[ANPPOM-L] insinuação do Antunes

Leonardo Fuks cyclophonica em yahoo.com
Sáb Out 6 06:38:53 BRT 2007


Quanto às observações assumidamente pessoais do professor e colega Antunes, 
"com respeito à ingenuidade acadêmica e científica de alguns de nossos pares."
" Essa ingenuidade, essa despolitização, que às vezes chega às raias da mediocridade, tem dado enorme
prejuizo à prática e ao ensino das artes na Universidade brasileira."
"Parece que não se pretende mais formar compositores intelectuais de sólida formação em acústica, psicoacústica e eletroacústica. "

Permitam-me discordar do tom utilizado nas observações,  pois embora possuam o "disclaimer" de serem pessoais, referem-se a assuntos acadêmicos extremamente sensíveis e em seguida qualificam (in)determinados colegas de ingênuos e medíocres. 
Sabemos que o professor titular Antunes não é ingênuo, pois possui muitos anos de experiência nos caminhos de Brasília e tem tido a oportunidade da interlocução  política nos ministérios, empresas estatais e órgãos de fomento. 
Desta maneira, gostaria de sugerir que nos transmitisse  esta experiência  acumulada  nas instituições públicas por meio de artigos,  livros e outras  formas  possíveis. 
Devo dizer que conheço poucos compositores intelectuais de sólida formação em acústica, psicoacústica e eletroacústica, ou em pelo menos duas destas três áreas. Certamente o professor Antunes, com sua formação em física, seria um dos poucos que se enquadrarim nesta categoria no país. 
Quanto à realização de pesquisa nesta área, posso relatar que dois anos após retornar de meu doutorado em acústica musical na Suécia, apresentei projeto de pesquisa ao CNPq. Não apenas o pedido de bolsa foi indeferido, o que seria evidentemente possível e compreensível, como também a comissão formada para avaliá-lo emitiu um parecer inaceitável para alguém minimamente instruído em acústica musical. Certamente alguém com dificuldade em distinguir uma "onda senoidal de uma onda dente-de-serra". 
E, segundo o CNPq informou, o comitê de consultivo de avaliação era formado por membros experts da área de música, sem os listar. 
Neste caso, não bastaria a falta de ingenuidade para lidar com   "cientistas" externos, mas também com colegas músicos que  frequentam estas comissões de avaliação. Lembro que muitos de nós somos cientistas,   ou pelo menos afirmamos ser.

Quanto às outras questões abordadas pelo professor Antunes  sobre o perfil do músico-universitário, das provas de habilitação e do papel da universidade no campo das artes, considero que prestam um serviço à discussão (certamente polêmica) e à elucidação de problemas que nos acometem. 


Leonardo Fuks
PhD em Acústica musical
Escola de Música da UFRJ


Message: 2
Date: Fri, 5 Oct 2007 16:10:00 -0700 (PDT)
From: eduardo luedy <eluedy em yahoo.com>
Subject: Re: [ANPPOM-L] insinuação do Antunes
To: antunes em unb.br, Yo Argentino <musicoyargentino em hotmail.com>,
    anppom-l em iar.unicamp.br
Message-ID: <25021.63081.qm em web36809.mail.mud.yahoo.com>
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Prezados colegas da anppom,

Este debate está muito interessante.
Concordo em quase tudo que foi dito pelo Jorge
Antunes. Também lamento que a crença no "talento", no
"dom inato" ainda se façam tão presentes em nosso meio
acadêmico. Também lamento a despolitização de nossa
área, como se nós músicos da academia vivêssemos
isolados numa estufa - não afetando, nem sendo
afetados pelas políticas mais amplas. Costumamos
conceber o estudo da música como algo a-histórico e
eminentemente técnico-instrumental. No entanto,
preocupa-me a afirmação de que uma "sólida formação em
acústica, psicoacústica e eletroacústica" poderia nos
ajudar a politizar nossa formação. Mais do que
(apenas?) questionar a hegemonia simbólica do sistema
tonal, acho que alguma formação, ainda que panorâmica,
em filosofia, sociologia e mesmo em etnomusicologia,
poderia nos ajudar a compreender melhor os efeitos de
nossos discursos.

Abraços a todos,

Eduardo Luedy

--- Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:

> Querido Damián:
> 
> Não tenho qualquer acusação a fazer. Só conto com a
> observação pessoal com respeito à ingenuidade
> acadêmica e científica de alguns de nossos pares.
> Essa ingenuidade, essa despolitização, que às vezes
> chega às raias da mediocridade, tem dado enorme
> prejuizo à prática e ao ensino das artes na
> Universidade brasileira.
> Então, quando um acadêmico da área de artes toma
> assento em colegiado rodeado de cientistas,
> filósofos, sociólogos, muitas vezes faz intervenções
> risíveis. A saída, então, passa a ser aquela de se
> apregoar que nossa área tem especificidades que os
> da área de ciências não entendem.
> Muitos defendem, inclusive, que o resultado da prova
> de habilitação em música tenha muito peso,
> reivindicando maior diminuição dos pesos, no
> vestibular, das provas de ciências, história e
> línguas. O emburrecimento e a alienação das novas
> gerações, com isso, vem sendo aumentados. Parece que
> não se deseja formar violinistas. O que se quer é
> formar tocadores de violino.
> Parece que não se pretende mais formar compositores
> intelectuais de sólida formação em acústica,
> psicoacústica e eletroacústica. O que se pretende é
> formar arranjadores submissos ao mercado, ao bispo,
> ao papa e ao pastor.
> O formando, observamos, não precisa saber falar bem,
> escrever bem, pensar bem, criticar bem, opinar bem.
> Essas coisas tem ficado ao encargo do pastor e da
> prática no culto. Na Universidade o importante é ele
> saber tocar o que está escrito no pentagrama,
> quietinho, caladinho, sob a batuta de espoliadores e
> autoridades.
> Pretender que se implante um exame de aptidão numa
> Universidade é de um reacionarismo inaceitável.
> Quem usa a palavra "aptidão" tem que ser realmente
> desconsiderado. Ao se defender um "exame de
> aptidão", com essa designação, não se está cometendo
> um equívoco de linguagem. O que está acontecendo é a
> defesa da idéia de que se acredita na existência de
> "talentos" e de "pendores inatos". E que na
> Universidade só deve entrar "quem tem talento".
> Menos mal será defender, pelo menos por enquanto, a
> aplicação de "provas específicas". Essas provas não
> avaliam "talento". Essas provas não avaliam
> "aptidões". Essas provas não avaliam "pendores
> artísticos". Elas avaliam grau de conhecimentos
> teórico-musicais e domínio auditivo do sistema
> tonal. O que, aliás, também é lamentável. O que se
> deseja é o ingresso de bons solfejadores. A maioria
> dos avaliadores busca candidatos que saibam
> reconhecer e distinguir o modo maior do modo menor,
> o timbre do oboé do timbre do violino, o acorde de
> sétima da dominante do acorde de sétima da sensível.
> Mas os avaliadores não acham importante saber
> distinguir uma onda senoidal de uma onda
> dente-de-serra.
> Abraço,
> Jorge Antunes
> 
> PS. Yo Brasileiro.
> 







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