[ANPPOM-L] insinuação do Antunes

SBME . sbme em sbme.com.br
Sáb Out 6 11:31:36 BRT 2007


Caro Fuks:

Não tenho qualquer interlocução com as instituições a que você se refere.
Pelo contrário: tenho é muita distância, muita crítica.
Todos em Brasília e no Brasil sabem que no governo do PSDB eu era
militante do PT, que nos governos do PT fui militante do PSTU e que
desde 2005 sou militante do PSOL. Minha interlocução com os organismos
a que você se refere é feita na rua, em carros de som, em artigos de
jornais, em manifestações de massa.
Mas nunca parei de compor, dar aulas e desenvolver pesquisas. Lamento
que você não conheça minhas canções "Seis Missivas BB", meu artigo de
jornal "Fora Gil", minha ópera "Olga", meu artigo de revista
"Carta-aberta ao prefeito de São Paulo", meu artigo na Folha "Um
Brasil sem orquestras quer orquestrar o mundo", e tantas outras
produções de combate.
Depois de passar décadas elaborando e submetendo projetos, é comum
virmos a ser atendidos um dia. Não se desespere. Os adversários e
inimigos um dia acabam se convencendo da consistência científica e/ou
artística, quando ela existe.
Hoje, tenho consciência disto, sou respeitado até mesmo pelos meus
inimigos e adversários políticos. Insista. Você vai chegar lá.
Respeitabilidade é predicado que se consegue na luta e na coerência.
Isso, sem concessões, sem capitulações, sem invejas dos vencedores,
sem submissão aos donos do poder, sem mutismos e sem covardias.
Essa a fórmula.
Abraço,
Jorge Antunes



Em 06/10/07, Leonardo Fuks<cyclophonica em yahoo.com> escreveu:
>
>
> Quanto às observações assumidamente pessoais do professor e colega Antunes,
> "com respeito à ingenuidade acadêmica e científica de alguns de nossos
> pares."
> " Essa ingenuidade, essa despolitização, que às vezes chega às raias da
> mediocridade, tem dado enorme
> prejuizo à prática e ao ensino das artes na Universidade brasileira."
> "Parece que não se pretende mais formar compositores intelectuais de sólida
> formação em acústica, psicoacústica e eletroacústica. "
>
> Permitam-me discordar do tom utilizado nas observações, pois embora possuam
> o "disclaimer" de serem pessoais, referem-se a assuntos acadêmicos
> extremamente sensíveis e em seguida qualificam (in)determinados colegas de
> ingênuos e medíocres.
> Sabemos que o professor titular Antunes não é ingênuo, pois possui muitos
> anos de experiência nos caminhos de Brasília e tem tido a oportunidade da
> interlocução  política nos ministérios, empresas estatais e órgãos de
> fomento.
> Desta maneira, gostaria de sugerir que nos transmitisse  esta experiência
> acumulada  nas instituições públicas por meio de artigos,  livros e outras
> formas  possíveis.
> Devo dizer que conheço poucos compositores intelectuais de sólida formação
> em acústica, psicoacústica e eletroacústica, ou em pelo menos duas destas
> três áreas. Certamente o professor Antunes, com sua formação em física,
> seria um dos poucos que se enquadrarim nesta categoria no país.
> Quanto à realização de pesquisa nesta área, posso relatar que dois anos após
> retornar de meu doutorado em acústica musical na Suécia, apresentei projeto
> de pesquisa ao CNPq. Não apenas o pedido de bolsa foi indeferido, o que
> seria evidentemente possível e compreensível, como também a comissão formada
> para avaliá-lo emitiu um parecer inaceitável para alguém minimamente
> instruído em acústica musical. Certamente alguém com dificuldade em
> distinguir uma "onda senoidal de uma onda dente-de-serra".
> E, segundo o CNPq informou, o comitê de consultivo de avaliação era formado
> por membros experts da área de música, sem os listar.
> Neste caso, não bastaria a falta de ingenuidade para lidar com  "cientistas"
> externos, mas também com colegas músicos que  frequentam estas comissões de
> avaliação. Lembro que muitos de nós somos cientistas,  ou pelo menos
> afirmamos ser.
>
> Quanto às outras questões abordadas pelo professor Antunes  sobre o perfil
> do músico-universitário, das provas de habilitação e do papel da
> universidade no campo das artes, considero que prestam um serviço à
> discussão (certamente polêmica) e à elucidação de problemas que nos
> acometem.
>
>
> Leonardo Fuks
> PhD em Acústica musical
> Escola de Música da UFRJ
>
>
> Message: 2
> Date: Fri, 5 Oct 2007 16:10:00 -0700 (PDT)
> From: eduardo luedy <eluedy em yahoo.com>
> Subject: Re: [ANPPOM-L] insinuação do Antunes
> To: antunes em unb.br, Yo Argentino <musicoyargentino em hotmail.com>,
>     anppom-l em iar.unicamp.br
> Message-ID: <25021.63081.qm em web36809.mail.mud.yahoo.com>
> Content-Type: text/plain; charset=iso-8859-1
>
> Prezados colegas da anppom,
>
> Este debate está muito interessante.
> Concordo em quase tudo que foi dito pelo Jorge
> Antunes. Também lamento que a crença no "talento", no
> "dom inato" ainda se façam tão presentes em nosso meio
> acadêmico. Também lamento a despolitização de nossa
> área, como se nós músicos da academia vivêssemos
> isolados numa estufa - não afetando, nem sendo
> afetados pelas políticas mais amplas. Costumamos
> conceber o estudo da música como algo a-histórico e
> eminentemente técnico-instrumental. No entanto,
> preocupa-me a afirmação de que uma "sólida formação em
> acústica, psicoacústica e eletroacústica" poderia nos
> ajudar a politizar nossa formação. Mais do que
> (apenas?) questionar a hegemonia simbólica do sistema
> tonal, acho que alguma formação, ainda que panorâmica,
> em filosofia, sociologia e mesmo em etnomusicologia,
> poderia nos ajudar a compreender melhor os efeitos de
> nossos discursos.
>
> Abraços a todos,
>
> Eduardo Luedy
>
> --- Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:
>
> > Querido Damián:
> >
> > Não tenho qualquer acusação a fazer. Só conto com a
> > observação pessoal com respeito à ingenuidade
> > acadêmica e científica de alguns de nossos pares.
> > Essa ingenuidade, essa despolitização, que às vezes
> > chega às raias da mediocridade, tem dado enorme
> > prejuizo à prática e ao ensino das artes na
> > Universidade brasileira.
> > Então, quando um acadêmico da área de artes toma
> > assento em colegiado rodeado de cientistas,
> > filósofos, sociólogos, muitas vezes faz intervenções
> > risíveis. A saída, então, passa a ser aquela de se
> > apregoar que nossa área tem especificidades que os
> > da área de ciências não entendem.
> > Muitos defendem, inclusive, que o resultado da prova
> > de habilitação em música tenha muito peso,
> > reivindicando maior diminuição dos pesos, no
> > vestibular, das provas de ciências, história e
> > línguas. O emburrecimento e a alienação das novas
> > gerações, com isso, vem sendo aumentados. Parece que
> > não se deseja formar violinistas. O que se quer é
> > formar tocadores de violino.
> > Parece que não se pretende mais formar compositores
> > intelectuais de sólida formação em acústica,
> > psicoacústica e eletroacústica. O que se pretende é
> > formar arranjadores submissos ao mercado, ao bispo,
> > ao papa e ao pastor.
> > O formando, observamos, não precisa saber falar bem,
> > escrever bem, pensar bem, criticar bem, opinar bem.
> > Essas coisas tem ficado ao encargo do pastor e da
> > prática no culto. Na Universidade o importante é ele
> > saber tocar o que está escrito no pentagrama,
> > quietinho, caladinho, sob a batuta de espoliadores e
> > autoridades.
> > Pretender que se implante um exame de aptidão numa
> > Universidade é de um reacionarismo inaceitável.
> > Quem usa a palavra "aptidão" tem que ser realmente
> > desconsiderado. Ao se defender um "exame de
> > aptidão", com essa designação, não se está cometendo
> > um equívoco de linguagem. O que está acontecendo é a
> > defesa da idéia de que se acredita na existência de
> > "talentos" e de "pendores inatos". E que na
> > Universidade só deve entrar "quem tem talento".
> > Menos mal será defender, pelo menos por enquanto, a
> > aplicação de "provas específicas". Essas provas não
> > avaliam "talento". Essas provas não avaliam
> > "aptidões". Essas provas não avaliam "pendores
> > artísticos". Elas avaliam grau de conhecimentos
> > teórico-musicais e domínio auditivo do sistema
> > tonal. O que, aliás, também é lamentável. O que se
> > deseja é o ingresso de bons solfejadores. A maioria
> > dos avaliadores busca candidatos que saibam
> > reconhecer e distinguir o modo maior do modo menor,
> > o timbre do oboé do timbre do violino, o acorde de
> > sétima da dominante do acorde de sétima da sensível.
> > Mas os avaliadores não acham importante saber
> > distinguir uma onda senoidal de uma onda
> > dente-de-serra.
> > Abraço,
> > Jorge Antunes
> >
> > PS. Yo Brasileiro.
> >
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