pela iniciativa.
Que outras experiências venham à luz e que o Sesc possa continuar bancando
algo fundamental em ópera contemporânea. Criar e colocar em cena para que o
público veja e julgue.

Gostaria de advertir que concordamos em não omitir ou utilizar quaisquer
eufemismos para os títulos dos funks cantados pela Deise Tigrona. Assim,
aqueles que possivelmente se ofenderiam com palavras de baixo calão, por
favor, desconsiderem essa mensagem e não leiam o que segue.


Cordialmente,
Martinez


-- 
Prof. Dr. José Luiz Martinez
Departamento de Linguagens do Corpo
Faculdade de Comunicação e Filosofia - PUC-SP

Rede Interdisciplinar de Semiótica da Música
http://www.pucsp.br/pos/cos/rism

Musikeion - fórum sobre signficação musical
http://listas.pucsp.br/mailman/listinfo/musikeion
http://listas.pucsp.br/pipermail/musikeion/





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Caro Fernando,

Eu também estava lá no sábado, pena que a gente não se encontrou na saída
para bebericar uma crítica ferina ao espetáculo, chamado de ópera. Eu
pretendia escrever alguma coisa na lista da Anppom e na Musikeion. Afinal,
depois de tanta conversa, nossos colegas devem estar curiosos. Você
permitiria que eu citasse sua mensagem e postasse na lista da Anppom? Será
que teremos que usar eufemismos para o funk "a porra da boceta é minha"?

Eu concordo com tudo o que você disse. E acrescentaria o desnível entre as
composições do Lívio Tratenberg e as peças do "Pierrot" de Schoenberg. É uma
responsabiliade muito grande você compor peças para serem executadas ao lado
de um clássico do séc. XX. Na minha opinião, as do Lívio eram todas muito
fracas, inclusive as eletroacústicas. Outra coisa difícil de aguentar eram
as "interações" entre a Lucila Tratenberg e a Adélia Issa. A coisa foi
colocada como um conflito entre as duas cantoras, inclusive resvalando sobre
uma politicamente incorreta briga entre a gorda e a magra (respectivamente
Adélia e Lucila). Musicalmente era fraquíssimo. Num ponto da cena entrava um
clarone e uma tuba, mas os dois músicos passavam sem nenhuma interação
cênica com as duas. Se é para fazer uma cena grotesca e politicamente
incorreta, que se faça direito!

O diálogo ficou mesmo entre a Deise e os músicos fazendo o "Pierrot". O
público aplaudia fortemente a funqueira. Poderia ter sido construído por aí.
Mas era uma simples alternância. Os músicos e a Adélia ficavam no escuro e
entrava a Deise. A Deise saia e voltavam os músicos. Seria melhor do que
toda a cenografia obvia e efeitos desperdiçados. Até uma encenação de
algumas das canções de Schoenberg teria sido melhor. "Lavadeira Lívida", por
exemplo, poderia ter uma cena correspondente com a bailarina. Qualquer coisa
seria melhor do que aquele casal de atores fazendo piquenique na lua, ou um
fotógrafo que entrava em cena disparando o flash, personagens completamente
inexpressivos e dispensáveis. Ainda que óbvio por outro lado, eu preferiria
que o cenário fosse uma favela. Seria mais instigante do que o pastiche
lunar.

Acho que a Elke Maravilha (dublando horrivelmente sua voz gravada, num texto
fraco e mal interpretado) representa bem a idéia central da direção cênica
de colocar alguns ícones da mídia, mais pelo nome do que pela atuação, para
compor algo muito bizarro, mas que no fim implodiu pela inconsistência
musical e cênica.

Para mim a amplificação da voz da Adélia tinha um problema técnico. Não sei
se você (Fernando) concorda. Mas estava tudo bem enquanto ela cantava em pp
ou mf, mas quando ela ia para o f e ff a amplificação fazia a voz da Adélia
ficar insuportavelmente forte, encobrindo completamente os instrumentos.
Faltou aí um compressor?

A história do Tom Zé era o que faltava para acabar com toda a "ópera".
Talvez o G. Thomas tenha percebido ao final que nada daquilo parava de pé e
resolveu transformar tudo em programa de auditório. Ao menos disfarçou a
reação da platéia...



Abraços,
Martinez



On 10/06/2007 02:50, "Fernando Iazzetta" <iazzetta em usp.br> wrote:

> Meus caros, 
> 
> Foi alarme falso. Me dei ao trabalho de ir conferir o pierrot com funk. A
> deise tigrona funkeou com "a buceta é minha, eu dou pra quem eu quiser", a
> Elke maravilha fez um "dueto" com a lucilia tragtemberg e a adelia issa
> cantou direitinho umas partes do pierrot schoenberguiano. Tudo normal.
> Fizeram boa música até.
> 
> O bizarro ficou mesmo por conta do Gerald Thomas e põe bizarro nisso. O
> espetáculo é horroroso, dos cenários à direção de cena, parecia trabalho de
> estudantes de artes cênicas que ainda não entenderam como se juntam idéias e
> realização. 
> 
> Para completar no finalzinho da encenação o G Thomas entrou no palco e falou
> que no Brasil tem um cara mais fantástico e radical que Schoenberg, e chamou
> o Tom Zé que levantou da primeira fila da platéia e fez um discurso
> gaguejado em que misturou assuntos como "o cromatismo de Mahler"  com a
> buceta da tigrona e por aí vai... De repente chamaram o Danilo Miranda
> (manda-chuva do SESC), depois o cara que fez a cenografia, depois a deise
> tigrona com a Elke, todo mundo se cumprimentou palco (tudo bem, os músicos
> ficaram num canto sem saber o que fazer). Quando a coisa começou a sair de
> controle o G Thomas pediu para baixar a cortina, e... acabou!
> 
> Tão bizarro que muita gente não sabia se era pra bater palma ou se a "coisa"
> ia recomeçar depois de um intervalo.
> 
> 
> Abraços, fernando
> 
> 






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