[ANPPOM-L] ufa!,ufac,ufa!

eduardo luedy eluedy em yahoo.com
Ter Nov 6 15:27:03 BRST 2007


Prezados colegas associados,

No intuito de fazer valer a crença na liberdade de
expressão e de, por isso, fazer valer o direito à
polêmica - sempre que acredite que valha a pena testar
nossos argumentos, aprofundar o debate, clarificar
nossos pressupostos -, gostaria de externar minhas
sinceras dúvidas acerca de quase tudo o que se tem
afirmado aqui contrariamente à decisão da UFAC de
abolir as provas específicas para ingresso em seu
curso superior de música.

Queria dizer logo que eu mesmo não manifesto
indignação. Antes, estou nutrindo curiosidade a
respeito de tal decisão e de seus efeitos.

Quando eu era aluno, não só na educação básica, mas tb
na graduação, as decisões e tudo relacionado a
reformas educacionais e curriculares, sempre parecem
muito distantes de nós, pobres mortais. O currículo,
as disciplinas, suas ementas, tudo sempre me pareceu
fazer parte de algo muito mais antigo e, por isso,
merecedor de uma atitude de respeito, de admiração,
mas principalmente de uma atitude eminentemente
conservadora.

Pois eu fico me perguntando: falamos tanto hoje, pelo
menos na área de educação, em respeitar a diversidade
cultural; e, para além de apenas "tolerar" a
diversidade, falamos em elaborar estratégias
pedagógicas que façam jus à diversidade. Então, por
que não abolir as tais provas específicas? Na escola
de música da ufba, tais exames eram (são ainda?)
chamados de "teste de aptidão". O que, obviamente
implicava a noção de que aqueles que não conseguiam
ser admitidos "não tinham aptidão". Os que tentam
ingressar e os que ingressam - os alunos e alunas dos
cursos superiores de música - passam a aceitar isso
pacificamente. Naturalizamos a noção de que o
conhecimento musical legítimo é aquele que se cobra
nos tais testes de aptidão. Por que deve ser assim?

Por que um mestre de capoeira não poderia estudar
música se assim lhe desejasse? Por que um adolescente
roqueiro ou ligado às novas tecnologias de produção e
circulação de música, por que não djs, rappers,
chorões, sambadores, por que não um ogã? Ou seja, por
que todos os indivíduos tem que reduzir tudo o que
sabem a uma única modalidade de fazer-compreender
música?

O fato é que, apesar de todo o já bem desenvolvido
discurso na área de educação acerca da necessidade de
descolonizar o currículo, o fato é que ainda 
julgamos-afirmamos, tacitamente ou não, que apenas
aquele conhecimento em música (ou seja, o da tradição
européia-erudita) é merecedor de estabelecer os
critérios e os parâmetros para admissão de quem quer
que deseje estudar música em nível superior.

Sei dos desafios que tudo isso representa para a
formação superior em música. Mas é justamente isso que
me anima aqui. Seria possível admitir um dj, por
exemplo, com ampla e intensa experiência profissional
e dialogar com ele? Seria possível ensinar e aprender
algo com este dj? Ou será que aquilo que vale para a
formação de instrumentistas (no sentido tradicional do
termo) e, portanto, como critério para admissão de
futuros estudantes de instrumento (ou das chamadas
práticas interpretaitivas - no sentido já estabelecido
pela formação acadêmica em música) deve valer para
todo o campo do conhecimento e formação em música?

Enfim, por que ensinamos o que ensinamos e como
poderemos justificar nossos estreitos critérios de
admissão numa sociedade já extremamente excludente?

Eduardo Luedy


--- Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:

> Caro Damián:
> 
> A SBME (Sociedade Brasileira de Música
> Eletroacústica) está preparando um documento para
> ser enviado ao Reitor da UFAC, Prof. Dr. Jonas
> Pereira de Souza Filho.
> Manifestaremos nossa indignação com o fato de a
> Universidade Federal do Acre ter abolido a prova de
> habilitação em música. Comentaremos as experiências
> bem sucedidas e as consequências boas de tal prova.
> Chamaremos a atenção para os resultados desastrosos,
> em termos de qualidade da formação acadêmica, de um
> curso superior de música que não pratique a seleção
> de vestibulandos de acordo com suas formações
> musicais básicas.
> 
> Quero sugerir a você que insista com a Diretoria da
> Anppom, no sentido de que ela venha a fazer o mesmo,
> enviando carta ao Reitor.
> A seguir destaco alguns itens do Estatuto da Anppom
> de acordo com os quais a Diretoria, eleita
> democraticamente em Assembléia Geral, tem o direito
> e o dever, sem consultas aos associados, de agir
> atendendo seu pedido.
> 
> Artigo 4º - São finalidades e objetivos da Anppom:
> j) Contribuir para a manutenção e desenvolvimento da
> música, em âmbito acadêmico, enquanto área de
> pesquisa e criação científica e artística.
> 
> Parágrafo 2º - Cabe à Diretoria:
> b) Dinamizar e promover as atividades que visem ao
> desempenho do papel social que este Estatuto confere
> à Anppom.
> 
> Artigo 26 - Os casos omissos serão resolvidos pela
> Diretoria.
> 
> Abraço,
> Jorge Antunes
> > ________________________________________________
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